Entre os dias 4 e 7 de setembro de 1942 o centro da capital paulista tornou-se um imenso santuário a céu aberto, em cujo altar expunha-se o Santíssimo Sacramento para a adoração das centenas de milhares de fiéis que ali se reuniram, vindos de todo o Brasil e também do exterior, para participar do IV Congresso Eucarístico Nacional.
Como chave de ouro desse evento que marcou a história religiosa de nosso país, o Papa Pio XII dirigiria — através do rádio — a palavra à multidão congregada aos pés do Deus Sacramentado.
E a voz do Pontífice se fez ouvir. Emocionou e dilatou os corações de todos os presentes, como eco imortal da voz do Divino Mestre. Dias depois, Dr. Plinio assim descreveria esse inolvidável momento:
É curioso como, nas coisas de Deus, as circunstâncias as mais adversas podem redundar para a sua maior glória! Certamente, os organizadores do Congresso, empenhando-se como de fato se empenharam, para que a palavra augusta do Sumo Pontífice fosse ouvida com a máxima nitidez por seus filhos brasileiros, não imaginaram que, a despeito de toda a boa vontade com que a irradiação foi secundada, quer aqui quer no Vaticano, a palavra do Papa não seria ouvida distintamente, e, nisso mesmo, houvesse uma nota muito particular do Congresso a registrar.
Terminado o soleníssimo Pontifical, todas as autoridades eclesiásticas, civis e militares e a imensa mole de povo ficaram no vale do Anhangabaú, à espera da palavra do Papa, que, entretanto, se fez esperar um pouco. A expectativa aumentava, à medida que ia correndo o tempo. Não era a expectativa impaciente de quem deseja chegar logo ao último número do programa, para voltar ao conforto do lar, mas a expectativa afetuosa e feliz de uma grande família que se sente contente por estar reunida, e espera com afetuosa solicitude a palavra do Pai. Por isto, foi intensa a emoção quando a saudação “Louvado seja Jesus Cristo” anunciou que o Santo Padre ia começar a falar.
Infelizmente, as condições atmosféricas não permitiram uma irradiação clara. Por isto, se bem que o Santo Padre falasse em nosso idioma, para a grande maioria das pessoas tornou-se dificílimo entender o que dizia. Mas precisamente aí esteve uma das mais belas notas do Congresso. Não se ouvia a palavra do Papa, mas entendia-se nítida, a voz paternal e amavelmente grave do Sumo Pontífice. Tanto bastou para que aquelas centenas de milhares de pessoas se conservassem em um silêncio verdadeiramente impressionante, para recolher no coração, afetuosamente, meticulosamente, uma a uma todas as vibrações daquela voz que vinha da Roma Eterna, e era um eco fiel da própria voz do Divino Mestre. Foram longos e deleitosos minutos de um recolhimento empolgante. O mais eloqüente dos oradores, o que melhor se fizesse ouvir e compreender pelas massas, não poderia lograr, nem silêncio maior, nem atenção tão grande. Na imensa praça do Congresso, todos rezavam, meditavam ou se recolhiam enquanto o Papa falava. E quando, finalmente, Sua Santidade anunciou a bênção apostólica, foi um espetáculo emocionante ver-se todo aquele povo, tendo à testa as autoridades eclesiásticas, civis e militares, ajoelhar-se instantaneamente, para receber com fundo respeito a bênção do Pontífice.
Seria impossível uma mais eloqüente manifestação de fé, fé viva e profunda, no Primado de São Pedro e na Infalibilidade do Papa, do que a que deu o povo, nesta grande e gloriosa solenidade.
(Extraído do “Legionário” nº 529, de 27/9/1942)