Nos tópicos hoje reproduzidos, Dr. Plinio demonstra como as aparentes e superficiais desuniões nas forças da Revolução iludem a muitos, levando-os a acreditar numa divisão autêntica e profunda, quando na realidade aquelas estarão sempre coesas na sua investida contra a Igreja, minada pelos que a combatem dentro de seus próprios muros.
Como o processo revolucionário, de marcha lenta, avança através das gerações?
“Um ‘semi-contra-revolucionário’ muito infenso aos paroxismos da Revolução tem um filho menos contrário a estes, um neto indiferente e um bisneto plenamente integrado no fluxo revolucionário.
“A razão deste fato, como dissemos, está em que certas famílias têm em sua mentalidade, em seu subconsciente, em seus modos de sentir, um resíduo de hábitos e fermentos contra-revolucionários que as mantém ligadas, em parte, à ordem. A corrupção revolucionária nelas não é tão dinâmica e, por isto mesmo, o erro só pode progredir em seu espírito passo a passo e como que se disfarçando” (pp. 121-122).
Adaptações progressivas à Revolução
Por que muitas pessoas vão aceitando, aos poucos, a Revolução no transcorrer de sua vida?
“A mesma lentidão de ritmo [do processo revolucionário] explica como muitas pessoas mudam enormemente de opinião no decurso da vida. Quando são adolescentes têm, por exemplo, a respeito de modas indecentes uma opinião severa, consoante o ambiente em que vivem. Mais tarde, com o ‘evoluir’ dos costumes num sentido cada vez mais relaxado, essas pessoas se vão adaptando às sucessivas modas. E no fim da vida aplaudem trajes que em sua juventude teriam reprovado fortemente.
“Chegaram a essa posição porque foram caminhando lenta e imperceptivelmente através das etapas matizadas da Revolução. Não tiveram a perspicácia e a energia necessárias para perceberem para onde estava sendo conduzida a Revolução que se fazia nelas e em torno delas. E, gradualmente, acabaram chegando talvez tão longe quanto um revolucionário da idade delas que na adolescência tivesse adotado a primeira velocidade” (p. 122).
Espantosa união de forças contra a Igreja
Por que a Revolução geralmente caminha passo a passo?
Em muitas almas que se deixam levar lentamente pela Revolução, “a verdade e o bem existem (…) num estado de derrota, mas não tão derrotados que, diante de um grave erro e um grave mal, não possam ter um sobressalto às vezes vitorioso e salvador que as faça perceber o fundo perverso da Revolução e as leve a uma atitude categórica e sistemática contra todas as manifestações desta.
“É para evitar esses sadios sobressaltos de alma e essas cristalizações contra-revolucionárias, que a Revolução anda passo a passo” (pp. 122-123).
As forças da Revolução estão divididas conta si mesmas?
“Tais ‘coagulações’ e cristalizações conduzem normalmente ao entrechoque das forças da Revolução. Considerando-o, dir-se-ia que as potências do mal estão divididas contra si mesmas, e que é falsa nossa concepção unitária do processo revolucionário. Ilusão. Por um instinto profundo, que mostra que são harmônicas em seus elementos essenciais, e contraditórias apenas em seus acidentes, têm essas forças uma espantosa capacidade de se unir contra a Igreja Católica, sempre que se encontrem em face d’Ela.
“Estéreis nos elementos bons que lhes restem, as forças revolucionárias só são realmente eficientes para o mal. E assim, cada qual ataca de seu lado a Igreja, que fica como uma cidade sitiada por um imenso exército” (pp. 53-54).
Mil vezes mais perigosos que os inimigos declarados
O que pensar dos católicos dominados pelo espírito revolucionário?
“Entre essas forças da Revolução, cumpre não omitir os católicos que professam a doutrina da Igreja, mas estão dominados pelo espírito revolucionário. Mil vezes mais perigosos que os inimigos declarados, combatem a Cidade Santa dentro de seus próprios muros” (p. 54).
Pode-se aplicar a tais católicos alguma declaração papal?
“Bem merecem o que deles disse Pio IX: ‘Embora os filhos do século sejam mais hábeis que os filhos da luz, seus ardis e suas violências teriam, sem dúvida, menor êxito se um grande número, entre aqueles que se intitulam católicos, não lhes estendesse mão amiga. Sim, infelizmente, há os que parecem querer caminhar de acordo com nossos inimigos e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas, um acordo entre a justiça e a iniqüidade por meio dessas doutrinas que se chamam católico-liberais, as quais, apoiando-se sobre os mais perniciosos princípios, adulam o poder civil quando ele invade as coisas espirituais, e impulsionam as almas ao respeito, ou ao menos à tolerância das leis mais iníquas. Como se absolutamente não estivesse escrito que ninguém pode servir a dois senhores.
“‘São eles muito mais perigosos certamente e mais funestos do que os inimigos declarados, não só porque lhes secundam os esforços, talvez sem o perceberem, como também porque, mantendo opiniões condenadas mas dentro de certos limites, tomam uma aparência de integridade e de doutrina irrepreensível, aliciando os imprudentes amigos de conciliações e enganando as pessoas honestas, que se revoltariam contra um erro declarado.
“‘Por isso, eles dividem os espíritos, rasgam a unidade e enfraquecem as forças que seria necessário reunir contra o inimigo’1” (pp. 54-55).
1) Carta ao Presidente e membros do Círculo Santo Ambrósio, de Milão, de 6/3/1873.
Errata: No número de março, página 16, onde se lê: “Eles colaboraram para a Revolução” – leia-se: “Eles colaboraram indireta, mas possantemente, para a Revolução”.