O início de um novo ano sempre traz consigo incógnitas e esperanças. Sabendo disso, a Santa Igreja, através de suas festas litúrgicas, dá aos homens a clave na qual devem impostar as almas para transpor os dias vindouros. Solenemente, na aurora do novo ano, recorda a Maternidade Divina de Maria, lembrando aos fiéis que o amor materno da Santíssima Virgem e sua poderosa intercessão jamais faltarão àqueles que a Ela recorrem. Poucos dias depois, a Liturgia contempla a figura dos Magos que, vindos do Oriente, adoram ao Menino como verdadeiro Deus.
Infindas lições espirituais poderíamos tirar destas duas grandes solenidades, entre elas a importância e a beleza da virtude da admiração, comentada por Dr. Plinio na presente edição1.
O que é admiração? — perguntava, certa vez, Dr. Plinio.
Mirare ad: olhar para. É olhar para algo com entusiasmo, compreendendo sua grandeza e, por causa disso, amá-lo.
A admiração é a porta de toda a grandeza e é impossível eu admirar algo sem que a grandeza daquilo que admirei, de algum modo, penetre em mim. Por isso, a grandeza é dada aos que admiram e se dedicam ao objeto de sua admiração. Aqueles que são grandes, esses devem ser dedicados.
Neste sentido poder-se-ia interpretar o versículo do Magnificat que diz “Depôs os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc 1, 52) como um convite feito aos poderosos para descerem de sua sede e servirem os pequenos; e a estes a se elevarem pela admiração e se encherem da grandeza dos Anjos. Temos, assim, a admirável harmonia do universo, onde grandes e pequenos coexistem uns para os outros, segundo a Doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo2.
Não há maravilha mais autêntica do que a alma verdadeiramente maravilhável. Essa tem o amor de Deus, pois a perfeita Caridade consiste em maravilhar-se humilde e desinteressadamente com as coisas divinas. Não só com as invisíveis conhecidas pela Fé, mas também com as visíveis que Deus colocou ao nosso alcance.
Eis a virtude, tão fundamental para a alma contrarrevolucionária e para o espírito católico, que devemos procurar e pedir a Nossa Senhora que, como ninguém, foi a mais maravilhável das almas.
Se Deus concedeu a Maria Santíssima o Menino Jesus para encerrar-Se no seu claustro virginal, passar sua infância ao lado d’Ela, viver trinta anos maravilhando-A, é porque Ela possuía uma potência de maravilhar-Se que estava na proporção dessa maravilha. Compreende-se, assim, qual era a capacidade de maravilhar-Se de Nossa Senhora.
Resultado: tornou-Se maravilhosa. Por isso todas as gerações a chamarão Bem-aventurada (Cf. Lc 1, 48). Pelo desinteresse com que Maria amou, pela humildade com que Ela admirou, tornou-Se admirável3.
1) Ver “Admiração: doutrina e exemplos”, p. 18 e “Admiração e afeto da Virgem-Mãe”, p. 12.
2) Conferência de 3/2/1973.
3) Conferência de 19/6/1971.