sábado, noviembre 23, 2024

Populares da semana

Relacionados

Apareceu a benignidade de nosso Salvador

Jesus Cristo divide a História em duas vertentes inteiramente diversas. É Ele a Sabedoria triunfal que domina o mundo de um a outro extremo. Entretanto, a doçura, glória e suavidade do Natal destoam profundamente do aspecto dramático do mundo contemporâneo. Há quase oitenta anos Dr. Plinio exortava a respeito do significado religioso desta grande data.

Infelizmente, são hoje poucos os fiéis que dão ao Santo Natal todo o seu significado. Para alguns, a data é mero pretexto para comemorações mundanas. Para outros, é mera festa da família, em que, por acidente, também se comemora o nascimento do Salvador. Como Ele nasceu menino, a data interessa aos meninos. Este o nexo único entre as celebrações domésticas e religiosas do Natal. Para outros, finalmente, o Santo Natal é por certo uma data de imenso significado religioso.

Centro da História e marco de uma era inteiramente nova

Mas a palavra “religioso” é tomada neste caso apenas em seu sentido mais estrito. Cristo, Senhor Nosso, encarnando-Se e morrendo por nós, franqueou a todos os homens as portas do Céu. Dentro do âmbito muito exatamente delimitado das igrejas, o Natal tem, pois, um imenso significado. Mas fora daí, não tem importância.

Pouquíssimos são os que compreendem que, de fato, o Santo Natal representa, antes de tudo e acima de tudo, com a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, uma honra inestimável para o pobre gênero humano e o primeiro marco da vida terrena de nosso Redentor, cujo termo seria a nossa salvação.

Além deste significado primordial e essencial, o Santo Natal tem outro: Jesus Cristo, encarnando-Se, evangelizando os homens, fundando a Santa Igreja, morrendo por nós e salvando-nos, abriu uma era inteiramente nova na vida dos povos. Ele renovou a Terra. E, a este título, a Encarnação do Verbo é o acontecimento fundamental da História das civilizações, o marco inicial dos tempos do homem renovado. Não é por mera ficção que se contam os anos a partir do nascimento de Cristo. Realmente Jesus Cristo divide a História em duas vertentes inteiramente diversas. O mundo antes d’Ele era um, depois passou a ser outro. São dois mundos. Poder-se-ia quase dizer que são duas Histórias.

Com efeito, toda a civilização cristã não é senão uma consequência da obra da Redenção. Sem a Redenção, a civilização cristã e católica seria impossível. E como foi essa a maior das civilizações na História, a única a merecer verdadeiramente o nome de civilização, é incontestável que não houve nem haverá obra mais alta nem mais fundamental, ainda mesmo do mero ponto de vista da civilização, do que a que Cristo, Senhor Nosso, realizou.

A ideia de que o Santo Natal é o centro da História, se encontra em toda a Liturgia destes dias.

Esperança de um Salvador

Toda a antiguidade foi impregnada pela esperança de um Salvador. Por Ele ansiaram os profetas da antiga Lei e todo o povo de Israel. Seu advento era o grande e fundamental acontecimento, diante do qual a formação e queda dos maiores impérios eram sem importância.

Teodoro Reis
Profetas – Catedral de Santiago de Compostela

De modo todo particular, estes sentimentos de expectativa, que nos mostram em sua verdadeira perspectiva os acontecimentos do mundo pagão – pequenos em presença do grande acontecimento que se esperava –, estão proclamados nas famosas antífonas do Advento, que seguem:

Oh, Sabedoria que procedeste da boca do Altíssimo, atingindo de uma extremidade à outra e dispondo todas as coisas com força e doçura, vem para nos ensinar o caminho da prudência!

Oh, Adonai, Senhor e condutor da Casa de Israel, que apareceste a Moisés na chama de uma sarça ardente e que lhe deste a Lei no alto do Sinai: vem para nos resgatar pelo poder de teu braço!

Oh, raiz de Jessé, erguida como estandarte dos povos, em cuja presença os reis se calarão e a quem as nações invocarão, vem libertar-nos, não tardes mais!

Oh, chave de David e cetro da Casa de Israel, que abres e ninguém pode fechar, que fechas é ninguém pode abrir, vem e tira da prisão o cativo que está sentado nas trevas e na sombra da morte!

Oh, Oriente, esplendor da luz eterna e Sol da justiça, vem e ilumina os que estão sentados nas trevas e nas sombras da morte!

Oh, Rei das nações e objeto de seus desejos, pedra angular que reúnes em Ti os povos, salva os homens que formaste do limo!

Oh, Emanuel, nosso Rei e nosso Legislador, o Esperado das nações e seu Salvador, vem salvar-nos, Senhor nosso Deus!

Alegria triunfal e santíssima

Essas exclamações magníficas da Liturgia, extraídas da Sagrada Escritura, exprimem o anseio de todos os profetas, de todos os justos, pela vinda do Messias prometido.

Através delas transparece com toda a clareza o papel fundamental de Nosso Senhor Jesus Cristo, quer na economia da salvação, quer na vida de todos os povos nesta Terra. É Ele a sabedoria triunfal que domina o mundo de um a outro extremo; Ele, o Salvador que nos salvará “com a potência de seu braço”; Ele, que tirará o prisioneiro da prisão, e iluminará “os que estão sentados à sombra da morte”; Ele, o Rei desejado, o Legislador omnipotente. Todas estas exclamações indicam bem claramente um mundo que se debate nas trevas, na impotência, na tristeza, e que Nosso Senhor Jesus Cristo vem salvar, reunir, elevar à verdadeira civilização.

Compreende-se, pois, a alegria triunfal e santíssima com que a Igreja canta no Introito da Missa da aurora, no dia de Natal: “A Luz brilhará hoje sobre nós, porque nos nasceu o Senhor”, e na Epístola lembra as palavras de São Paulo a Tito: “Manifestou-se a benignidade e a amabilidade de Deus, nosso Salvador. Ele nos salvou, não pelas obras de justiça que tivéssemos feito, mas por sua misericórdia, pelo renascimento e pela renovação no Espírito Santo, que copiosamente derramou sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por sua graça, sejamos herdeiros da vida eterna que é nossa esperança no Cristo Jesus, Nosso Senhor.”

J. P. Braido
Sagrada Família (coleção particular)

No Introito da próxima Missa, estas palavras de júbilo mais uma vez se acentuam: “Uma Criança nasceu para nós, e um Filho nos foi dado. Ele traz sobre seus ombros a marca de sua realeza e seu nome é Anjo do Grande Conselho.” Cristo vem para o mundo inteiro: “Todos os confins da Terra viram a salvação de nosso Deus. Aclamai a Deus, Terra inteira, o Senhor fez conhecer sua salvação; Ele revelou sua justiça aos olhos das nações”, diz o Gradual.

E na Liturgia desse dia encontramos mais esta exclamação radiosa: “Hoje Cristo nasceu, hoje apareceu o Salvador, hoje sobre toda a Terra cantam os Anjos, se regozijam os Arcanjos, hoje todos os justos nos transportes da sua alegria repetem: “Glória a Deus no mais alto dos céus, aleluia!”

Aspecto dramático do mundo contemporâneo

Destoa profundamente da doçura, glória e suavidade deste quadro magnífico, o aspecto dramático do mundo contemporâneo. O pecado parece dominar o mundo inteiro. A guerra estende por quase toda a Terra as suas devastações. O ódio, a sensualidade, a impiedade campeiam infrenes. Entretanto, continua a ser verdadeira a afirmação da Liturgia: “A Vós, Senhor, pertencem os céus, a Vós a terra; sois Vós quem fundastes o universo e quanto ele contém. A justiça e a equidade são o apoio de vosso trono.”

Com efeito, a revolta das criaturas não aliena nem destrói o domínio que sobre elas exerce o Criador. Rebelde embora, o mundo continua a pertencer a Nosso Senhor Jesus Cristo. E Ele, o Rei, Rei pacífico, Rei misericordioso, continua a atrair a Si todas as criaturas.

Junto ao santo Presepe, sejam nossos sentimentos de profunda confiança na misericórdia divina. Em nós, em torno de nós, pela graça de Cristo, Senhor Nosso, será só Ele o verdadeiro Rei. Pelo ardor na correspondência à graça divina e nas fainas do apostolado, saibamos subtrair-nos ao jugo do pecado e atrair para Cristo todos os povos infiéis. No Presepe, Cristo nos aparece bem junto de Maria, como que a lembrar que com a intercessão da Mãe que é d’Ele e nossa, tudo podemos esperar, tudo devemos pedir em benefício das almas.

(Extraído de O Legionário n. 594, 25/12/1943)

Artigos populares