Uma ponte que exprime magnificamente duas virtudes cardeais, a temperança e a fortaleza; portanto, há por detrás dela uma beleza moral. Lampadários belos, esguios e nobres. Um palácio lindamente decorado por dentro e guarnecido de duas torres medievais pontudas, as quais constituem reminiscência de um episódio histórico.
Vejamos alguns monumentos, lugares, ambientes e objetos aos quais se podem aplicar o que eu disse a respeito da distinção, do donaire dos grandes personagens da História Católica1.
Talento francês: graça e garra
Esta é uma ponte em Paris: Pont Neuf. Observem o material com que ela é construída: granito, um material bom, mas não caro. Trata-se de uma ponte comum que transpõe o Rio Sena. No entanto, ela poderia dar acesso a um castelo faustoso por causa de suas linhas, do seu lado artístico, o qual, embora sem enfeites, tem uma grandeza que a torna venerável.
A ponte é sustentada por colunas separadas entre si por arcos. Assim, cada arco é ladeado por duas colunas, de uma ponta a outra. São colunas grossonas – dão quase a impressão de pedaços, e não de colunas inteiras –, sérias. Os arcos são dignos, sérios, pesados e muito profundos, porque a ponte é muito larga. Quem a atravessa de barco tem a impressão de cruzar toda uma muralha espessa de um castelo mítico. Esses arcos simplesmente se repetem um ao outro, com uma seriedade e uma distinção completas. Não há aí nenhum brilhante, nenhuma safira; dinheiro se gastou pouco aí. O que entrou muito? A arte. Mas arte em que sentido? Alma. E alma em que sentido? Veem-se restos da seriedade grave, firme e forte da Idade Média.
No que se fundamenta essa impressão de firmeza e força? A ponte enfrenta uma porção de obstáculos. Ela tem, em geral, um fundo de leito de rio viscoso e precisa deitar as garras bem por baixo do lodo, na terra firme, para ter solidez. Por outro lado, ela carrega um peso muito grande, que é o tabuleiro da ponte, acrescido de tudo e de todos que passam por cima. A ponte precisa ser tal que se nós a imaginarmos, por uma razão qualquer, toda cheia de gente ou de veículos numa hora de trânsito muito obstruído, não há o menor problema: ela carrega com seriedade e com indiferença. A seriedade indiferente a obstáculos e agarrando as dificuldades, empunhando-as e impondo-se a elas, é o próprio aspecto da alma católica dotada da virtude da fortaleza. Essa regularidade nos fala da temperança, a qual é regular em tudo. Temos, assim, duas virtudes cardeais que se exprimem magnificamente nesse monumento. Logo, há uma beleza moral por detrás dessa ponte.
Vista à distância, o aspecto forte e pesado se dilui um tanto, e ela se torna mais graciosa, sem perder aquela garra e força própria às coisas que devem ser fortes. A mistura da graça com a garra é um dos traços do talento francês, um dos fatores do famoso charme. Observada por determinados ângulos, a ponte deixa ver uma parte do seu charme. Mas o que é esse charme? É o sorriso da alma católica.
Elegância aristocrática e majestade real
Outras verdadeiras obras de arte que exprimem inteiramente o espírito francês são esses lindos lampadários localizados perto do Museu do Louvre, em Paris. Cada lâmpada, provavelmente de um cristal muito bom, é alta e encimada por algo que dá a impressão das flores de groselha, como as que se encontram nas coroas dos reis. Depois há um certo espaço e, por cima, umas coroinhas pequenas. Por fim, no ápice, a cruz.
É um misto de elegância aristocrática e de majestade real. Observem o braço dos lampadários: há um pino central e braços colaterais. Vejam a leveza com que cada braço desses carrega um lampadário num movimento natural, como quem está quase se distraindo e levando o lampadário na mão.
Para percebermos bem como isso é belo, imaginemos que o lampadário fosse preso à parte central por um eixo perpendicular o qual pegasse em baixo o lampadário. Ficariam três toquinhos pequenos e quadrados. Assim como foram concebidos, não são indiscutivelmente mais belos, esguios e nobres? Em uma palavra: não há Contra-Revolução dentro disso?
Duas torres históricas
Outro monumento ligado à História da França, à Contra-Revolução e a um determinado tipo humano é o Palácio dos Rohan.
A família dos Príncipes de Rohan era de descendentes dos Duques antigos da Bretanha, mas colateralmente. Os Duques da Bretanha tinham toda a categoria de príncipes, as princesas casavam-se com reis. Eram mais ou menos como os Duques da Baviera, de Württemberg, grandes ducados, que se casavam com pessoas da realeza, absolutamente de igual a igual. Os Rohan não eram dessa categoria, mas pertenciam a um ramo dessa categoria. Eles constituíam, com algumas outras famílias da alta nobreza francesa, um verdadeiro escalão intermediário entre a família real e o comum dos nobres da corte.
O palácio deles, belamente decorado por dentro, é guarnecido de duas torres medievais pontudas que estão em contraste com o estilo já completamente dos Tempos Modernos, isto é, do período que vai do fim da Idade Média até a Revolução Francesa. Trata-se, portanto, de um estilo marcadamente anterior à Revolução Francesa, mas não é o medieval.
Entretanto, encaixadas nesse edifício, encontramos as duas torres medievais com os tetos em cone muito alto. Disseram-me – não tive ocasião de confirmar – que essas duas torres constituem uma reminiscência do seguinte episódio:
Antigamente elevava-se nesse lugar o Palácio dos Príncipes de Lorena, ramo francês dessa Casa principesca. Tinham muito poder na França, possuíam feudos, dinheiro, eram muito bons políticos, estabeleciam alianças políticas muito poderosas. O palácio deles foi derrubado para dar origem ao Palácio dos Rohan. Estes provavelmente o compraram e construíram esse palácio, de uma regularidade clássica muito bonita e distinta. Conservaram, porém, do Castelo dos Príncipes de Lorena aqueles aposentos localizados no andar térreo e as duas torres.
Estas são muito próximas uma da outra, e há uma sala que se espraia de uma torre para outra, formando uma só sala na base. Quando os Príncipes de Lorena, que foram os líderes dos católicos na luta contra os protestantes, tinham confabulações políticas importantes e muito secretas, iam para essa sala. A família toda se trancava ali e faziam as suas reuniões privadas, nas quais estavam presentes o que havia de mais decisivo do elemento político da ala católica da França, e que impediu a França cair no protestantismo. Então essas duas torres são históricas.
Embora, dentre os Príncipes da Casa de Lorena, vários fossem objetáveis enquanto costumes, essa era uma Casa muito abençoada e que tinha no mais alto grau o charme. Basta dizer que pertenciam a essa Casa duas rainhas célebres na História, por seu charme único e ao mesmo tempo por seu infortúnio sem nome: Maria Stuart, Rainha da Escócia – que morreu decapitada, entre outras razões pelo fato de ser católica, e o Reino da Escócia ter passado todo para o protestantismo – e Maria Antonieta.
(Extraído de conferência de 13/1/1989)
1) Ver Revista Dr. Plinio n. 231, p. 32-35.