Há momentos na vida em que a Providência parece ausentar-Se e deixar a alma com a sensação de ter sido abandonada. As graças sensíveis cessam, o panorama descortinado outrora pela voz da graça torna-se cheio de névoas e tem-se a impressão de que tudo começará a soçobrar.
Na vida de Dr. Plinio esses momentos não faltaram, mas sua entranhada devoção a Maria Santíssima manteve-o sempre em contínuo ato de confiança. Seu amor a Nossa Senhora manifestava-se de modo muito especial na devoção à Mãe do Bom Conselho, venerada na cidade de Genazzano, Itália. Vejamo-lo narrar uma das mais sensíveis graças recebidas por meio de uma de suas estampas.
Eu me encontrava na fase pós-operatória de uma intervenção cirúrgica penosa, delicada, que visava conter um processo de gangrena. Feita a operação, eu estava passando alguns dias no hospital para restabelecer-me, quando me trouxeram uma estampa de Nossa Senhora de Genazzano.
Ao fitá-la fui surpreendido pela sensação maravilhosa de que a Santíssima Virgem mudava magnificamente de expressão. Tornava-se “viva”, afável, materna, muito mais do que a mera estampa poderia representar. De algum modo isso me dava a entender a solução para um problema muito complexo e delicado que eu trazia dentro da alma, o qual me atormentava muito mais do que a operação.
Eu tinha estado em perigo de vida nessa ocasião, mas, ao mesmo tempo, algo em minha alma dizia que eu ainda haveria de viver por bastante tempo para realizar inteiramente minha vocação, travando na Terra a luta vitoriosa contra a Revolução, com que eu sonhava desde o meu tempo de adolescente. Porém, as doenças inopinadas que vinham sucedendo comigo até chegar à situação muito grave da gangrena, levavam-me a recear que os meus dias acabassem.
Quando a estampa “sorriu”, entendi ser essa uma comunicação de que eu chegaria ao termo da obra, e que, portanto, nesse sentido a Santíssima Virgem me sorria com uma grande doçura, afabilidade e bondade.
Anexa a esta certeza interior, vinha outra ideia: que eu não temesse as vicissitudes encontradas em meu caminho, pois as dificuldades mais ásperas, duras e inesperadas seriam superadas por Nossa Senhora.
Com isso, veio-me uma confiança, não só quanto ao termo final da nossa obra, mas também de que os episódios insolúveis, de um modo ou de outro, se resolveriam, e Maria Santíssima levaria a nossa caminhada até o fim de seu termo.
Foi isso que me manteve a vida. Confiando n’Ela, por causa desse sorriso, caminhei como os judeus no meio do Mar Vermelho.
Compreende-se, assim, toda a gratidão que sou levado a ter para com Nossa Senhora. A promessa fica de pé, tem-se confirmado não sei quantas vezes, e chegará o momento em que tudo se realizará. Confiança!1
1) Conferência de 16/12/1988.