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Aceitação digna, forte e doce do sofrimento

Dona Lucilia compreendeu muito bem a sublimidade do sofrimento, aceitando-o sempre tranquila, digna e serena, realizando assim um constante ato de união e semelhança com o Varão das Dores e sua Mãe dolorosa.

Minha mãe era uma pessoa muito expressiva, comunicava-se mais pela sua forma de ser e por seus exemplos do que pelos seus conselhos. Ela os dava e, evidentemente, eram muito bons, mas ela era uma simples dona de casa, mãe de família como tantas outras, não uma filósofa ou teóloga, nada disso. Mas, sua forma de ser, seu exemplo e sua maneira de conduzir a vida possuíam uma riqueza de ideias muito grande para mim.

Sofrendo, dava um exemplo de caráter essencialmente religioso

Uma das coisas mais preciosas que aprendi com ela, e que estava no seu espírito associada à devoção ao Sagrado Coração de Jesus – de quem mamãe era muitíssimo devota –, era a aceitação e a admiração do sofrimento como um elemento que compõe a vida, e sem o qual a existência não tem valor.

Já naquela época, os homens tinham horror ao sofrimento e lhes parecia que o normal da vida era não sofrer, mas lhes acontecer apenas coisas gostosas, saborosas. Quando lhes sucedia algo desagradável, reputavam isso um desastre, uma monstruosidade, que não devia ser.

Arquivo Revista

Mamãe teve muitos sofrimentos durante sua vida. Tinha a saúde muito fraca e, sendo relativamente jovem, foi submetida a uma operação muito arriscada, na Alemanha, pois do contrário poderia morrer, e essa cirurgia não se fazia no Brasil, naquele tempo. Eu a vi muitíssimas vezes doente. Nas ocasiões de maior dor, permanecia deitada na cama durante uma, duas ou três horas ao dia, conforme o caso, até que seu fígado melhorasse um pouco e ela pudesse caminhar.

A pessoa hepática, com frequência, é muito temperamental, pois o fígado recebe a descarga nervosa dos sofrimentos morais. Porém, muitas vezes penetrei no quarto dela quando se encontrava nesse estado, e mamãe estava sempre tranquilíssima, com uma fisionomia tanto mais elevada quanto maior era a dor. Como quem compreende que, oferecendo esse sofrimento a Deus, ao Sagrado Coração de Jesus, adquire uma certa semelhança com Ele, que foi o grande sofredor, e com sua Mãe Santíssima, a grande sofredora.

Eu percebia que Dona Lucilia praticava inteiramente um ato de união, com o qual ela não se sentia esmagada, nem pisoteada, mas dignificada. E tudo isso lhe dava um certo bem-estar interior, vindo do equilíbrio da alma, fazendo com que o sofrimento não fosse para ela um drama inexplicável e estúpido, mas sim uma cruz cheia de significado a carregar.

Ela compreendeu muito bem a sublimidade e a magnificência do sofrimento e da aceitação deste, quando se faz de forma digna, forte e doce.

Eu notava com facilidade quando o sofrimento de mamãe era mais acentuado, pois ela ficava mais doce e delicada de alma. Ela era muitíssimo carinhosa comigo, em todas as circunstâncias, sem nenhuma exceção. Aliás, procedia assim com todos, mas eu era filho dela, e as mães são especialmente inclinadas a demonstrar esse carinho para os filhos.

Eu chegava à seguinte conclusão: uma pessoa adquire a verdadeira bondade quando sabe sofrer. Quem não sabe ou não gosta de sofrer pode até adquirir uma amabilidade diplomática ou comercial, mas essa não é a bondade autêntica. Esta, mamãe a tinha em alto grau.

Quando comecei a sofrer – o que se deu muito cedo – olhava para Dona Lucilia e procurava sofrer como ela. Tenho certeza de que mamãe, com isso, dava-me um exemplo de caráter essencialmente religioso, muito autêntico.

Samuel Holanda
Nossa Senhora das Dores – Málaga, Espanha

Sofrimento humano misturado com o Divino

Nosso Senhor Jesus Cristo morreu na Cruz por causa dos nossos pecados. Seu sofrimento foi necessário, in dispensável para a salvação do gênero humano. Seu Sangue tinha um tal valor aos olhos do Pai Eterno, que tão-somente uma gota bastaria para conquistar esse resgate. Entretanto, Deus Pai quis que seu Filho sofresse tudo quanto sofreu, e Jesus assim o quis também.

Quando Nosso Senhor, no Horto das Oliveiras, pediu “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia, não se faça o que eu quero, mas sim o que Tu queres” (Mt 26,39), veio um Anjo para lhe dar forças. Ou seja, para esse sofrimento imenso, um Anjo veio consolá-Lo. Mas teria sido suficiente uma só gota, e não a imensidade daquele sofrimento. Quer dizer, Ele quis nos ensinar a amar o sofrimento e a cruz.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em julho de 1983

Porém, Deus quis associar os homens ao seu sofrimento. Na missa há um símbolo lindíssimo que demonstra isto. No momento do Ofertório, portanto, antes da Consagração, o sacerdote coloca um pouquinho de água no cálice; ainda não é o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, é apenas vinho. Essa gotinha de água mistura-se com o vinho, mas este não perde sua substância, porque a quantidade de água é muito pequena. Finalmente, o padre consagra aquele líquido, de maneira que a matéria da gotinha de água também se transubstancia no Corpo e Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O que simboliza isso? A gotinha de água é o sofrimento humano, e o vinho é o sofrimento do Homem-Deus. Quando nós oferecemos nossos sacrifícios em união com o Sangue de Cristo e as lágrimas de Maria, então, o nosso sofrimento se mistura com o de Cristo. E nós teremos a honra de contribuir, desta forma, para que o sacrifício tenha para os homens a eficácia inteira desejada pela Providência. É por isso que devemos amar o sofrimento.

(Extraído de conferência de 27/7/1983)

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