O homem vive de esperanças. Salutares ou — hélas! — nocivas, quem não as teve? Ainda quando era improvável tornarem-se realidade, os homens adequavam suas vidas às esperanças que possuíam.
Sim, isso era comum, mas no tempo presente, repleto de inebriantes descobertas da tecnologia, parece ser que a esperança vai, de modo paulatino, cedendo lugar ao anseio pelo imediato, à satisfação de caprichos do momento, a uma visualização que considera a existência humana como voltada somente para o prazer reles e passageiro. Sempre houve quem tivesse essa mentalidade, mas o problema novo é que ela vai se impondo universalmente, como se fosse o único valor a ser buscado.
Até que ponto a enxurrada de novidades contribuiu para este resultado? Não se sabe. O certo é que os homens, em número crescente, vão se desinteressando do futuro e fechando-se sobre si mesmos. “Não me interessa o amanhã, eu vivo cada dia”, dizem. Renunciaram à esperança.
Com isso vai desaparecendo toda forma de grandeza que pressupõe a esperança, ao passo que cada vez mais pessoas sofrem de tédio, depressão e até desespero. Todavia, por mais que sejam adversas as circunstâncias nas quais vivemos, a solução para se recuperar o equilíbrio perdido é simples: fortificar a esperança por uma certeza, acrescida de um novo vigor: a confiança!
Pois como afirma São Tomás: “A confiança é uma esperança fortificada por uma opinião firme.”1
Vejamos como Dr. Plinio discorre sobre a relação entre a esperança e a confiança.
Qual é a diferença entre esperança e confiança?
Quando se espera algo, tem-se certa alegria pela perspectiva de que alguma coisa boa acontecerá; porém, quando se confia, não há apenas alegria, mas também certeza.
A confiança é a fina ponta da esperança; ela dá forças a nossas almas e nos faz irmos adiante.
Enquanto a esperança nos dá fundadas razões para termos quase certeza de que nos acontecerá determinada coisa boa, a confiança, entretanto, nos dá a plena certeza.
A virtude da confiança representa a voz de Deus no interior de nossas almas.
Para nós que estamos talvez na orla dos acontecimentos previstos por Nossa Senhora em Fátima, a virtude da confiança se põe nos seguintes termos: estamos diante do perigo, mas sabemos que a Providência quer utilizar-se de nós para vencer esse perigo. Sendo assim, nós temos confiança, ou seja, temos certeza, de que seremos instrumentos da Providência para vencer tais perigos. Essa é a certeza da confiança.
Nessas condições, devemos pedir a Nossa Senhora que em todas as ocasiões difíceis de nossa vida nos dê confiança e não deixe de suscitar no interior de nossas almas o seguinte movimento:
“Se Nossa Senhora me chamou para uma missão, Ela fará com que eu a realize, pois este chamado não poderá ter sido em vão.”
Então, ainda que tudo pareça contrariar minha esperança, eu avanço contra o perigo, em paz, porque confio que vai se realizar tudo quanto Ela prometeu.
(Extraído de conferência de 22/1/1994)
1) S. Theol. II-II, q.129, a. 6 (ad 3)