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União de almas entre Dona Lucilia e Dr. Plinio

Entre ambos não havia apenas uma afinidade temperamental, psicológica, como existe muitas vezes entre mãe e filho. Tratava-se de uma união de almas tão profunda, que vinha dos mais íntimos alicerces do ser de Dr. Plinio, do seu espírito, que coincidiam com os de Dona Lucilia.

Logo que mamãe morreu, eu me lembro de que fui ao quarto dela — não assisti ao seu último suspiro —, chorei muito e chorei alto, mas depois se estabeleceu uma paz em minha alma, que durou durante todo o dia do enterro, os dias seguintes também, e que culminou com a cena que se passou durante a Missa de sétimo dia, quando um raio de luz bateu sobre uma coroa de orquídeas.

Arquivo Revista
Igreja de Santa Teresinha – São Paulo, Brasil

O raio de sol sobre as orquídeas

Eu tinha pedido a Nossa Senhora um sinal de que mamãe não estava no Purgatório, porque me afligia muito a ideia de que ela pudesse estar sofrendo lá. Então, um raio de sol saiu de um vitral lateral da igreja1 e incidiu nas orquídeas que ornavam o centro da cruz, e foi se tornando mais intenso, até adquirir uma intensidade enorme; depois foi se afastando lentamente e sumiu; mas numa velocidade correspondente à cadência dos passos dela, e o modo de ela se afastar quando não andava depressa. Ela tinha o hábito de andar depressa, mas quando andava de modo muito calmo, a cadência era aquela. Eu pensei: “A cadência dos passos de mamãe era assim.” E fiquei muito tocado com aquilo.

Tenho saudades dela, no sentido de que eu gostaria imensamente de osculá-la, de conversar com ela, imensissimamente, mas na minha alma é como se ela estivesse viva. Não é que eu converse com ela, mas aquela sensação da presença, da convivência, eu tenho com ela; e não sensação de ausência que eu teria — quando mamãe vivia —, por exemplo, estando eu na Europa. E considerem que ela está no Céu e eu aqui na Terra!

Sobretudo nos últimos anos da vida de mamãe, não era a conversa, mas a presença, uma coisa que eu não sei explicar, e isso para mim continua como se ela estivesse viva.

Arquivo Revista

“Éramos um”

Acho que para os que não a conheceram ou que não souberam apreciá-la em vida, e vão visitar seu túmulo, acontece algo semelhante. Eu olho as caras e tenho a impressão de que é muito mais uma audiência que ela dá, do que uma oração que se faz para uma pessoa que está fora; é uma coisa curiosa, eles não se dão conta disso, mas suas atitudes são — não que ela estivesse conversando com eles — como se ela estivesse exercendo uma ação de presença junto a eles.

É preciso notar que a força de presença que ela tinha era única. O Quadrinho2 possui isso, de maneira que quando o recebi eu disse: “Este Quadrinho veio para reforçar a sensação da presença dela.”

Havia uma união de alma entre ela e eu tão profunda, que vinha dos mais íntimos alicerces do meu ser, de meu espírito, que coincidiam com os dela; de tal maneira que não era só uma afinidade temperamental, psicológica, enfim, os mil tipos de afinidade que possa haver entre mãe e filho, mas era uma coisa diferente; do fundo da alma, o quanto pode ser, eu sentia essa afinidade.

João Dias

E fazíamos um só, de tal maneira éramos unidos. Eu me lembro de que uma arrumadeira portuguesa chamada Ana, que tivemos quando morávamos numa outra casa, fez a nosso respeito um comentário, do qual mamãe gostou muito. Com aquela simplicidade portuguesa, Ana dizia o seguinte: “Viver com a cordialidade que a senhora vive com o Dr. Plinio, nem marido e mulher, noivo e noiva têm, porque eles, quando são felizes, não possuem essa cordialidade.” Mas era realmente um encanto contínuo meu por ela, e um modo de tratar como eu nunca vi filho tratar mãe, e dela comigo, talvez ainda mais, porque nas menores coisas havia uma delicadeza e uma solicitude em procurar interpretar-me, mil coisas que os fatinhos concretos não podem exprimir, porque era o espírito com que o fatinho era realizado.

Isso tem uma projeção espiritual, quer dizer, de tal maneira éramos um, que não é possível aderir a um e não aderir ao outro. É evidente que eu devo muito de minha formação primeira a ela. De maneira que eu acho isso muito natural, muito razoável, verdadeiro.

(Extraído de conferência de 8/3/1986)

1) Igreja Santa Teresinha, situada no bairro de Higienópolis, em São Paulo.

2) Quadro a óleo, que muito agradou a Dr. Plinio, pintado por um de seus discípulos, com base nas últimas fotografias de Dona Lucília. Ver Revista Dr. Plinio n. 119, p. 6-9.

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