sábado, noviembre 23, 2024

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União de almas entre Dona Lucilia e Dr. Plinio

Dona Lucilia produzia grande efeito sobre seu filho e, como mãe modelar, procurava estimular Dr. Plinio naquilo que ele tinha de parecido com ela e incentivar o que possuía de diferente dela. Vendo-a, Dr. Plinio melhor compreendia as coisas da Igreja e da Civilização Cristã.

Graças a Deus, a união entre mamãe e mim era realmente muito grande. Se eu a tomasse como pessoa e depois como minha mãe, eu notaria que enquanto pessoa, abstraindo da relação entre mãe e filho, havia entre nós afinidades enormes. Entretanto, existiam também alguns pontos que não eram de contraste, mas de diferença e que se explicavam por aquilo que a Providência queria de cada um de nós no decurso desta vida mortal.

Uma espécie de telegrafia sem fio

Ela deveria levar a vida na santa campânula do ambiente familiar e doméstico, com piedade e oração como era naquele tempo, educar os filhos, etc., com a elevação de vistas que lhe era própria. Eu, porém, era chamado para as borrascas e tempestades.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1965

É evidente que havia na alma dela, legitimamente, um movimento para concentrar, fechar, preservar, isolar, proteger; enquanto o meu movimento era o ímpeto para andar dentro da ventania, para atacar, ser atacado, enfim, para tocar a nossa gesta para a frente.

O que criava, naturalmente, não entrechoques, mas diferenças de modo de ser que entram pelos olhos.

Acontece que somando a condição de pessoa, de alma muitíssimo afim à minha, à condição de mãe, eu era levado a achar que ela era dotada de uma espécie de cognição exatíssima, muito delicada, de uma precisão extraordinária daquilo que era eu enquanto eu, e mesmo no que era diferente dela. E aquilo ela queria, mesmo quando não entendia inteiramente. E fazia um esforço para apoiar e incentivar que eu fosse eu. Procurava, por esta forma, completar-me de dois modos: estimular-me no que eu tinha de parecido com ela e estimular no que possuía de diferente dela.

Entrava aí uma graça qualquer que não era apenas a dela como católica, mas é a graça como mãe. Uma mãe modelar, muito extremosa e na qual esse relacionamento mãe e filho tomava alguma coisa de parecido com causa e efeito. Ela via até o fundo o que estava em minha alma.

Às vezes por um olhar, um timbre de voz, uma pequena oferta: “Você quer aquilo?”, ou por uma carícia quando eu passava… Era toda uma espécie de telegrafia sem fio, que tinha o efeito que ela e eu nos entendíamos. Mamãe produzia um efeito sobre mim, mesmo quando ela estava numa outra sala e eu a ouvia falar; quando ela se encontrava numa outra casa, mas eu tinha conhecimento de que ela estava lá; e até mesmo quando ela se encontrava noutra cidade ou noutro país, mas eu sabia que ela estava sobre a face da Terra.

Graças recebidas junto à sepultura de Dona Lucilia

É curioso que quando ouço alguém me contar esta ou aquela graça que recebeu junto à sepultura dela no Cemitério da Consolação, não digo nada, mas fico prestando atenção e me lembrando. Enquanto a pessoa descreve como a graça se fez sentir nela, como a guiou, a apaziguou, a estimulou, numa palavra, a iluminou e a ordenou, eu me recordo enormemente da ação de presença que ela desenvolvia sobre mim. Muito parecida com isso.

Portanto, para mim tem um duplo sentido: o benefício feito às pessoas, mas também algo por onde ela como que me diz: “Meu filho, você se lembra? Eu continuo sempre a mesma, estou lá, ajudo você e um dia nos veremos juntos. Esteja tranquilo, sereno, vá para a frente. No momento, não pense no dia em que nos encontraremos, mas sim neste resto de trajeto que você precisa percorrer, onde você ainda terá outras notícias minhas como essa.”

Estou me lembrando de que há pouco tempo deu-se isso: era uma pessoa boa que eu encontrava de vez em quando, nos saudávamos, mas as coisas mantinham-se paradas. Num certo momento encontro com ele, noto que me olha de um modo especial e pensei: “Aqui tem uma graça da Consolação.”

Eu nada lhe disse. Uns dias depois, ele se encontra comigo, me diz qualquer coisa e acrescenta: “O senhor sabe, estive no Cemitério da Consolação. Eu estava ali rezando – e pelo gesto dele deu a entender que eram orações de rotina – quando de repente, não sei o que se passou em mim, meu horizonte se abriu. Compreendi tão bem uma série de coisas que eu não tinha entendido, vi tão bem coisas que eu não tinha visto, que me sinto outro! E no convívio com o senhor sinto um outro convívio que não era o de antigamente.”

E aí me disse algumas coisas a respeito dele. De fato, quando no primeiro momento eu notei nele essa transformação, pensei: “Aí tem graça do Cemitério da Consolação”. Depois refleti: “Dir-se-ia que ele fisicamente viu mamãe durante um momento”.

Vendo-a, Dr. Plinio melhor compreendia a Igreja e a Civilização Cristã

Mas eu quero descrever o efeito de alma que senti inúmeras vezes vendo a ela. Para responder a uma pergunta de como era o meu relacionamento com ela, aqui fica bem encaixada a resposta.

O fato concreto é que isso se desenvolveu da seguinte maneira: vendo-a, eu melhor compreendia as coisas da Igreja e da Civilização Cristã.

Hoje em dia, em que cheguei a um longo convívio, graças a Deus e a Nossa Senhora, com a Igreja, compreendendo, portanto, melhor – também tal seria! – do que no tempo em que eu era pequeno, aquilo que em alguma medida foi reflexo de mamãe; hoje se reflete da sua memória e serve para me lembrar dela.

Arquivo Revista
Dr. Plinio na década de 1980

Outro dia, quando estivemos na Igreja Coração de Jesus, quase que por todos os lugares eu contemplava primeiramente a igreja, mas depois me parecia ver os estados de alma de mamãe por toda parte. Isso compunha enormemente a recordação que eu levava dela.

É preciso dizer que não são muitas as ocasiões em minha vida em que ela interveio para afastar ou resolver tal provação ou dificuldade, em que eu possa dizer que tenha pedido a intervenção de mamãe e senti que ela interveio. Mesmo em sua vida terrena, não são muitos os fatos em que ela interveio com um conselho, um ato ou qualquer coisa assim. Era muito mais uma ação sobre mim para me pôr em proporção com os acontecimentos, do que desviá-los. Mas isso é, de longe, o mais precioso! E ela o fazia intensamente.

A palavra humana nunca esgota inteiramente a realidade

Ser-me-ia difícil dizer mais do que eu disse. Realmente raspei o fundo das possibilidades da palavra humana. A minha palavra esbarra numa insuficiência de expressão. Seria como, por exemplo, quem tomasse um topázio azul e o pusesse contra a luz. O topázio de si não pode dar a não ser o que está nele!… Podem-se fazer jogos de luz com ele, mas dará somente o que está nele. Também no que diz respeito a meu convívio com mamãe, eu não saberia dizer mais.

Imaginem que alguém lhes perguntasse que impressão tem olhando para a foto do Quadrinho1. São muitas impressões, mas que chegam ao indizível. Ao cabo de alguns momentos, não se sabe mais o que dizer. Tem-se muito que falar, mas não se sabe mais dizer, porque a palavra humana nunca esgota inteiramente a realidade.

Aliás, uma das coisas que torna bela a palavra humana é exatamente o fato de que ela, no fundo de tudo quanto diz, tem algo que não diz e que se entrevê com a ajuda do que ela diz. Isso dá à palavra uma beleza especial.

Compreendo que me perguntem: “Mas entrando mais a fundo na floresta, o que existe?”

Respondo: “Árvores!” O que posso dizer?

Quem sabe se num outro dia essas recordações, postas debaixo de outra luz, com outro ângulo, apresentam novas refrações e eu possa dizer algo a mais.

(Extraído de conferência de 28/10/1980)

1) Quadro a óleo, que muito agradou a Dr . Plinio, pintado por um de seus discípulos, com base nas últimas fotografias de Dona Lucilia. Cf. Revista Dr. Plinio n. 119, p. 6-9.

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