Pululam hoje em dia livros, revistas, filmes e videogames cuja ambientação, e às vezes o tema, são de preferência tenebrosos e lúgubres, quando não explicitamente diabólicos, excitando a curiosidade e atraindo as pessoas para um além tétrico. Em contraposição, não faltam livros religiosos que tratam do outro mundo sob o ponto de vista católico, fazendo descrições vivas das penas do inferno e do purgatório, a fim de despertar nas almas o santo temor de Deus e acender nelas o desejo de uma vida virtuosa.
Mas, e o céu?
“É mais fácil fazer falar do inferno, que do céu”, dizia Dr. Plinio, explicando o motivo pelo qual escasseiam as tentativas de representar razoavelmente a habitação dos bem-aventurados. De fato, a visão beatífica (a contemplação direta de Deus, “face a face”) é algo de indizível, como afirma São Paulo, ao contar ter sido “arrebatado ao paraíso”, onde “ouviu palavras inefáveis, que não é permitido a um homem repetir” (2Cor 12,2-4). E quanto ao chamado céu empíreo, um lugar físico reservado para os eleitos, a dificuldade não é menor.
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Fomos criados para o céu, e a vida nesta terra só encontra sentido e nos satisfaz se tivermos em vista nosso fim último. “Que as nossas mentes estejam sempre desejosas das coisas do céu, nós Vos rogamos, Senhor, ouvi-nos”, é a súplica da Ladainha de Todos os Santos.
O Papa João Paulo II nos recorda esta verdade, afirmando: “A vida cristã é, em suma, um crescimento rumo ao mistério da Páscoa eterna. Ela exige, portanto, que tenhamos fixo o olhar na direção da meta, das realidades últimas, mas ao mesmo tempo que nos empenhemos nas realidades ‘penúltimas’: entre estas e a meta escatológica não há oposição, mas ao contrário uma relação de fecundação mútua. […] Esta luz de eternidade ilumina a vida e a inteira história do homem sobre a terra” (Audiência, 11/8/1999).
Depreende-se desse ensinamento uma conseqüência clara no campo da evangelização: é tarefa urgente e crucial despertar nos fiéis um ardente desejo do céu. Partidário dessa opinião, Dr. Plinio salientava, porém, a necessidade de falar não apenas à razão dos homens, mas também à imaginação e ao sentimento, caso se queira motivá-los em qualquer direção. Do contrário, o objetivo proposto não os atrai. No tocante ao céu, há o obstáculo de descrever o indescritível. Como vencê-lo? Esta foi uma questão a respeito da qual Dr. Plinio muito refletiu, havendo observado que a inapetência por um céu puramente espiritual era um problema típico do católico moderno.
Existe ou não o céu empíreo, material? Como apresentá-lo? E a visão beatífica, como transmitir uma idéia dela de modo a falar também aos sentimentos? São perguntas às quais Dr. Plinio procurou responder, consultando escritos dos Padres da Igreja e de teólogos conceituados, como São Tomás de Aquino, São Boaventura e o padre Garrigou Lagrange, O.P. Quem mais lhe chamou a atenção foi “o grande Cornélio”, como ele se referia ao jesuíta flamengo Cornélio a Lápide, professor de exegese em Lovaina e em Roma no século XVII, que deixou para a posteridade uma obra monumental.
Na presente edição, oferecemos ao leitor algumas considerações de Dr. Plinio a respeito desse fascinante tema, de suprema importância para todos nós.