Ao discursar no Congresso da Ordem Terceira do Carmo, em novembro de 1958, salientou Dr. Plinio a importância da consagração do carmelita a Nossa Senhora, como sendo o aspecto fundamental de sua vida religiosa. Consagração cujos efeitos espirituais deveriam crescer ao longo da existência de cada um, de modo a influenciar os ambientes da sociedade temporal nos quais aqueles se moviam. E concluía:
A consagração a Nossa Senhora consiste em o homem dar-se a Ela. E, já que ele pode realizar em si, de algum modo, as virtudes que n’Ela refulgem, dar-se à Mãe de Deus é para o homem procurar imitá-La e também servi-La. O conhecimento de Nossa Senhora, a admiração por Nossa Senhora, a imitação e o serviço de Nossa Senhora são os elementos integrantes desta completa consagração a Ela que nós queremos verdadeiramente realizar.
Mas daí passamos a uma pergunta: qual a influência exercida pelas condições peculiares à vida no século, no modo de vivermos nossa consagração?
A vida no século deve ser tal que os mesmos princípios de beleza universal que revertem, em última análise, em princípios de moralidade e santidade universal, reflitam-se não só nas almas, mas em tudo aquilo que cerca o homem.
Por uma misteriosa afinidade, as formas, os sons, as cores, os perfumes podem exprimir estados de espírito do homem. É necessário, pois, que reflitam estados de espírito virtuosos para a formação dos ambientes em que o homem encontre os recursos necessários para a sua santificação, imagens de Deus que lhe dêem o atrativo da virtude e o estimulem, por essa forma, a conhecer e a ter apetência daquela beleza incriada de Deus, que ele só verá face a face na glória dos Céus.
Organizar uma ordem temporal que assim forme as almas e as convide para o Céu, eis uma alta missão dos leigos vivendo no século. Claro está que tal ordem temporal teria uma consonância profunda com a Revelação, os ensinamentos e as leis da Igreja, bem como com os ditames da verdadeira ciência. Ela seria, pois, o reinado de Jesus Cristo, o reinado de Maria na Terra.
A esta altura podemos nos perguntar a nós mesmos: então, no nosso século, em que consiste o serviço de Nossa Senhora?
Consiste em salvar as almas, por todos os meios lícitos dentre os quais queremos acentuar este: tomar todas as coisas, ordená-las dentro desse espírito e construir a cultura e a civilização cristã. Pois que uma e outra, sob certo aspecto, não são senão a disposição das coisas de maneira que elas sejam nesta vida o reflexo de Deus e orientem as almas para a vida eterna. Estar consagrado a Nossa Senhora e servi-La é sustentar, é promover e defender contra os seus adversários, a cultura e a civilização comparáveis àquela pérola preciosa que o homem deve procurar vendendo todas as coisas que tenha: cultura e civilização que são aquela paz na Terra prometida aos homens de boa vontade pelos Anjos de Belém, a única paz de Cristo no reinado de Maria.
Assim, é não só um homem profundamente interior, mas soldado nato da cultura e da civilização cristã, todo verdadeiro terceiro carmelita que compreenda o que é a sua consagração.
(Extraído do “Mensageiro do Carmelo” nº especial, 1959)