Em abril de 1944 a II Guerra Mundial caminhava para seu fim. O conflito se prolongaria por mais um ano, acabrunhando a humanidade com imensas dores físicas e morais. Nas páginas do “Legionário”, Dr. Plinio exaltava, de um lado, a atitude do Papa Pio XII que procurava suavizar, com todos os meios possíveis, tais sofrimentos. De outro, louvava o gesto do povo católico que, em retribuição, dos quatro cantos da Terra dirigia ao Vigário de Cristo suas manifestações de afeto e solidariedade.
Não obstante o inexplicável silêncio das agências telegráficas sobre essa obra magnífica da Santa Sé, os católicos sabem que o Sumo Pontífice, pela oração, pela penitência e pela ação, faz tudo quanto está ao seu alcance em prol da Igreja e da humanidade. (…)
Considerada à luz da Sagrada Teologia, a cena que a Cristandade oferece presentemente ao nosso mundo tão cheio de trevas e de ódio é realmente maravilhosa. Ninguém, nem o Papa nem os fiéis, pode fazer um só ato meritório sem a graça do Espírito Santo. É o Espírito Santo, pois, que move o Papa a estender sobre o orbe terrestre inteiro, sua ação paternal. É o Espírito Santo que, trabalhando misteriosamente no íntimo de cada uma das pessoas beneficiadas pela ação do Pontífice (…) desperta em todos um sentimento de gratidão filial que move os bons a um ardor maior, os infiéis a uma simpatia cheia de esperanças para a Igreja de Cristo, e os inimigos a um sentimento de maior brandura para com o Catolicismo.
Recíproca efusão de amor sobrenatural
E, reciprocamente, no mundo inteiro, na Austrália como na Irlanda, em Nova York como em Montevidéu, no Amazonas como no arroio Chuí, o Espírito Santo move os Bispos a protestarem contra [o silêncio do noticiário em relação ao] Soberano Pontífice, e os fiéis a se associarem calorosamente neste protesto, a seus legítimos Pastores. A efusão de amor sobrenatural é, pois, recíproca no grande e místico corpo da Igreja. Este amor une verdadeiramente na Jerusalém nova que, segundo a profecia bíblica é a Igreja, todos os povos da Terra, filialmente solidários com o Pai comum, com aquele que com tanta razão Santa Catarina de Siena chama “o doce Cristo na terra”, isto é, o Sucessor de São Pedro.
Tudo na Igreja depende da união com a Cátedra de Pedro
Ubi Petrus, ibi Ecclesia — onde está São Pedro, aí está a Igreja. De tal maneira a Igreja Católica está vinculada à Cátedra de São Pedro, que onde não há a aprovação do Papa não há catolicismo. O verdadeiro fiel sabe que o Papa resume e compendia em si toda a Igreja Católica, e isto de modo tão real e indissolúvel que, se por absurdo todos os Bispos da Terra, todos os sacerdotes, todos os fiéis abandonassem o Sumo Pontífice, ainda assim os verdadeiros católicos se reuniriam em torno dele. Porque tudo quanto há na Igreja de santidade, de autoridade, de virtude sobrenatural, tudo isto, mas absolutamente tudo, sem exceção, nem condição, nem restrição está subordinado, condicionado, dependente da união à Cátedra de São Pedro. As instituições mais sagradas, as obras mais veneráveis, as tradições mais santas, as pessoas mais conspícuas, tudo enfim que mais genuína e altamente possa exprimir o catolicismo e ornar a Igreja de Deus, tudo isto se torna nulo, maldito, estéril, digno do fogo eterno e da ira de Deus, se separado do Romano Pontífice.
Incondicionalmente com o Sucessor de Pedro
Conhecemos a parábola da videira e dos sarmentos. Nessa parábola a videira é Nosso Senhor, os sarmentos são os fiéis. Mas, como Nosso Senhor se ligou de modo indissolúvel à Cátedra Romana, pode-se dizer com toda a segurança que a parábola seria verdadeira entendendo-se a videira como a Santa Sé, e os sarmentos como as várias dioceses, paróquias, ordens religiosas, instituições particulares e famílias, povos e pessoas que constituem a Igreja e a Cristandade. Isto tudo só será verdadeiramente fecundo na medida em que estiver em íntima, calorosa, incondicional união com a Cátedra de São Pedro.
Dioceses, paróquias, ordens religiosas, famílias, povos e pessoas que constituem a Cristandade, só serão verdadeiramente fecundos na medida em que estiverem em calorosa e incondicional união com a Cátedra de Pedro
“Incondicional”, dissemos, e com razão. Em moral, não há incondicionalismos legítimos. Tudo está subordinado à grande e essencial condição de servir a Deus. Mas uma vez que o Santo Padre é infalível, a união a seu infalível magistério pode ser incondicional. A simples hipótese de um erro no magistério infalível já é uma heresia. Podemos ser incondicionais no apoio do que é infalível. Sim, estamos incondicionalmente com o Sumo Pontífice.
Objetos de um só amor
Por isto, é sinal e condição de vigor espiritual uma extrema susceptibilidade, uma vibratilidade delicadíssima e vivaz dos fiéis por tudo quanto diga respeito à segurança, glória e tranqüilidade do Romano Pontificado. Depois do amor a Deus, é este o mais alto dos amores que a Religião nos ensina. Um e outro amor se confundem até. Quando Santa Joana D’Arc foi interrogada por seus perseguidores que a queriam matar, e que para isto procuravam fazê-la cair em algum erro teológico por meio de perguntas capciosas, a um de seus interrogadores ela respondeu: “Quanto a Jesus Cristo e à Igreja, para mim são uma só coisa”.
Magnífica proclamação do Corpo Místico de Cristo, partida da sábia ignorância da pequena pastora de Domrémy. E nós podemos dizer: “Para nós, entre o Papa e Jesus Cristo não há diferença”. Tudo que diga respeito ao Papa diz respeito direta, íntima, indissoluvelmente, a Jesus Cristo.
(Extraído do “Legionário”, de 16/4/1944)