domingo, noviembre 24, 2024

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Setembro de 1943 – Elogio à pobreza edificante de um Pastor

Após a morte do Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar, tragicamente falecido num desastre de avião em 27 de agosto de 1943, vieram a lume as disposições testamentárias por ele deixadas, as quais revelaram uma admirável manifestação de desapego e pobreza, assim enaltecida por Dr. Plinio nas páginas do Legionário:

O pequeno e grande testamento deixado por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva não pode passar sem um registro e um comentário. Ele servirá para que, nesse exemplo de desprendimento e austeridade do Bispo, se edifiquem os fiéis e seja mais um título para admirarem a Igreja, os que têm a desdita de viver fora do aprisco do Bom Pastor.

Quando, na Idade Média, a Civilização Cristã ameaçava desviar-se dos seus rumos pelo exagerado apego dos homens ao dinheiro e aos prazeres que pelo dinheiro se obtém, a Divina Providência suscitou São Francisco de Assis e as gloriosas famílias religiosas que fundou para escandalizarem santamente o mundo pelo exemplo impressionante de uma pobreza intransigente e uma invariável mortificação. O exemplo valeu, e arrastou atrás de si multidões inteiras. A Europa se regenerou ao calor da mortificação franciscana, deslumbrada pela indigência do Poverello muito mais do que se deslumbrariam pagãos ante os tesouros do mais rico dos potentados orientais. E a experiência demonstrou mais uma vez que o melhor meio de abater qualquer vício consiste em lhe opor o exemplo completo e intransigente da virtude contrária. Neste nosso século argentário, em que o vulto das posses de cada um parece ser o único padrão pelo qual se medem todos os valores humanos, o exemplo de desprendimento e pobreza, dado invariavelmente pelos Bispos da Santa Igreja de Deus, agora repetido de modo tão singelo, tão lacônico, tão despretensioso por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, tem um perfume evangélico que não se pode perder. É preciso que esta pobreza voluntária seja registrada e comentada. Desperdiçar esta ocasião é desperdiçar um dom de Deus, Autor de todo bem. (…)

Era uma expressão daquele desprendimento que Dom José professara praticar entrando na Ordem Terceira de São Francisco, da qual era membro ilustre. Numa época de tão geral apego a todas as coisas terrenas, parece-nos bem importante frisar este exemplo. Vendo Dom José cercado do decoro habitual que a magnitude das funções arquiepiscopais exige absolutamente, serão poucos os que o possam ter conhecido debaixo deste ponto de vista.

Dom José deixa, pois, atrás de si um sóbrio exemplo de desprendimento. Seu testamento o proclama de modo iniludível, e, em luminosa continuidade com os recentes exemplos de Dom ­Duarte e Dom Leme, edifica todos os fiéis (‘Legionário’ nº 578, setembro de 1943).

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