jueves, noviembre 21, 2024

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“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”

Ultimamente, têm sido instilados nas fileiras católicas preconceitos tenazes contra certas devoções, entre as quais o culto ao Santíssimo Sacramento extra Missam e o Santo Rosário.

Ora, ambas estas devoções são fortemente inculcadas em Fátima.

Para Deus nada é impossível. Assim, se aprouvesse à Providência, os pequenos pastores poderiam ter sido transportados – por um fenômeno de bilocação, por exemplo – a algum lugar onde se celebrasse o Santo Sacrifício, para no decurso dele receberem a Sagrada Comunhão. Em última análise, isto seria tão extraordinário quanto confiar ao Anjo as Sagradas Espécies para que delas comungassem os pastorinhos. No entanto, foi este último o modo disposto pela Providência. Se houvesse no culto eucarístico extra Missam qualquer coisa de intrinsecamente contrário à verdadeira maneira de entender a Presença Real, seria impossível que a Providência determinasse que a adoração eucarística do Anjo e a Primeira Comunhão dos pastores se realizassem do modo pelo qual efetivamente se realizaram.

Quanto ao Santo Rosário, seria difícil recomendá-lo com insistência maior. “Eu sou a Senhora do Rosário”, disse de Si mesma a Santa Virgem na última das aparições. E em quase todas elas inculcou explicitamente esta devoção aos pastorinhos. Como pretender, pois, que o Rosário perdeu algo de sua atualidade?

Apregoa-se ainda que a meditação do inferno é inadequada a nossos dias, e capaz apenas de incutir um temor servil. Esta afirmação cai por terra fragorosamente, à vista do que ocorreu em Fátima, pois a visão do inferno com que os três pastorinhos foram favorecidos destinava-se evidentemente a acrisolar seu amor e seu senso de apostolado.

Em Fátima se inculca igualmente, com expressiva insistência, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus que, ela também, tem sido posta na penumbra por certa tendência de espiritualidade muito em voga em nossos dias. O culto ao Sagrado Coração de Jesus foi considerado por todos os teólogos como uma das mais preciosas graças com que a Santa Igreja tem sido confortada nos últimos séculos. Destinava-se ela a reanimar nos homens o amor de Deus entorpecido pelo naturalismo da Renascença, pelos erros dos protestantes, jansenistas, deístas e racionalistas. No século passado, foi por meio desta devoção que o Apostolado da Oração produziu um admirável reflorescimento da vida religiosa em todo o mundo. E, como os males de que o Sagrado Coração de Jesus nos deve preservar crescem dia a dia, é evidente que dia a dia se acentua a atualidade desta incomparável devoção.

Contudo, é preciso acrescentar que, com a agravação dos males contemporâneos, a Providência quis como que superar a Si própria apontando aos homens como alvo de sua piedade o Coração de Maria, cujo culto de certo modo requinta e leva à sua plenitude a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Os estudos e a devoção cordimarianos não são novos. Quer nos parecer, entretanto, que a simples leitura da Mensagem de Fátima demonstra com quanta insistência Nossa Senhora os quer para nossos dias. A missão que Ela confiou à Irmã Lúcia foi especialmente a de ficar na Terra para atrair os homens ao Coração Imaculado de Maria. Várias vezes esta devoção é recomendada durante as visões. Este Coração Santíssimo nos aparece mesmo, na segunda aparição, coroado de espinhos pelos nossos pecados, a pedir a oração reparadora dos homens. Parece-nos que este ponto compendia em si todos os tesouros das mensagens de Fátima.

Em seu conjunto, pois, as aparições de Fátima, de um lado, nos instruem sobre a terrível gravidade da situação mundial e as verdadeiras causas de nossos males; e, de outro lado, nos ensinam os meios pelos quais devemos obviar os castigos terrenos e eternos que nos ameaçam.

Aos antigos, Deus enviou profetas. Em nossos dias, falou-nos pela própria Rainha dos Profetas. Diante disso, o que dizer? As únicas palavras adequadas são as de Nosso Senhor no Santo Evangelho: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Lc 8, 8).*

* Cf. A Devoção ao Coração de Maria salvará o mundo do Comunismo, in Catolicismo n. 30, junho de 1953.

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