O incomparável Elias deu à Ordem do Carmo riquíssima seiva espiritual, produzindo legiões de homens e mulheres que se coroaram com as rosas da santidade, com os astros da sabedoria, com os louros do martírio e com os lírios da virgindade.
Qualquer que seja a ideia que nós formemos de uma Ordem Religiosa, é mister reconhecer que os esplendores de suas futuras glórias dependem sempre dos princípios vitais sobre os quais se alicerça o seu organismo, e da seiva vivificante que em divinas difusões corre por todos os membros que compõem sua organização secular.
Espírito de fogo
A instituição religiosa assim formada, nutrida, vivificada, amará necessariamente o seu princípio, a sua origem, assim como os filhos amam aos pais, a Terra ao Sol que a fecunda, e os astros ao centro de gravidade em que repousam.
Posto isto, cumpre perguntar: Que seiva misteriosa tem conservado sempre a vida exuberante da Ordem Carmelitana? Que fator lhe proporciona os elementos da sua organização sempre jovem e louçã, após tantos séculos de existência?
Não será difícil responder a essa pergunta se remontarmos a tempos remotíssimos, se buscarmos no Carmelo a formosa e celestial figura do Profeta de Deus, Elias de Tesbe. Foi este grande Profeta, o espírito de fogo, o incomparável Elias, quem deu à Ordem do Carmo a riquíssima seiva espiritual de que a mesma se tem alimentado através da sua existência multissecular, produzindo legiões de homens e mulheres que se coroaram com as rosas da santidade, com os astros da sabedoria, com os louros do martírio e com os lírios da virgindade!
Pai e Fundador da Ordem do Carmelo
Não é somente o carmelita, senão a Igreja Universal, quem reconhece e venera o Santo Profeta Elias como o Pai e Fundador da Ordem do Carmelo. Não podemos resistir ao impulso de inserir, a este propósito, um brilhante testemunho do exímio teólogo Suárez1, que confirma esta verdade:
“É uma tradição geralmente recebida e muito antiga que a origem da Ordem Carmelitana remonta ao tempo dos Profetas, e especialmente ao tempo de Elias, e que deste mesmo provém a sucessão hereditária iniciada no Monte Carmelo, do qual monte a Ordem tira o seu nome, tradição esta que recebemos como verdadeira, tanto mais que os Sumos Pontífices Sixto IV, João XXII, Júlio II, Pio V, Gregório XIII, Sixto V e Clemente VIII, nas Bulas concedidas a esta Ordem, falam dos seus membros, os religiosos, nestes termos: Resplandecem na caridade como espelho e modelo, datando a sua origem do tempo dos Santos Profetas Elias e Eliseu e de outros Santos Padres, que habitaram a Montanha Santa do Carmelo. Por isso, Sixto V lhes permitiu honrassem a Elias e Eliseu como seus Patriarcas, celebrando suas festas e recitando seus ofícios próprios. Donde resulta que se reconhece a Elias como verdadeiro Pai e Fundador (Suárez, tom. 4, de Relig., tratado 9, cap. 9).
Eis, pois, segundo o testemunho dos pontífices e dos teólogos mais eminentes, o manancial riquíssimo donde tem brotado a seiva vivificante que anima o espírito do Carmelo!
Os carmelitas, por sua vez, não têm cessado de venerar aquele de quem receberam a vida espiritual. Desde os primeiros moradores do Carmelo até Santo Ângelo, mártir carmelita, que em nome de Elias dividiu como Moisés as águas do Jordão; e desde este Santo até à gloriosa Reformadora do Carmelo com quem se comunicou o Santo Profeta, e desde Santa Teresa até os nossos dias, nem um instante sequer se tem interrompido a cadeia de santos afetos, com que os carmelitas têm manifestado seu amor e gratidão a seu admirável Pai e Fundador.
(Extraído de O Legionário n. 786, 31/8/1947)
1) Francisco Suárez de Toledo Vázquez de Utiel y González de la Torre (*1548 – †1617), teólogo, filósofo e jurista jesuíta espanhol, conhecido como Doutor Exímio.