“Quando eu era professor na Faculdade Sedes Sapientiae” — contou certa vez Dr. Plinio —, “terminadas as aulas, ia até a capela para fazer uma oração diante do Santíssimo Sacramento. Uma tarde, a luz do sol entrava aos borbotões pelos vitrais. Num movimento irrefletido, deitei os olhos em sua direção, e encontrei estes dizeres, nos quais ainda não havia reparado: ‘Etiam si ambulavero in umbra mortis, non timebo mala’ — ‘ainda que eu caminhe nas sombras da morte, não temerei os males’. Eu estava exatamente passando por uma aguda provação, e recebia assim um estímulo à confiança: ‘Confie, porque, ainda que você esteja morto, Nossa Senhora o ajudará!’ Equivale a dizer: ‘Ainda que você pareça completamente derrotado, a vitória será sua’.”
Ao se completarem 7 anos do falecimento de Dr. Plinio, um dos traços de sua espiritualidade que mais reluzem ante nossos olhos é precisamente a confiança sem limites na Providência. Ainda mais se considerarmos que, essa virtude, Deus a quis de uma pureza excelsa na alma desse varão.
Em sua insondável sabedoria, Nossa Senhora inspirou a Dr. Plinio a convicção de ver realizadas as promessas feitas por Ela em Fátima, quer dizer, os grandes acontecimentos que culminariam em incontáveis conversões, inaugurando-se o Reinado do Imaculado Coração de Maria sobre as almas. E quis dele uma longa caminhada, sempre com as vistas postas nessa luz, mas sem nunca a alcançar.
Com o passar dos anos, atingindo a ancianidade, começou ele a perceber que suas energias físicas diminuíam. Um dia, sintomas do que poderia ser uma grave enfermidade começaram, lenta e progressivamente, a se manifestar. “Será já o fim?” — parece ter sido seu pensamento. “Não haverá uma volta atrás? Não parece. Entretanto, meus olhos não viram aquilo que minha infância prometia, que na minha puerícia eu contemplava. Nossa Senhora infundiu-me na alma uma certeza de que, da poeira deste mundo decadente, nasceria o mais belo reino da História. Todavia, minhas forças fogem… Mas eu confio”. E assim, até o último alento, foi ele para nós um modelo de esperança.
Tudo isto teria sido em vão?
Certa feita, quando Dr. Plinio acabava de completar 78 anos, alguns jovens lhe perguntaram sobre essa admirável confiança. Ele respondeu:
“Trilhar o tempo inteiro a minha via, com o risco de que os meus olhos se cerrem antes de ter chegado ao fim… é uma provação! Mas não resta dúvida de que esta provação faz bem à alma.
“Essa situação, eu nunca a deixei de lhes mostrar com clareza. Não é correto embarcarmos juntos numa travessia, sem que cada passageiro esteja bem ciente do que pode ocorrer. Tenho o empenho de formá-los, permitindo-lhes um ponto de partida para reflexões pessoais sobre isso, de modo que possam tomar suas responsabilidades.
“Desse modo, multiplico as condições de nossa nau navegar. Os que estão aqui são muito moços, talvez não tenham refletido sobre isso. Mas, se eu não lhes expusesse a situação de modo claro, poderia acontecer de alguém ser assaltado por um pensamento de dúvida: ‘Dr. Plinio fez 78 anos. É uma festa, mas é um acréscimo de perigo. Se esse homem morrer, o que será de nós?!’
“Não tenham dúvida, eu enfrento a hipótese! Espero ir para o Céu; e, indo para o Céu, espero que as minhas orações possam fazer mais do que minha ação aqui na terra. Assim, os senhores estariam em condições de enfrentar, com maiores graças, um futuro mais incerto!”