Dentro do processo revolucionário denunciado por Dr. Plinio, teve um papel importante a Revolução Industrial, amplamente analisada por ele em diversas conferências. Esta temática, introduzida na presente edição1, será oferecida à consideração de nossos leitores em algumas seções ao longo deste ano que se inicia.
Entre os múltiplos aspectos que tornam necessário o estudo deste fenômeno, Dr. Plinio nos aponta os seguintes2:
A Revolução Industrial, viabilizada pelo progresso técnico, transformou profundamente o feitio do mundo. Divinizada por muitos, esta revolução traz consigo o inconveniente gravíssimo de haver produzido uma psicose moderna e ter sido uma máquina possante para fazer a Revolução, pelo estilo de vida moderno manipulado pelas tendências, o que levou a humanidade a desequilíbrios inconcebíveis.
Ela também deu origem, à maneira de negação, ao movimento hippie e a todas as consequências da revolução cultural detonada em maio de 1968, na França, que, sob o pretexto de reagir aos excessos da Revolução Industrial, pretendem matar nela o que possa haver de legítimo, de bom.
Na Idade Média também havia conhecimentos técnicos. Porém, a técnica servia ao homem em suas necessidades, o qual seria – para utilizar uma imagem – mais ou menos como um cavaleiro que domina inteiramente seu cavalo. A partir da Revolução Industrial, o homem cai do cavalo da técnica e este dispara arrastando o cavaleiro.
Por que caiu do cavalo? Porque deixou de ser bastante cioso de si mesmo e de rejeitar aquilo que era incompatível consigo.
Há limites para a aceitação ou rejeição de um produto da técnica, que variam de acordo com a região e a situação histórica. Contudo, esses limites devem existir.
As classes superiores deveriam ter chamado a atenção das pessoas para os riscos, principalmente no âmbito moral, que uma coisa dessas comportava. Com isso barrariam a expansão imoderada do gigantismo na demanda por onde, de repente, milhares de cidades no continente americano, por exemplo, passaram a pedir certo artigo do qual até então não precisavam; ou abandonavam inopinadamente um produto para adotar outro.
Este fenômeno gerou, por sua vez, indústrias gigantescas, padronizadas, e um comércio enorme para distribuir o produto. Fortunas colossais foram empregadas na exploração do ramo.
Os limites dentro dos quais se aceita ou se rejeita determinado produto são fixados pela própria natureza humana vivificada pela Fé católica. O desafio da técnica apareceu num momento em que o homem deveria responder com uma intensificação desse tipo de virtude pela qual ele é cioso de suas próprias características.
A boa individualidade é aquela que leva alguém a amar o seu próprio ser, com a condição de ser reto, visando realizar uma espécie de perfeição para a qual a vontade divina o chama. Se não for assim, a pessoa não aceita, porque então se poderia aplicar a ela o que Nosso Senhor disse de Judas: “Melhor seria que não tivesse nascido” (cf. Mt 26, 24).
A defesa da individualidade é a defesa da perfeição pessoal a respeito da qual Deus deu ao indivíduo certa intuição e que ele deve procurar alcançar, custe o que custar, para assim, realizando-a nesta vida, unir-se a Ele, suprema Perfeição.
Ora, diante dessa avalanche industrial e comercial, o zelo por esta sadia individualidade desapareceu. Portanto, o império da técnica nasce do menoscabo às legítimas exigências e preferências individuais.
1) “Revolução Industrial, velocidade e pulchrum”, p. 9-13.
2) Excertos de conferências de 14/11/1986 e 21/12/1987.