sábado, noviembre 23, 2024

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Obediência e entusiasmo

Dr. Plinio discorre sobre a estreita relação existente entre a obediência a Deus, a seus Mandamentos e aos legítimos superiores, e o entusiasmo, sem o qual nenhum ato sobrenatural atinge sua perfeição.

Examinando bem a ideia que, muitas vezes, é difundida a respeito do modo de ser católico, nota-se que as pessoas não percebem que amar a Deus sobre todas as coisas significa amá-Lo com entusiasmo, pois só nos entusiasmamos com as coisas que colocamos acima de todas as outras. E não existe modo de amar a Deus sobre todas as coisas, que não seja dar a Ele todo o entusiasmo de nossa alma.

Obediência e alegria do entusiasmo

Ora, qual é o termômetro do entusiasmo? É exatamente a obediência. Quando a pessoa está muito entusiasmada, percebe o quanto ela se une com aquilo que a entusiasma, obedecendo. E ela tem aí um calor, um timbre, um amor de obediência todo especial, que leva sua alma inteira. Tanto mais que São Tomás afirma que um mínimo resíduo de felicidade o homem precisa ter, senão ele não aguenta a vida. E, mais do que tudo, o que faz aguentar a vida e ser feliz é a alegria do entusiasmo, por amor de Deus.

É entre esses entusiasmados que se vê o frescor do espírito, o calor da alma, a ligeireza das mentalidades, o voo, a deliberação, o gesto, a força de impacto, etc. E se o homem não tem a alegria desse entusiasmo, ele começa a subestimar, a sofismar, a relaxar, decair, degradar-se, tudo passa a ficar pesado e ele não aguenta a obediência.

Contaram-me um episódio da vida de Santo Inácio, que eu já ouvira falar: um noviço estava conversando, embevecido, com Santo Inácio. Vendo o noviço encantadíssimo, o Santo Fundador lhe diz: “Vá fazer tal coisa!” O noviço não caiu logo em si, e Santo Inácio acrescenta: “Não pode o amor ser maior que a obediência. Portanto, estás errado!” E lhe deu uma penitência severíssima.

Andreas Praefcke
Oração de Jesus no Horto Catedral de Nossa Senhora dos Anjos, Los Angeles (EUA)

Diante dessa atitude, o entusiasmado fica encantado e pensa: “Oh, que retidão, que precisão! Que sagrada intransigência! Que maravilha!” Reação do homem sem entusiasmo: “Que ruim é Santo Inácio! Eu estava tão embevecido ouvindo-o e ele fez essa brutalidade comigo!” Quer dizer, esse homem não tem fogo e não é capaz de compreender os píncaros da perfeição e da virtude.

Como cumprir os Mandamentos

Por vezes, nas aulas de Catecismo, os Mandamentos são apresentados com o seguinte fundo de quadro: “Os Mandamentos são duros, mas é preciso aguentar, porque Deus tem o direito de mandar. Ele poderia ter sido mais misericordioso e ter feito os Mandamentos mais leves. Não os fez, e quem os cumpre, afinal de contas, vai para o Céu. Se não cumprir, vai para o Inferno; está revelado. Portanto, aguente e gema! Peça a Nossa Senhora, que de vez em quando Ela atenue um pouco. Isso é assim, então comece a praticar a Religião!”

Ora, isso não é entusiasmo. Resultado: não se praticam os Mandamentos.

Cumprem-se os Mandamentos no entusiasmo! “Não pecarás contra a castidade!” A reação da alma diante disso não pode ser a seguinte: “Ih! Mas como é duro hein?! Como aguentarei?” Perdeu a batalha. A atitude tem que ser outra: “Oh, castidade, que beleza tens! Como és magnífica! Que píncaro! Claro, não pecarei!” Assim se guarda a pureza.

“Não mentirás!” Deus tem horror à boca mentirosa, diz a Escritura. Servir-se dos lábios e da língua, dons tão preciosos de Deus; da voz, símbolo tão magnífico da alma humana, para mentir, utilizar isso para um objetivo contrário à finalidade natural querida por Deus, que infâmia! Mas a veracidade… O varão veraz, que diz as coisas como são, que magnífico! O entusiasmo leva à verdade.

Nosso Senhor no Horto das Oliveiras

O entusiasmo é algo tão magnífico que ele se parece com o Sol, até mesmo quando este entra em ocaso. Mas, uma coisa é o pôr de sol do entusiasmo, outra é a moleza do decadente. Não se confundem.

O nosso entusiasmo visa, como fundo de quadro, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ela é a causa de nossa alegria.

Dr. Plinio na década de 1980

No pôr de sol do entusiasmo, a vontade de se sacrificar, o desejo de ideal continua intacto, embora o indivíduo não sinta nada. E o modelo disso é Nosso Senhor Jesus Cristo no Horto das Oliveiras. Depois que eu tenha mencionado isso, o único jeito é dobrar os joelhos, porque o Modelo é tão sagrado que não há outra coisa para dizer. Ele não estava na alegria de sua alma nessa ocasião.

São Francisco de Sales o disse bem: Jesus só tinha a alegria na fina ponta de sua alma. No resto era um mar de desolação. Mas, como Nosso Senhor aceitou o sofrimento! Bebeu o cálice, aguentou a Paixão e morreu para aquilo que Ele tinha resolvido morrer! Isso é entusiasmo!

Mas para sermos capazes desse entusiasmo na dor, precisamos ser muito capazes do outro. Quer dizer, ter na alegria e na força de nossa alma o entusiasmo no sentido corrente da palavra. Nossa Senhora saberá, quando vier o momento, como nos introduzir no entusiasmo do sofrimento. Nademos nesse entusiasmo corrente, porque essa é a hora dele.

A Igreja é a causa de nossa alegria

Como manter o entusiasmo?

O nosso entusiasmo visa como fundo de quadro, evidentemente, a Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana. Ela é a causa de nossa alegria. Tudo quanto se diz de Nossa Senhora, mutatis mutandis, pode-se afirmar da Igreja. E poder-se-ia fazer uma saudação à Igreja, invocando a “Salve Rainha, Mãe de misericórdia”. Talvez com muito poucas modificações, caberia à Igreja perfeitamente a oração Salve Rainha, que é uma saudação a Nossa Senhora. Inclusive se poderia pedir, nas orações, as graças da Igreja, porque isso tudo a Esposa de Cristo possui.

Não basta conhecer a teoria

Entretanto, andam em erro aqueles que imaginam que, a partir de uma concepção doutrinária a respeito da Igreja, um homem recompõe a imagem do que deve ser o verdadeiro católico. Seria mais ou menos como uma pessoa que estudou a teoria da arte e se capacitou nela, mas nunca foi a um museu, nem viu uma obra de arte, jamais fez uma consideração artística in concreto. Aqueles meros princípios artísticos, por mais que sejam lógicos, convincentes, verdadeiros, bons, não são suficientes para a criação artística; há um passo que a mera teoria não transpõe. E é preciso ter visto a coisa concreta para que o espírito também se aplique sobre ela, e verifique a afinidade da coisa concreta com os conhecimentos doutrinários que adquiriu. E, em consequência, julgue-a boa, analise-a adequadamente e a incorpore ao seu cabedal intelectual.

As falsificações manipuladas pela Revolução

Na época atual não temos apenas uma dificuldade muito grande em ver a doutrina da Igreja viva em pessoas, mas recebemos também contrafações, falsos modelos. E a realidade de nossa situação seria como a de um homem a quem se tivesse ensinado a teoria da arte, mas meio falsificada, de maneira que ele percebesse haver muito de verdadeiro ali, mas algo lhe causasse estranheza. E isso fosse ilustrado por museus de arte moderna, com a arte falsificada. Ele, naturalmente, sairia desses museus com contraimagens, contrafiguras ajustadas a uma doutrina meio falsificada. Compreendemos assim a dificuldade desse cérebro gerar a ideia do que é uma verdadeira obra de arte.

E é isso que sucede conosco porque, devido à Revolução, temos a mente literalmente povoada, até nos últimos pormenores, de ideias, impressões e clichês falsos. E uma obra de saneamento interno, para a aquisição da plena fidelidade, supõe que a Providência mande homens que fiel e adequadamente simbolizem aquilo que ensinam. Quer dizer, eles devem ensinar o que verdadeiramente a Igreja ensina, e simbolizar aquilo que Ela ensina.

Como é que eles simbolizam?

A mentalidade de um católico

Amadalvarez
Moisés recebe as tábuas da Lei – Catedral de Tortosa, Espanha

Antes de tudo pela mentalidade. Em que sentido da palavra? O mais adequado dos símbolos de Deus é o homem, evidentemente. E quando alguém se refere ao homem, fala de sua mentalidade porque é o mais nobre, o por onde ele é homem inteiramente, porque ele tem uma mente. Então esta mente, configurada como manda a Igreja, como quer Deus, é o melhor símbolo do Criador.

Assim, era preciso que a Doutrina Católica fosse ilustrada com essas mentes à maneira de Deus, quer dizer, à maneira da Igreja. Alguém poderia me dizer: “Mas, há aí um círculo vicioso, porque estar ilustrado com um exemplo concreto à maneira de Deus e da Igreja é ter a doutrina de Deus e da Igreja. De maneira que voltamos à questão, basta ter a doutrina.”

Respondo: Sem a doutrina, nada feito. Mas não se pode dizer que simplesmente com ela tudo esteja feito. Já expliquei e ilustrei, não preciso mais insistir.

Como é que conhecemos a mente de um homem?

Um homem, que é membro da Igreja, não personifica a Igreja inteira nem ele é a Igreja em abstrato. O que é um homem católico?

É aquele que inteiramente, no ponto monárquico de sua alma, disse sim à Igreja. Mas, o que quer dizer aqui “inteiramente”?

Primeiro Mandamento: amor entusiástico

A formulação existente no Antigo Testamento para o primeiro Mandamento é perfeita: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda tua alma e com todas as tuas forças”1, quer dizer é um amor entusiástico, que exprime o amor inteiro.

Então, o católico está constituído segundo a “arquitetura” harmônica que Deus lhe concedeu e sobre a qual incide clara, luminosa, a luz de Cristo, a luz da Igreja. E, incidindo aí, propaga-se por toda a mentalidade da pessoa, à maneira de algo que vivifica e amolda todo o seu ser. E não é só isso, porque a graça envolve, circunda a alma em mil aspectos, mil circunstâncias da vida, mil ocasiões.

Os santos e o Purgatório

Essa transparência da graça num homem pode ser maior ou menor. Há pessoas que são retas, amadas por Deus, vão para o Céu, mas antes devem passar pelo Purgatório. Tais pessoas têm uma transparência maior ou menor para essa ação da graça.

Segundo foi revelado a uma mística, Santa Teresa de Ávila, antes de subir ao Céu, teve que passar rapidamente pelo Purgatório. E ela havia sofrido na Terra tudo quanto sabemos!

Os teólogos afirmam que os mártires vão para o Céu diretamente, não passam pelo Purgatório. Um São Lourenço, por exemplo, cujo martírio foi horripilante. Ele mesmo vendo as gotas da gordura de sua própria carne caírem dos seus membros sobre o corpo, porque ele estava sendo assado! Após suas costas ficarem completamente assadas, ele disse: “Nas costas tudo acabou, virem-me do outro lado!” Viraram-no de bruços, foi assado e morreu.

Encontro de São Domingos, São Francisco e Santo Ângelo

Essa transparência pode ter, portanto, graus diferentes, segundo as várias almas.

Alguém perguntaria: “Mas, se eu conheço uma pessoa assim e depois posso vir a conhecer várias outras semelhantes, por que hei de optar por uma e não por outras na linha da obediência? Só porque eu fiz um voto? Qual a razão dessa obediência, dessa opção que eu terei feito antes de ter conhecido outros?”

Após suas costas ficarem completamente assadas, ele disse: “Nas costas tudo acabou, virem-me do outro lado!” Viraram-no de bruços, foi assado e morreu.

G. Freihalter
Martírio de São Lourenço Catedral de São Lourenço, Beaumont-sur-Oise (França)

A pergunta está mal feita, porque, quando se trata de almas inteiramente transparentes a essa graça, nunca fazem diferença entre si. E cada uma atrai quem deve atrair, e encaminha quem deve encaminhar àquele ao qual deve ser encaminhado.

Todos conhecem, por exemplo, o famoso encontro de São Domingos, São Francisco e o carmelita Santo Ângelo, numa sacristia, creio que de Roma. Imaginemos que um passante por ali diga perplexo: “Para mim, isso deu esquizofrenia, porque são três tão grandes santos que não sei a qual deles devo seguir.”

Eu lhe diria: “Trate indiferentemente com qualquer um dos três que você verá qual tem que seguir. E se você não vir, ele mesmo indicará: ‘Meu filho, você foi feliz; não é comigo, é com outro que você vai ficar.’”

Há uma linha mestra, uma avenida de clareza onde todas as almas assim se encontram, sem nunca provocarem trombada.

Entretanto, existe um outro dado a tomar em consideração, porque esse é o lado da graça. Há o aspecto demônio, o qual não faz a obra da graça, mas sim da Providência. Por incrível que pareça, isso é assim. E ele, ouvindo-nos falar isso, fica furiosíssimo, porque bem sabe que a obra dele executa os desígnios de Deus.

Duccio
Jesus é tentado por Satanás – Museu Frick Collection, Nova Iorque (EUA)

A tentação coletiva, o demônio social

Foi por desígnio de Deus que satanás tentou Adão e Eva. Não era desígnio de Deus que eles pecassem, mas que fossem provados e, se fossem ruins, merecessem o castigo.

Fala-se muito, em aulas de Religião, da tentação individual, da ação do demônio sobre um homem para induzi-lo ao pecado. Está muito bem lembrado, mas me espanta e lamento que não se diga nada da tentação coletiva; desses demônios que agem simultaneamente sobre os indivíduos de todo um grupo ou setor social, de toda uma sociedade, e levam as pessoas para o Inferno por esse modo.

Nesta época em que se fala tanto do socialismo, da função social da propriedade, do demônio social não se fala. Um modo de completar a virtude para a qual a graça nos convida é a luta contra o demônio, por onde ficamos o contrário daquilo a que ele também nos convida.

Portanto, a graça leva para um lado, e a luta contra a tentação conduz para o lado da graça. E esse é o furor do demônio quando recebe um “pontapé”, porque ele percebe que a alma não se incomodou com a tentação dele, porque fez o contrário do que ele queria.

Estamos numa época onde a tentação social é tão fabulosa, que ela é propriamente o fundo de todas as tentações individuais. Não há uma tentação individual que não esteja maculada, sobre a qual não pese a tentação social, que não seja condicionada por esta; atualmente a tentação social — num certo sentido da palavra — é mais forte que a tentação individual.

O fato de conhecermos pessoas completamente voltadas contra a tentação social, é uma outra graça que nos leva a praticar a obediência em relação a essas pessoas.

Então, retomando o exemplo do artista que conhece a teoria da arte e não a arte concreta, podemos afirmar que um combatente que conheça a teoria da guerra, mas nunca tenha feito guerra não dá nada.

Pelo contrário, se tomarmos um combatente que fez a guerra contra o mal e que se modelou segundo tal guerra, esse merece a nossa confiança.

Esses fatores se somam para que nossa obediência seja entusiasmada. E entusiasmada não só nas boas horas, mas nas horas más, porque essas são razões razoáveis por onde, nos momentos onde decai o entusiasmo sensível, elas estaqueiam. E a pessoa bem estaqueada, na hora do entusiasmo sensível, vai até onde pode e recolhe como fruto que, na hora do entusiasmo não sensível, faz tudo quanto deve.

Espero que o comentário que fiz até agora tenha sido entusiasmado. Mais ainda, espero que tenha sido entusiasmante, porque eu quisera realmente acender o entusiasmo na alma dos que aqui se encontram.

(Extraído de conferências de 22 e 23/6/1982)

1) Dt 6, 5.

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