jueves, noviembre 14, 2024

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O tumor carnavalesco e a guerra

Certos escritores, pretendendo dar-se ares de profundos, psicólogos, filósofos ou de qualquer outra coisa em que se lhes possam estatelar o pedantismo e a superficialidade, costumam afirmar ser durante a mascarada carnavalesca que o homem, “tirando a máscara dos preconceitos e das convenções sociais”, mostra a sua verdadeira fisionomia. Este ultracediço chavão e pretendido paradoxo encontra sempre, entre certas pessoas graves, o acolhimento devido aos grandes oráculos.

Ora, a realidade é exatamente o contrário. No carnaval, não só a humanidade não tira máscara alguma, antes se aferra mais encarniçadamente à que, nestes últimos tempos, não cessa de usar.

Lembro-me de que, quando era menino, certo professor me contou o episódio de um diplomata japonês, o qual, tendo assistido ao carnaval que em sua pátria não se comemora, enviou ao seu governo a seguinte descrição: “Durante três dias ficam todos loucos e praticam os maiores absurdos; depois, repentinamente, o senso lhes volta e recobram o juízo.”

A observação muito me impressionou na ocasião e é realmente interessante. Entretanto, cumpre acentuar que ela não reflete toda a realidade.

Com efeito, há uma regra de moral que afirma: “Nada de péssimo se faz subitamente.” Não nos iludamos. Erra miseravelmente quem supõe que o carnaval constitui apenas um parêntesis de loucura. Ele é um tumor que explode, e através de suas secreções pode-se bem avaliar todo o vulto da infecção, a qual, de maneira mais ou menos disfarçada, já minava anteriormente o organismo. Três dias depois, esse tumor se cicatriza, na aparência. Fá-lo, entretanto, deixando uma base sempre mais profunda, dolorosa e perigosa para o tumor do ano seguinte.

Assim, o carnaval não é um oásis ou uma trégua; é um auge, um recrudescimento, crise delirante de um estado crônico. De fato, o carnaval moderno não passa de uma torpe falsificação, de uma reles intrujice, de uma atroz mistificação. Sob o pretexto de cultuar a alegria, o carnaval trai a alegria.

Em verdade, o que é a alegria carnavalesca? Embriaguez de álcool, embriaguez de éter, embriaguez de ritmo. Em suma, a completa desordem do sistema nervoso, a alucinação de pessoas que desejam fugir de si mesmas, porque em si mesmas morrerão de tédio ou de náusea. Para uma humanidade falsificada, idiotizada, brutalizada, que detesta a sua alma e não quer contemplar a sua própria face, só mesmo uma alegria falsificada: o carnaval é inumano.

Há quem discuta se, em tempo de guerra, o carnaval deve ou não ser festejado. Nós achamos que não só em tempo de guerra, mas em qualquer outro tempo se devem suprimir as festas pagãs do carnaval. A guerra apenas vem trazer um argumento a mais. Na medida em que as calamidades sejam consequências dos pecados, façamos penitência, e muito especialmente, afastemos as causas das iniquidades, a fim de que Deus se compadeça de nós.

Mesmo porque há uma inegável afinidade, íntima e secreta, entre o carnaval e a guerra. Ambos nada mais são, no fundo, do que a mesma animalização do homem, que o torna cruel e sensual, duas coisas idênticas. Na realidade, as orgias de Nero não eram completas sem o martírio de muitos cristãos.

Portanto, para que mais três dias de carnaval, se nos ameaçam anos de guerra? A bestialidade de nosso século já tem este grande carnaval sangrento, não precisa da ninharia do tríduo carnavalesco.*

* Cf. O Legionário n. 492, de 15/2/1942 e n. 551, de 28/2/1943.

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