sábado, septiembre 21, 2024

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Virgem-Mãe, Rainha e General

Na imagem de Nossa Senhora da Esperança Macarena vê-se Maria Santíssima como a Rainha que tem um mando natural presente em toda sua pessoa. Há qualquer coisa de virginal no seu porte esguio, delicado, fino, que faz pensar, ao mesmo tempo, em uma virgem e matriarca.

Uma das imagens que mais me agrada é a que representa Maria Santíssima de tal maneira na sua realeza, na sua distinção e no seu caráter de Virgem Mãe de Deus, Rainha do Céu e da Terra, que resolvi comentá-la sob o prisma de “Ambientes, Costumes e Civilizações”. Trata-se da famosa imagem exposta em Sevilha, chamada La Macarena.

Ao fundo, há um lindo trono dourado e vermelho no alto de uma escadaria, diante da qual encontra-se a imagem que se reveste de um tom régio, uma nobreza, elevação, virginalidade e de uma força de mãe de família extraordinárias, por onde se vê ser Ela, verdadeiramente, a Rainha Mãe de Deus!

Os trajes da Macarena

A primeira impressão que causa, ao menos para meu olhar, é a excepcional riqueza do manto e do traje. São tecidos de primeira ordem nos quais o ouro e a prata abundam.

Não só o ouro e a prata, mas os tecidos são muito abundantes. É um vestido bastante rodado e a capa que a Rainha traz é enorme. Pega do alto da cabeça, vai até abaixo, nos pés, com uma sobra de pano que não se pode imaginar bem como Ela conseguiria Se conduzir no meio daquilo tudo. Entretanto, Ela está tão distinta e elegante, domina tão bem aqueles panos, que toda aquela abundância de tecidos está a serviço d’Ela.

De maneira que se Ela fosse andar, andaria perfeitamente bem, sem que nenhum dos tecidos sobrasse, nem atrapalhasse. Porque Ela é de tal maneira senhora de todos os seus movimentos, senhora de Si e de tudo, que Ela é Rainha de seu próprio luxo! E em vez de Se deixar abafar ou esmagar pelo luxo, Ela tem um domínio absoluto sobre ele, com gestos muito naturais e simples.

A imagem não tem nem um pouco o ar de uma senhora que queira estar dominando. Ela está com toda a naturalidade, é Rainha por natureza própria e tudo Lhe obedece porque Ela quer que obedeça.

É de se notar que se os braços estivessem em uma postura um pouco diferente, Ela perderia o domínio da ca pa. Porém, eles estão postos com tanta naturalidade, que se diria nem ter passado o problema pela cabeça d’Ela.

A estatura d’Ela é de uma pessoa em nada agigantada, mas nobremente alta e que tem sobre o chão o domínio da distância. Ela olha o piso como uma Rainha deve olhar: dominando de longe.

A riqueza dos adornos

O mais interessante é o seguinte: Ela está adornada. Os críticos afirmam que os espanhóis empetecam as coisas com tantos adornos. Eu não participo dessa crítica do bom gosto espanhol, mas sei de povos que acham isso.

Se consideramos como o vestido e o manto já são carregados de enfeites, e ainda assim, há uma espécie de mantilha pelo lado de dentro que sai por debaixo da coroa além do manto, notamos essa insistência em adornar à maneira espanhola.

O rosto está altaneiro e nobre, ainda mais encimado por uma coroa enorme. Pois bem, percebe-se que Ela poderia Se mover inteiramente à vontade, sem temer ser esmagada pela própria riqueza, porque esta Rainha tem dentro de Si uma riqueza pessoal muito superior a todas aquelas que A adornam: Ela é Ela!

É necessário ter bem presente isto para compreender as coisas espanholas, quando são acertadas.

A dama General

Notem, na cintura, a faixa de general.

É preciso considerar esses dois aspectos: primeiro, a faixa; depois, é de general.

Poder-se-ia dizer não ser necessário esse adorno, além de tudo o que já existe. Mas a faixa concorre enormemente para dar toda a esbelteza à figura geral e para acentuar esse domínio d’Ela sobre a riqueza. Tirem essa faixa e a divisão entre a parte superior e a inferior perde sua elegância.

Agora, que faixa é? General do Exército espanhol.

Alguém poderia objetar: “Mas uma dama, general? Como fica pesado!”

Eu digo: Não entendeu nada!

Para mim, uma das figuras femininas mais leves que houve na História é Santa Joana d’Arc com armadura.

Ademais, quem pode ser Rainha, não pode ser a fortiori general? Pois o mando supremo de uma tropa não cabe naturalmente ao chefe de Estado? É ridículo que se esteja à altura de cingir uma coroa e não se possa usar a faixa de general.

O hipotético objetante replicará: “Aqui está a minha objeção: se Ela é Rainha, por que ainda mais a faixa de general? Já não está tudo expresso?”

Não. Porque é glorioso para um rei ser general, logo é uma glória para Ela o Exército espanhol tê-La tomado como esse tipo de Rainha de quem se espera uma interferência no campo de batalha, em uma hora difícil, num momento delicado. Eu considero simplesmente monumental!

Por outro lado, há em tudo isso algo de virginal e matriarcal ao mesmo tempo. Ela como Rainha tem um mando natural presente em toda a pessoa d’Ela. Mas há qualquer coisa de virginal no seu porte esguio, delicado, fino, que faz pensar numa virgem-mãe. Ela é uma Virgem! E como fica bem para Ela todo esse conjunto de predicados!

Ornatos exagerados?

Poder-se-ia levantar ainda a seguinte questão: Está bom, mas depois dessa coroa, não era dispensável esse resplendor de prata atrás?

Ao que respondo levantando outras perguntas: As flores colocadas pela devoção popular seriam dispensáveis? Quando amamos muito alguém, na hora de dar-lhe algo perguntamos se é dispensável? E se for, não damos? É esta a regra do amor?

Para se interpretar cada povo é preciso andar com cuidado, procurando ver o lado bom e entender as coisas como são.

Nos povos da Europa, as criteriologias são variadas. Alguns têm o receio de abusar da palavra humana de maneira a levá-los a dizer mais do que eles desejam. Seu grande cuidado, portanto, é de serem comedidos no falar.

O próprio do espanhol é o contrário: um receio de que a palavra humana não diga tudo quanto eles querem. Compreendo ambos os receios, porque depois da dispersão da Torre de Babel com a confusão das línguas, não existiu mais o idioma perfeito. E só manuseia bem a própria língua quem entende o lado fraco que ela tem.

Então, há no modo de os espanhóis usarem o seu idioma uma espécie de exagero didático, segundo o qual eles vão além do que sabem ser a realidade, mas julgando que o ouvinte inteligente saberá dar o desconto e ficar no ponto ideal não esgotado pela palavra, e que constitui a verdade inteira.

Dentro dessa concepção, a pergunta a respeito do resplendor não é se ele é necessário, mas sim outra: se cabe e se comporta para dizer tudo a respeito de uma tão grande Rainha. É como quem diz: “Entendam bem que não há ornato suficiente. Portanto, desde que tal adorno não fique inestético, vai mais isso!”

Gabriel K.

Quem ousará dizer que fica inestético?

Se alguém objetasse: “Eu acho supérfluo.”

Eu responderia: Você não teve vontade de dar tudo.

Isso significa que a posição espanhola é a única aceitável? Não estou afirmando isto. Pelo contrário, são inteiramente admissíveis também outras concepções, de acordo com a índole de cada povo.

O melhor é saber compreender e amar a beleza existente em todas as formas de expressão das diversas nações.

(Extraído de conferência de 2/2/1983)

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