jueves, noviembre 21, 2024

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Lourdes e a mediação universal de Maria

Em 11 de fevereiro comemora-se a festa de Nossa Senhora de Lourdes, recordando a primeira aparição de Maria à camponesa Bernadete Soubirous. Aberta nas montanhas dos Pireneus, a Gruta de Massabielle tornou-se lugar de predileção do sobrenatural, onde uma impressionante sucessão de milagres tem beneficiado, não apenas os corpos, mas sobretudo as almas. Para Dr. Plinio, tais prodígios, alcançados a rogos da Santíssima Virgem, constituem espetacular confirmação da vontade divina de nos conceder todas as graças pela mediação da onipotência suplicante de Maria.

Dentre os muitos aspectos da devoção a Nossa Senhora de Lourdes, um há que me parece insuficientemente acentuado, e sobre o qual gostaria de fazer incidir os presentes comentários.

Fotos: G. Raymundo / V. Domingues

Rainha e Medianeira

Para se compreender o Reino de Maria, cumpre ter em mente essa verdade fundamental: por vontade de Deus, Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Porque, para ser autenticamente Rainha, deve Ela conseguir do Rei (isto é, de seu divino Filho) tudo quanto quer e dessa forma governar o mundo.

Por sua natureza humana, Maria não detém mais poder do que os seus semelhantes. Assim, para reinar sobre o universo inteiro — anjos, santos, homens, todo o mundo material, etc. — Ela precisa possuir a graça de Deus. E como ponto de convergência de todos os favores celestes, Maria Santíssima é Rainha. Vale recordar que a intercessão de Nossa Senhora foi chamada, adequadamente, de onipotência suplicante, pois é por meio da súplica que Ela tudo pode junto ao Todo-Poderoso.

Portanto, a realeza da Virgem se acha em íntima conexão com o fato de Ela ser o canal de todas as graças. As dádivas divinas nos são concedidas pelas mãos de Nossa Senhora, e por seu intermédio são apresentados ao Altíssimo os pedidos feitos pelos homens. É geralmente aceita pelos teólogos a sentença segundo a qual, se todos os anjos e santos do Céu rogarem algo a Deus sem a mediação de Nossa Senhora, dificilmente lograrão êxito; enquanto que Ela, pedindo sozinha, tudo alcança. Por onde se compreende como o foco da predileção divina se concentrou em Nossa Senhora e através d’Ela se esparge sobre o conjunto da criação.

A mediação universal corroborada em Lourdes

As aparições de Lourdes se inserem numa série de outras célebres manifestações de Maria Santíssima a partir do século XIX, as quais culminariam com as revelações de Fátima, no início do século XX. Poder-se-ia dizer que, na noite cada vez mais profunda na qual a civilização contemporânea se vai deixando soçobrar, tais aparições formam um pontilhado de luzes anunciando a vinda do Reino de Maria. E creio ser de grande interesse analisar, em cada uma dessas visões, a presença das idéias da mediação universal e do reinado de Nossa Senhora.

Para demonstrar a necessidade da mediação universal de Maria Santíssima, quis Nosso Senhor que a maior fonte de milagres conhecida na História jorrasse num Santuário dedicado à sua Mãe

Fotos: G. Raymundo / V. Domingues
Vista da parte frontal do Santuário de Lourdes

Em Lourdes, tais noções se verificam patentes, considerando que Nosso Senhor Jesus Cristo poderia ter proporcionado essa estupenda fecundidade de milagres em algum santuário a Ele dedicado. Na própria França, onde se encontra a Gruta de Massabielle, ergue-se a magnífica basílica de Paray-le-Monial, votada ao Sagrado Coração, pois ali o Redentor fez suas revelações a Santa Margarida Maria Alacoque. Ora, Jesus poderia dispor que aqueles prodígios de curas e conversões ocorressem nesse lugar ou em outros santuários erigidos em sua honra.

Porém, quis o Salvador que a maior fonte de milagres conhecida na história da Igreja e do mundo brotasse num local consagrado a Nossa Senhora. Ou seja, que aquelas curas espetaculares fossem obtidas sob a égide da Santíssima Virgem, mediante súplicas a Ela impetradas.

Assim agindo, Nosso Senhor parece desejar comprovar a verdade de fé da mediação universal de Maria, dando aos homens claras razões para compreenderem que sua Mãe tudo pode. Pelos rogos da Virgem são debelados os maiores males, as piores doenças, os sofrimentos mais horrorosos. Ela consegue suspender as leis mais inflexíveis da natureza, vence qualquer obstáculo, e logra, por exemplo, que um cego de nascença, sem nervo ótico, adquira visão!

Maior glória, abaixo do esplendor divino

Essa é a onipotência suplicante, o poder da Soberana, medianeira de todas as graças.

As multidões que acorrem a Lourdes recebem de Nossa Senhora, mais do que a cura do corpo, a saúde para a alma, inestimável benefício em vista de nossa salvação eterna

Fotos: G. Raymundo / V. Domingues

Fotos: G. Raymundo / V. Domingues
Cenas da tocante procissão das velas, em Lourdes

Recordo-me, a esse propósito, de uma piedosa canção entoada no meu tempo de moço, a qual dizia:

Salve, ó Mãe! Salve, ó Virgem Santíssima!

Do universo portento primor.

Mais esplêndida glória que a tua,

Só tem Deus do universo Senhor!

Com efeito, a conclusão de quanto acima consideramos, é esta: mais esplêndida glória que a de Maria, só possui Deus, Senhor de todo o universo. Nossa Senhora se acha infinitamente abaixo do Criador, mas quão incomensuravelmente acima de todas as outras criaturas!

Milagres físicos para fazer bem às almas

Pessoas existem que se impressionam com os milagres de Lourdes, e entretanto pedem à Santíssima Virgem apenas favores materiais, esquecendo-se dos espirituais e mais importantes. Não compreendem que os dons temporais, dos quais necessitamos, devem nos induzir a desejar os que aproveitam à nossa salvação eterna. Aliás, é por essa forma que verdadeiramente Deus atrai as almas para Si, pois todos os dons concedidos por Ele têm o objetivo maior de beneficiar o espírito humano.

Assim, não se deve pensar, por exemplo, que Nossa Senhora curará um homem capenga (no sentido físico1 da palavra), movida apenas pelo sentimento de pena para com a sua deficiência. Claro, tem Ela compaixão do aleijado, se compraz em corrigir seu defeito. Porém, mais do que isto, a Virgem se serve de um milagre físico para fazer bem à alma do enfermo e às dos que presenciam ou têm conhecimento do prodígio.

Tal benefício consiste, sobretudo, em infundir nos corações uma imensa fé na verdade de que Ela é a Medianeira universal de todas as graças.

1) Com freqüência e de modo bondoso, Dr. Plinio empregava a palavra “capenga” no sentido metafórico, a fim de indicar certas debilidades de alma manifestadas por filhos das gerações que o sucederam. Estes apresentavam deficiências espirituais análogas às de um coxo. E assim como o capenga de corpo precisa de uma muleta para caminhar, o de alma, por ser inseguro, inconstante, volúvel, necessita sempre de especial apoio para progredir na vida espiritual.

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