jueves, noviembre 21, 2024

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Outubro de 1957 – Visita ao povo cearense

Há 50 anos, no início de outubro de 1957, a convite da Reitoria da Universidade Federal do Ceará, Dr. Plinio pronunciou três conferências, diante de auditórios que acompanhavam suas exposições “com olhares inteligentes e perspicazes, à espera de algo mordente e moderno”, conforme ele mesmo recordaria anos depois. Solicitado a externar suas impressões do povo que o acolheu com intensa simpatia, Dr. Plinio assim os atendeu:

Sou grato à Universidade do Ceará, ao Prof. Martins Filho, Magnífico Reitor, e ao Prof. Andrade Furtado, Diretor da Faculdade de Direito, pelo convite que me endereçaram e em razão do qual me encontro nesta cidade. Devo confessar: em Fortaleza tenho recebido uma verdadeira multidão de impressões novas, que para o meu coração de brasileiro são das mais alentadoras. Conhecendo cearenses por todos os pontos do território nacional por onde tenho estado, já tinha muito desejo de conhecer a matriz do espírito cearense, que é esta bela terra de Fortaleza e este belo Ceará onde me encontro. Queria conhecer como que na sua fonte a nascente deste espírito de empreendimento e combatividade, de iniciativa e de inteligência lúcida e arrojada, que, por todos os lados, tenho admirado no Brasil (…).

O que mais me chamou a atenção foi, de um lado, o caráter polimórfico do talento cearense e, de outro lado, a extensão deste talento por todas as camadas da população.

Lembro-me de que, visitando a cidade de Paris, alguns anos atrás, um amigo brasileiro, dos mais perspicazes com que tenho viajado, me chamava a atenção para o fato de que, embora em todos os povos haja pessoas mais ou menos inteligentes, era extremamente difícil encontrar pelas ruas ou pelos logradouros públicos de Paris uma pessoa que tivesse uma fisionomia positivamente ininteligente.

Ora, a mesma observação, literalmente, se poderia fazer de Fortaleza. Tenho examinado tipos populares, tenho olhado especialmente para as pessoas das camadas onde a instrução é menos desenvolvida e, em todos, noto uma chama de olhar, um fogo interior de animação, de vida, de espírito de crítica, de jovialidade que faz com que cada cearense tenha uma personalidade inteiramente individualizada e destacadíssima, e cuide de seu destino pessoal com uma espécie de originalidade de métodos e de pensamentos que caracteriza a verdadeira inteligência.

Se por inteligência não se deve apenas entender o espírito de raison raisonante, mas toda luz interior que dá ao homem clareza maior a respeito da realidade objetiva, devemos dizer que os cearenses realmente apresentam um índice de inteligência extraordinário. Mas inteligência que tem a seu serviço um vigor de ação, um misto de arrojo e de prudência, de doçura e de [força], de cordura e de exaltação que fazem da alma cearense um dos fenômenos mais curiosos para serem analisados dentro da vida psíquica brasileira.

Como é natural, percebe-se que todo este florescimento de espírito se concentra e tende a ganhar a plenitude de sua intensidade na Universidade do Ceará. (…) Aberta a todos os sopros do espírito e recebendo avidamente as influências de todos os quadrantes, não só do Brasil, mas também do mundo, [ela] está caminhando cada vez mais para a realização desta missão importantíssima da qual tem tão lúcida compreensão e que consiste em colocar ao alcance deste povo excepcionalmente inteligente os valores culturais do passado e do presente, para que ele, por sua vez, os elabore e os transforme num patrimônio da alma cearense.

O corpo docente da Universidade, com cujos elementos de destaque tive a fortuna de ter contato pessoal, o corpo discente, que seguiu a minha conferência com uma atenção e uma vivacidade que me surpreenderam, deixaram em mim uma recordação imperecível. Aproveito a ocasião para registrar, como brasileiro e como professor universitário, toda a minha admiração, toda a minha simpatia e todas as minhas esperanças na Universidade do Ceará.

(“A Universidade do Ceará na opinião de autoridades e escritores”, Imprensa Universitária do Ceará, 3 de outubro de 1957)

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