Ao longo dos séculos, sob o sopro do Espírito Santo e a propósito dos embates contra as heresias, o conhecimento da Santíssima Virgem aprofundou-se em três aspectos primordiais: cristológico, espiritual e eclesiológico.
É verdade que desde a primavera da Igreja estas três formas de considerar a Mariologia subsistiram concomitantemente, mas cada uma delas reluziu com maior ou menor intensidade.
Durante as lutas para estabelecer as sublimes verdades sobre a divindade e a humanidade de Cristo, o aspecto cristológico da devoção a Nossa Senhora se consolidou, sobretudo, em Éfeso, no ano de 431, com a proclamação de Maria como Mãe de Deus. Deste dogma fundamental para a Mariologia, decorreu a declaração de todos os demais privilégios marianos, a saber, sua tríplice virgindade1, sua conceição imaculada e sua assunção aos céus. Enfim, todas as glórias convenientes a Maria, devido à maternal relação com seu Divino Filho, foram ressaltadas em razão da Cristologia.
Por outro lado, depois da época de ouro da Patrística, a devoção a Nossa Senhora foi revigorada com o novo fermento dos santos medievais e modernos, ocupando progressivamente um papel central na vida espiritual de todo católico. As célebres aparições de Maria durante os séculos XIX e XX e a canonização de ardorosos devotos da Virgem lograram o aprofundamento da espiritualidade mariana, de seu papel junto a cada fiel, como Medianeira amorosa e “infalível”, capaz de salvar o cristão de todos os apuros da existência.
Dir-se-ia que o conhecimento de Maria atingia assim seu ponto culminante, porém, a partir da época pré-conciliar, Ela passou a ser considerada por muitos teólogos em sua função social no Corpo Místico de Cristo como Corredentora e Medianeira Universal de todas as graças. Assim a Mariologia clamava um aprofundamento no âmbito eclesiológico.
E, de fato, ecoando fielmente a voz de Santo Ambrósio quando ensinou ser a Mãe de Deus tipo da Igreja, os teólogos do Vaticano II propuseram um paralelismo entre Maria e a Igreja2. A Igreja é virgem e mãe, é concebida sem pecado e carrega o peso da História, sofre como Mãe das Dores, e, no entanto, já foi assunta ao Céu. No desenvolvimento sucessivo da Eclesiologia, a Igreja é antecipada em Maria, em Maria é personificada e, reciprocamente, a Santíssima Virgem não é considerada somente como Mãe do Redentor, mas como trazendo em Si todo o mistério da Igreja3. A Constituição dogmática Lumen Gentium A declara como “Mãe da Igreja”4 e exemplar de todas as virtudes teologais e apostólicas especialmente para “todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens”5.
Seguindo esta porta aberta pelo Espírito Santo, no artigo deste mês, “Devoção a Nossa Senhora: condição essencial para a Contra-Revolução”, Dr. Plinio recorda o modo pelo qual a Santíssima Virgem intervém na História. Sua ação é percebida especialmente a partir da Idade Média, quando um processo de descristianização irrompeu sobre o Ocidente. Maria ampara a Igreja com seu maternal olhar e assim beneficia a Contra-Revolução através de sua mediação universal e onipotente.
1) Maria foi virgem antes, durante e depois do parto.
2) Lumen Gentium, 63: AAS 57 (1965) 64;
3) Cf. RAHNER, Hugo. Our Lady and the Churrch. Bethesda: Zaccheus Press, 2004; RATZINGER, Joseph. Iglesia, ecumenismo y política. Madrid: BAC, 2005, p. 6.
4) Lumen Gentium 66-69: AAS (1965) 65-67.
5) Lumen Gentium, n. 65: AAS 57 (1965), 64-65; Cf. Prebyterorum Ordinis, 18: AAS 58 (1866) 1019.