A piedade dos verdadeiros filhos da Igreja não se contenta com saber que Nossa Senhora, em virtude dos mais sólidos e indiscutíveis argumentos teológicos, é nossa Mãe. Ela se compraz em admirar, na ordem concreta dos fatos, o poder sem limites e o amor incomensurável com os quais essa Mãe dirige a vida de cada um de nós, implorando junto ao trono de Deus as melhores graças para seus filhos, guiando-lhes os passos nos transes tão difíceis da vida espiritual e apartando de seu caminho, no que diz respeito à vida terrena, todos os sofrimentos que não sejam indispensáveis à santificação.
Nenhum católico pode negar que a Santíssima Virgem é a Medianeira de todas as graças, e que, portanto, sem o apoio de suas orações ninguém se pode salvar.
A fermentação de um espírito por demais voltado para as coisas mundanas faz alguns católicos imaginarem que devem ocultar em seu apostolado as exigências austeras da Moral Católica, a qual não raramente exige dos próprios neófitos, à vista de certas circunstâncias da vida, sacrifícios absolutamente heroicos. Dizem tais espíritos que a declaração do dever implica em afugentar as almas. Melhor seria falar-lhes em direitos do que em deveres, em permissões do que em obrigações, em tolerâncias em vez de lutas. Assim mais facilmente aceitariam a Doutrina Católica.
Sem analisar tudo quanto de errado há em tal concepção, acentuo somente que em lugar de deformar o Catolicismo subtraindo aos olhos de todos a austeridade de sua Moral, dever-se-ia proclamá-lo completo como ele é, pregando, juntamente com a austeridade, as verdades suaves e consoladoras que nos tornam não só suportável, mas empolgante o caminho a seguir.
Em lugar de perpétuos recuos, de indefinições intencionais, de transigências que confinam decididamente com o mais censurável laxismo, seria muito preferível que se atraíssem as almas com a proclamação do amor de Deus aos homens manifestado, sobretudo, nos mistérios inefavelmente consoladores da Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, na definição do amor do Coração de Jesus e das graças infinitas que Ele nos dispensa, e na devoção a Nossa Senhora.
São essas verdades que enchem de luz o caminho austero, as quais, em lugar de nos afastar da senda do bem, nos dão forças de as trilhar resolutamente e que nos conservam igualmente distantes de uma permissividade e de um rigorismo heréticos.
O apostolado de conquista não pode ter como processo o recuo sistemático ante o espírito do mundo, a omissão de nossos deveres que não se poderia chamar de simplesmente ardilosa, e a camuflagem do Catolicismo. Manifestemos com santa ufania as cruzes, os espinhos, as lutas que se encontram nas vias do verdadeiro católico. Tal atitude não afugentará os neófitos, se lhes soubermos mostrar esse caminho resplendendo de glória pelo esplendor do Sol das almas que é o Coração de Jesus, e suavizado a cada passo pelo sorriso maternal de Maria.*
* Cf. O Legionário, 18/2/1940.