Uma bela torre medieval posta ao lado de um simples edifício tem a capacidade de ressaltar a beleza e aumentar a importância deste. Dr. Plinio, com agudo senso de reversibilidades, transpõe este princípio para o papel de certos homens na História.
Não raras vezes, encontramo-nos enlevados ao considerar os admiráveis monumentos da arquitetura gótica como, por exemplo, uma torre audaciosa e imponente de uma catedral ou de um castelo.
Tomado um elemento muito belo, por menor que seja a beleza dos outros que o circundam, o primeiro espalha em torno de si a sua grandiosidade.
Há um princípio peculiar que, aplicado nessas circunstâncias, resulta infalível: qualquer coisa posta em torno destas altaneiras edificações, por pouco de beleza que possua, parece tomar um esplendor incomum, ainda que seja em algo desproporcionado ao monumento que a sustenta.
A Providência pode suscitar repentinamente um santo que se eleve admiravelmente como padrão de perfeição espiritual para determinada época; ele personifica a virtude de sua era.
A beleza de uma torre está ligada a vários fatores: as proporções entre a largura e a altura, o tamanho de sua base e a maneira de seu acabamento. Quando essas proporções estão harmonizadas entre si, há uma bela torre. Sobretudo quando ela é feita de um material valioso, como o granito, de pedras resistentes e duradouras, então a torre lucra ainda mais em esplendor.
Imaginemos a imensa torre de uma catedral em construção. Apenas a torre está inteiramente terminada, o restante da construção ainda está por se fazer e, por isso, quase não há nada edificado a sua volta. Entretanto, uma primeira capela pequenina, esboço da futura construção imponente, levanta-se como que aconchegada junto à torre. Embora a torre seja enorme em relação à pequena capela, existe um jogo de proporções pelo qual a capelinha fica encantadora, apoiada na torre monumental: é o esplendor da desproporção!
Podíamos também imaginar uma construção de tamanho médio, a qual tivesse alguma proporção com a torre e, de algum modo, a complementasse. Este edifício, caso não houvesse a torre, seria comum, mas porque está ao lado de um torreão imponente, adquire uma beleza e um encanto próprios. A torre é que o realça, mas, de certa forma, ele também realça a torre.
Tomado um elemento muito belo, por menor que seja a beleza dos outros que o circundam, o primeiro espalha em torno de si a sua grandiosidade.
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O que se dá com torres na arquitetura, dá-se também na História com personagens. Aparecem na História certos homens que são como torres. Alguns são esguios e se elevam com finura, inteligência e subtileza, como minaretes. Outros, pelo contrário, são atarracados e fortes, parecendo garras que se elevam até ao Céu. Outros, ainda, são proporcionados, nobres, equilibrados e parecem marcar a cadência dos tempos e a ordem das coisas, como o Imperador Carlos Magno.
O Grande Carlos é a grande torre a partir da qual se construiu toda a muralha do Ocidente Cristão. Respeitado por todos os homens — até por aqueles que o odiavam —, ele realçou as qualidades de seus súditos. Roland, Olivier, Turpin… tantos outros, foram tudo quanto lhes coube ser porque estavam juntos dele. É verdade que a glória dele se enriqueceu com os feitos de seus homens. Contudo, o que ele proporcionou aos seus foi muito mais do que aquilo que recebeu deles. Ele não é célebre por causa dos outros, mas os outros são célebres por causa dele. E dele se irradia uma determinada luz que cobre o seu século e o seu entourage com esplendor.
Pode-se dizer, em nível mais modesto, que há grandes personagens que aparecem na História de um povo, dos quais se tem impressão que todas as forças vivas da nação concorreram para produzir aquela figura; porém, quando passar a sua época, a nação entrará num período de “cansaço”, tal foi o esforço empregado para acompanhá-la. Durante algum tempo, a nação viverá agradavelmente da glória do passado. Até que — sendo uma nação amada por Deus — apareçam novamente personagens marcantes.
Na esfera sobrenatural isto também ocorre: em determinado lugar, a Providência suscita repentinamente um santo. Este se ergue admiravelmente como padrão de perfeição espiritual para determinada época; ele, como que, personifica a virtude de sua era.
Isto de tal maneira é assim que, quando entra em cena alguém que teve um contato especial com um destes santos, as pessoas dirão: “Ele foi discípulo de São tal”, ou então, “a este, São Fulano tocou com a mão na cabeça quando era pequeno”. São repercussões e ressonâncias daquela santidade que se multiplicam pelos tempos, fazendo com que as figuras ou as recordações religiosas mais augustas fiquem interligadas àquela marcante figura.
Assim são os personagens capazes de personificar torres. São construções seguras nas quais os homens de sua época podem apoiar-se, tomando-os como guias seguros e fortes.
(Extraído de conferência de 21/12/1984)