O quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano tem um poder maravilhoso de fazer com que as pessoas entrem em comunicação com a Mãe de Deus. Ele muda de colorido e Maria Santíssima ora parece alegre, satisfeita e risonha, ora apresenta um aspecto de tristeza. Sem que se possa dizer que haja um movimento nos traços do afresco, ele exprime por esta forma a inúmeros fiéis aquilo que a Virgem deseja.
No dia 26 de abril, comemora-se a festa de Nossa Senhora do Bom Conselho de Genazzano, instituída a propósito do célebre afresco da Mãe de Deus que se venera na igreja dos agostinianos, na cidade de Genazzano, Itália.
Scanderbeg, um guerreiro valorosíssimo
As informações que darei foram tiradas de um livro sobre Nossa Senhora do Bom Conselho. A razão da compra desta obra, de minha parte, foi que em pequeno eu rezava muito diante de um quadro dessa invocação, o qual se encontrava no altar-mor da antiga capela do Colégio São Luís e tem uma história milagrosa, cujos pormenores não me lembro, mas que está ligada ao martí rio dos quarenta jesuítas que vieram evangelizar o Brasil.
Vendo esse livro, comprei-o e confesso que me encheu de admiração. De fato, tudo quanto ali diz respeito à história do afresco e à devoção a Mãe do Bom Conselho é uma verdadeira maravilha!
Em duas palavras a história desse quadro é a seguinte: a Albânia, no século XV, era um Estado cristão capitaneado por um general chamado Scanderbeg, um guerreiro valorosíssimo que lutava contra as hordas turcas as quais estavam tentando avançar pela Europa adentro.
Scanderbeg era um homem bastante religioso e que se colocava sob a proteção de Nossa Senhora do Bom Conselho, da qual havia na Albânia um santuário nacional muito frequentado. Enquanto Scanderbeg viveu, a luta contra os turcos foi vitoriosa. Ele reunia em si todo o valor e toda a combatividade da nação albanesa. Era um grandíssimo homem, mas o povo albanês estava em decadência e por causa disto provavelmente a resistência cessaria quando ele morresse. Os últimos lances de sua vida foram extraordinários. Numa ocasião ele se encontrava deitado, agonizando, quando veio a notícia de que os turcos estavam chegando às portas da cidade. Quando ele ouviu isto, fez uma oração a Nossa Senhora e pediu-Lhe forças para combater. Levantou-se do leito e foi de encontro aos turcos. Ele tinha dois auxiliares que o ajudavam porque quase não aguentava mais dirigir a batalha. Depois, voltou para a cama e faleceu. Assim morre um verdadeiro herói católico, um devoto de Nossa Senhora na sua acepção mais exata e mais adamantina. É uma verdadeira beleza!
As águas do mar se tornaram sólidas
Mas dois amigos albaneses, que eram filhos da luz, notando o declínio da Albânia e prevendo que o país cairia quando morresse Scanderbeg, resolveram ir ao Santuário de Nossa Senhora do Bom Conselho a fim de pedir luzes a respeito do que deveriam fazer: ficar na Albânia realizando uma certa resistência e algum apostolado debaixo das hordas turcas, ou ir para a Itália. Tanto mais que um número muito grande de albaneses já estava fugindo para lá, e parecia-lhes mais indicado emigrarem.
Chegando ao Santuário, rezaram e ficaram de voltar no dia seguinte para ter uma solução do caso. Qual não foi a surpresa deles quando verificaram que o quadro se destacara da parede, deu uma espécie de giro dentro da igreja, saiu pela porta e foi andando no ar lentamente. Eles acompanharam o afresco que, quando chegou ao mar, continuou a andar aci ma das águas. Os dois amigos, então, prosseguiram sua caminhada sobre o mar, que se tornou sólido debaixo dos seus pés, sempre acompanhando o quadro. Assim, chegaram à Itália.
É uma grande caminhada, mas eu acho que não é o caso de interpor aqui perguntas e críticas, porque Nossa Senhora tem o poder de fazer um quadro andar pelos ares e de dar consistência às águas. E pode conceder a dois homens a possibilidade física de atravessar uma grande extensão, caminhando sobre as águas solidificadas.
Na Itália, o quadro sumiu misteriosamente da vista deles. Então, empreenderam – isso é muito medieval ainda – andar por todo o país a fim de ver onde tinha ido parar, porque não queriam se separar dele. Assim como a estrela desapareceu da vista dos Reis Magos quando chegaram a Jerusalém, assim também o quadro sumiu para esses dois albaneses.
Uma nuvem brilhante desceu sobre o terreno de Petruccia
Havia em Genazzano – uma pequena cidade da Itália, que era feudo dos Príncipes de Colonna, uma grande família nobre romana – uma mulher anciã chamada Petruccia que dizia ter vocação de construir uma igreja. Era uma senhora isolada, meio mendiga, um pouco maníaca e todo mundo debicava dela. Em certo momento, Petruccia conseguiu que lhe dessem um terreno para edificar uma igreja em louvor de Nossa Senhora. Mais tarde, obteve um pouco de material da construção e, assim, levantou-se algo a maneira de um muro numa parte do terreno. Depois os trabalhos pararam porque ela não recebeu mais auxílios.
E toda a molecada, quando encontrava a Petruccia na rua, dizia para ela:
— Ei, Petruccia, cadê a igreja? Quando é que será construída?
Não é preciso ter muita imaginação para dar o alinhamento geral da cena.
Havia em Genazzano uma feira para onde afluía grande parte da população. Certo dia em que Petruccia estava no meio do povo, de repente se fez ouvir um estrondo no céu e apareceu uma nuvem brilhante, da qual partiam harmonias que desciam sobre a cidade. A nuvem baixou sobre o terreno de Petruccia e, quando desapareceu, encontrou-se o quadro – que o povo não sabia ser de Nossa Senhora do Bom Conselho – encostado junto a uma das paredes, sem prego, nem apoio, nem suporte, o que é uma coisa inexplicável. Foi o grande dia da Petruccia.
Mas ninguém sabia que invocação era aquela. Nunca se tinha ouvido falar dela. Era uma manifestação angélica.
Um belo dia, os dois albaneses, que estavam à procura do quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, tendo ouvido falar, em Roma, sobre o que havia ocorrido em Genazzano, desconfiaram naturalmente que aquele era o quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho.
Foram para lá, se prostraram diante do afresco, rezaram. Comunicaram ao povo que se tratava do quadro de Nossa Senhora do Bom Conselho, da Albânia, que eles tinham visto partir para não se deixar subjugar pelos turcos.
O quadro se mantém junto à parede de um modo miraculoso
A igreja se tornou um lugar das múltiplas romarias partidas dos vários Estados italianos, antes da abominável unificação da Itália. A romaria andava em fila, homens separados das mulheres, havia proibição de estar prestando atenção nas coisas do caminho, devia-se o tempo inteiro rezando o Rosário, cantando ladainhas em louvor de Nossa Senhora, parando nos lugares ermos – onde não houvesse possibilidade de escândalo – para comer, e continuando a caminhada até chegar a Genazzano.
Mesmo nos dias de enchentes, em que pessoas acabam dormindo até nas ruas, o quadro de Nossa Senhora continua junto à parede, mas não encostado nela, de maneira que ele se mantém de um modo miraculoso. Há, então, chuvas de graças que o afresco espalha para todas as pessoas.
Essas graças são muitas vezes de curas, porém o forte não é propriamente a graça de cura, mas um poder maravilhoso de, sem praticar um milagre evidente, se comunicar com um grande número de pessoas que vão consultar a Santíssima Virgem a respeito de padecimentos espirituais, dúvidas, problemas. A meu ver, a ideia relacionada com o afresco é a seguinte:
O quadro muda de colorido, ora toma uma cor brilhante e Nossa Senhora parece alegre, satisfeita e risonha, ora adquire cores que Lhe dão um aspecto de tristeza. E sem que se possa dizer que haja um movimento nos traços do afresco, entretanto é verdade que ele exprime por esta forma a inúmeros fiéis aquilo que Ela quer, e muitos acabam entendendo isto e passam a ter com a Mãe de Deus uma comunicação, resolvendo problemas importantíssimos.
Mudanças de fisionomia de Nossa Senhora
O quadro é veneradíssimo, e o livro apresenta atestados importantes de pessoas que reconheceram mudanças da fisionomia de Nossa Senhora. Um dos atestados mais interessantes é de um pintor de certa celebridade de Gênova, que recebeu de uma família genovesa, provavelmente rica, a incumbência de ir a Genazzano e fazer uma cópia do afresco para ser colocada numa igreja de Gênova. Como era um homem de projeção, consentiram que trabalhasse no próprio altar, perto do quadro, para poder ver bem, e ele começou, então, a pintar a imagem.
O livro transcreve um atestado dele declarando que a figura de Nossa Senhora tantas vezes modificou a expressão fisionômica, enquanto ele pintava, que lhe foi impossível retratá-la. Ela não modifica tanto, mas é um prodígio que Maria Santíssima quis fazer para que este homem atestasse o maravilhoso do fato, e até hoje se dá isto.
É um prodígio contemporâneo que não pode ser apresentado como um milagre, mas demonstra ser a Fé Católica verdadeira, e deve ser visto como uma graça muito preciosa para todas as pessoas que querem elucidar seus problemas.
O mais interessante é que vários outros quadros de Nossa Senhora do Bom Conselho, os quais afinal se copiaram e foram levados para diversos pontos da Itália, têm propriedades análogas e há peregrinações porque a Santíssima Virgem prodigaliza os seus conselhos às pessoas que vão ali rezar.
Temos, assim, a indicação de um elemento para nos afervorarmos na piedade a Nossa Senhora.
(Extraído de conferência de 25/4/1967)