Iniciada em 1936, a Guerra Civil Espanhola seria responsável por monstruosidades sem conta… Diante dela, como deveriam reagir os católicos?
“Há uma verdadeira campanha de ‘Horas Santas’ em prol da gloriosa e infeliz Espanha. Não há dúvida de que o melhor apoio que possamos dar a nossos irmãos espanhóis está na oração. Mas bastará isso? O que está fazendo o Itamaraty? Como respondeu ele à nota do Governo de Burgos, comunicando ao Brasil a sua constituição? Por que não foi publicada a resposta?
“Parece-nos que a intenção que inspirou a nota brasileira foi excelente. Quis ela dissociar nosso Governo de qualquer démarche internacional que venha a paralisar a marcha triunfal das forças anticomunistas. No entanto, um dos argumentos sobre que ela se estriba é perigoso. Referimo-nos a isto porque o erro é, de per si, tão funesto, que não pode ser tolerado, nem mesmo quando uma argumentação especiosa procure pô-lo ao serviço do bem e da verdade.
“Ninguém pode afirmar que a repercussão e as consequências da guerra civil não ultrapassarão as fronteiras da Espanha. A vitória do comunismo na Ibéria terá uma repercussão mundial. Nos combates da Serra de Guadarrama, não é apenas o destino da Espanha que está sendo jogado. Está em jogo o destino da civilização. E, em tese, é permitido a uma nação intervir a favor da civilização contra a barbárie? A doutrina católica afirma que sim. A nota brasileira parece insinuar que não.
“Compreendemos que, no terreno militar, a única atitude sensata para o Brasil é a abstenção. Mas seria conveniente que ficasse bem claro que, se não praticamos a intervenção, não é porque a julguemos ilegítima, mas porque a consideramos inviável no momento. Só quem não tiver o menor senso jurídico poderá ver nessa ressalva um mero bizantinismo@.
“Nossos oradores políticos, atualmente, não se fartam em falar sobre a ‘civilização cristã’. Mas, no momento de dispensar a essa civilização um apoio eficiente, eles, que são tão valentes em doutrina, vacilam. A situação, de fato, a que ninguém pode fechar os olhos, é esta: na Espanha se defrontam a civilização cristã e os filhos das trevas. E, à vista disto, é preciso perguntar se, sim ou não, somos pela primeira contra os segundos. A nota portuguesa enfrentou a questão com magnífica coragem. A nota brasileira fecha os olhos a esse problema fundamental. Repugna-lhe uma mediação que salvaria os assassinos e os incendiários da Espanha. No entanto, aceitaria tal mediação ‘por solidariedade americana’. E a solidariedade humana, que devemos aos salvadores da Espanha? Não fica ela abaixo da problematissíssima ‘solidariedade americana’? E a civilização cristã, de que estão tão cheios os discursos oficiais? Mandam-nas às urtigas?”
(Extraído d’O Legionário de 23/8/1936)