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Brasil, grande nação missionária

O ciclo das navegações é apreciado, pela maior parte dos compêndios, apenas em seus resultados econômicos e políticos. De nada ou quase nada tem valido que historiadores do melhor quilate hajam demonstrado coisa diversa. Acumulam-se as provas de que o primeiro móvel da alma lusa na aventura das navegações foi apostólico; que os desbravadores de oceanos que o pequenino Portugal deitou pela vastidão dos mares tinham almas de cruzados e não de mascates. Para a História corrente, manipulada e deformada segundo as conveniências da irreligião, a glória de Portugal continua privada do esplendor sacral e heroico dos ideais religiosos, e reduzida ao mérito sem panache das realizações materiais da vida burguesa.

Nada disso, porém, altera a evidente realidade dos fatos. O Brasil deve à ação missionária do luso a suprema graça de pertencer à Igreja. Era bom que se lembrasse isto no mês das Missões: o Brasil nasceu como uma realização missionária.

Portugal não encerrou o ciclo de seus feitos religiosos com as navegações. A Providência Divina confiou ao povo português outra grande obra missionária. Querendo falar ao mundo, Nossa Senhora escolheu três pequeninos portugueses como seus arautos. Em Fátima, Nossa Senhora fez revelações de um alcance universal. Toda a crise contemporânea e suas raízes profundas de impiedade e pecado, os cataclismos universais que dela vão nascer, tudo o que mais a fundo interessa à humanidade inteira nas terríveis convulsões de hoje Nossa Senhora o confiou a três pastorinhos portugueses, para que dos lábios desses pequeninos pendesse para o mundo orgulhoso e abatido a terrível e maravilhosa mensagem.

É impossível não ver que Nossa Senhora concedeu à antiga nação missionária uma grande tarefa histórica a realizar. Os que eram ontem arautos de Cristo são acrescidos de mais um título: arautos da Virgem. As nações de língua portuguesa juntamente com Portugal têm a incumbência de pregar a todos os povos o grande fato religioso do século XX, que são as aparições de Fátima.

Este mês missionário tem duas grandes festas de Maria: Nossa Senhora do Rosário e Nossa Senhora de Fátima.

Fruto de um esforço missionário, o Brasil foi sempre ardente devoto de Maria Santíssima. A festa de Fátima tem para nós um especialíssimo significado, pois lembra de modo muito especial que estamos no momento de produzir, para a dilatação do Reino de Cristo, os frutos que as inúmeras graças e dons sobrenaturais e naturais de que fomos cumulados nos obrigam a dar ao mundo.

Nosso imenso País entra para a primeira plana da vida internacional precisamente em uma quadra na qual o esforço missionário é mais necessário do que nunca. Não se trata só de conduzir ao redil de Jesus Cristo as nações do Oriente. É no Ocidente, no próprio grêmio da Cristandade em ruínas que se instalou um paganismo mil vezes pior do que o antigo. O neopaganismo contemporâneo não tem a explicação tantas vezes cabível quanto aos pagãos orientais: a ignorância. No paganismo ocidental fermenta a apostasia, o pecado contra o Espírito Santo, o amor deliberado e satânico ao erro e ao mal. É contra os hereges de hoje, que perderam suas últimas tintas de Cristianismo, que o esforço missionário do Brasil se torna necessário.

O Brasil tem de ser o grande arauto da realeza de Jesus Cristo. E para cumprir sua missão, é preciso que ele atenda ao apelo marial de Fátima, torne-se um pregoeiro infatigável da devoção a Nossa Senhora. As devoções marianas são as estradas reais pelas quais se chega a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em Fátima, Nossa Senhora recomendou duas devoções, de modo todo particular. A elas há de se apegar o Brasil com o maior fervor. Uma é a do Coração Imaculado de Maria. Outra é a do Santo Rosário.

Se o Brasil quiser ser a grande nação de cruzados e missionários, é por meio de uma ardente piedade marial que conseguirá essa graça. E se quiser essa graça, há de implorá-la pelos meios que a própria Virgem indicou.*

* Excertos do artigo “Fátima” em O Legionário, 7/10/1945.

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