Dr. Plinio por volta de 1945

No dia 16 de julho de 1945, pelas mãos de seu Pastor, a Arquidiocese de São Paulo foi oficialmente consagrada ao Imaculado Coração de Maria. Já renomado líder católico e grande propugnador da devoção a Nossa Senhora, Dr. Plinio, ao considerar esse augusto acontecimento, assim se exprimiu nas páginas do Legionário:

Quando uma Arquidiocese se consagra a Nossa Senhora, ou mais especialmente a seu Imaculado Coração, seu ato pressupõe várias disposições internas, das quais queremos focalizar: 1) renúncia formal a tudo quanto a incompatibilizava com a Virgem Santíssima, isto é, a todos os pecados, a todas as heresias, a todo o desleixo na prática da Religião; 2) propósito de honrar, servir, glorificar de modo muito especial a Nossa Senhora; 3) e súplica que ela aceite essas disposições, e cubra com sua especial assistência a pessoa que assim a ela se consagra.

Na consagração pomos, pois, um propósito negativo: nada fazer contra Aquela a Quem nos consagramos. Um propósito positivo: fazer tudo por Ela. E uma súplica: que Ela aceite essa oferenda e por sua vez nos cubra com sua especial tutela.

Ora, nada disto é simbólico. Quando seriamente pensado, querido, executado, é de uma realidade e de uma gravidade transcendentais. E nem estas coisas podem ser feitas sem maturidade e ponderação: pois que fazê-las levianamente seria, ao pé da letra, tomar em vão o Santo Nome de Deus.

Com efeito, aparecendo aos Pastores de Fátima, a Virgem Santíssima prometeu as maiores graças, como fruto da consagração a seu Imaculado Coração. Inútil insistir sobre a importância de uma promessa d’Aquela a Quem a Igreja chama “Virgo Fidelis”. Em rigor, porém, por mais confortadora que essa promessa seja, ela não é indispensável. Nossa Senhora é Mãe. Qual a mãe zelosa que ouviria distraidamente, negligentemente as carícias de seus filhos? Qual a Mãe que diante de sua família, toda reunida para lhe tributar homenagem, houvesse de desviar indiferente o pensamento, e houvesse de retribuir com a máxima frieza interior, a todo o carinho de que estivesse sendo objeto? Tendo diante de si uma Arquidiocese inteira, Maria Santíssima haveria de se mostrar indiferente a essa consagração? Haveria de fechar os olhos a nossos propósitos e recusar nossa súplica?

Evidentemente, jamais. E por mais profunda que fosse a excelência de disposições do melhor e do mais santo dos povos em se consagrar a Maria Santíssima, ainda muito mais profunda é a sua deliberação em aceitar e corresponder à nossa consagração.

De onde se deduz, tudo bem pesado, que o fruto da consagração é o estabelecimento de um vínculo real e especial entre o Coração de Maria e nós, e que esse vínculo, pondo-nos em posição privilegiada perante a Rainha do Céu, influirá de modo feliz em toda a economia espiritual do Arcebispado.