viernes, noviembre 8, 2024

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A História e as nações numa ótica voltada para o Céu

Os desígnios da Providência são elevadíssimos e muito superiores a qualquer plano cogitado pelo homem. Na ordem estabelecida por Deus na Criação, sejam as nações ou os indivíduos, grandes ou pequenos, todos têm um papel único e são destinados a uma grandeza extraordinária, contanto que correspondam ao chamado divino.

Nos planos da Providência na Criação, sobretudo na esfera humana, ou seja, na ordem da inteligência e da liberdade própria ao ser humano – porque as plantas e os animais não possuem livre arbítrio – há uma possibilidade de desenvolvimento e um desígnio, cuja elevação é surpreendente.

A grandeza dos desígnios de Deus para os homens

Se cada homem correspondesse por inteiro à graça, ficaríamos surpresos ao ver o que ele poderia dar. Por isso, é uma ingratidão nossa em relação a Deus, a Nossa Senhora, Medianeira de todas as graças, imaginar e querer a respeito de nós mesmos, coisas tão pequenas tais como ser rico, ou ser não sei o quê… Não! Queira ser o que Deus quer de você! Ele conhece bem o que lhe convém, porque sabe para o que o criou.

Flávio Lourenço
Os cambistas – Museu de Belas Artes, Nancy, França

Daderot (CC3.0)
A queda dos anjos – Museu de Artes de Cincinnati, EUA

A súplica do Padre-Nosso, “Seja feita a vossa vontade assim na Terra como no Céu”, diz respeito a cada um de nós de modo muito importante, pois é pedir a Deus para alargar nossos horizontes para sabermos qual é o desígnio d’Ele em relação a nós, de maneira a não querermos ter futurozinhos megalomaníacos, mas o grande futuro preparado por Ele para nós.

Tratarei desse futuro, não propriamente nesta Terra, mas o eterno, muito mais importante, pois é para sempre.

Deus criou o universo dos anjos perfeito. Porém, uma terça parte se revoltou e foi mandada para o Inferno. Tirados esses, a coleção magnífica dos Anjos – mais preciosa do que qualquer outra – ficou com vagas que a deformaram em muitos pontos.

Por isso, Deus destinou homens para preencher os tronos deixados por eles. Assim, o plano d’Ele para nós é ocuparmos esses tronos angélicos.

Isso é muito mais importante do que ser rico, sábio, ou qualquer outra coisa. Se eu não me elevar ao alto trono destinado a mim, ficarei por toda eternidade mais abaixo e, então, Deus suscitará outro para ocupar o meu lugar.

O Céu é como uma corte. Alguém é convidado pelo rei para, nas cerimônias, ocupar um lugar a pouca distância dele. Essa pessoa, durante o dia, dá um giro pela capital onde reside o monarca, absorve-se muito com as coisas da cidade e chega atrasada no momento de a corte estar reunida. Ela entra jeitosamente para ocupar seu lugar, mas quando se aproxima, vê outro sentado.

O primeiro movimento não é de simpatia para com o outro, mas o de dizer ao rei:

— Senhor, ele roubou o meu lugar.

O soberano responderia:

— Não, você cedeu a ele.

— Mas Senhor, não há lugar para mim na corte?

— Por uma misericórdia minha, sim. Lá no fundo tem uma cadeirinha para você. E fique alegre, porque não sendo isso é trevas e ranger de dentes. Você andou pela cidade e perdeu a capacidade de apreciar a vida da corte neste alto lugar.

Então, devemos ter, antes de tudo, preocupação pela realização dos altos desígnios de Deus para conosco.

Tiia Monto (CC3.0)
Vistas de Andorra

Koldo Biguri (CC3.0)

Às vezes, tratando a respeito de vida espiritual com alguém, uma ou outra pessoa me tem dito: “Espanta-me como o senhor me toma a sério como eu nunca mesmo pensei.” Lembro-me de um que me disse: “Eu fiquei indignado com a conversa com o senhor! Porque o senhor concebia para mim um futuro de uma grandeza que eu não quero alcançar e isso me indignou!”

Eu tive pena dele, mas não respondi, porque em certas não há nada a fazer, a não ser rezar. Essa pessoa foi piorando e, de repente, abandonou sua vocação de um modo escandaloso. Recebera um convite para algo mais alto, no entanto, quis o mais baixo e acabou não tendo nem mesmo isso, porque cedeu à ação da gravidade das almas concebidas no pecado original: são arrastadas para o fundo do Inferno se não querem corresponder aos desígnios de Deus para elas.

O chamado das nações

A vaidade dos homens para atingir a grandeza que imaginam para si – e não a enormemente maior à qual Deus os destinou – também se dá com as nações. O futuro delas é de uma grandeza da qual ela não imagina. E por isso, em geral, quando eu falo do papel das nações, os filhos dessas nações ficam surpresos. E muitas delas hoje em dia perderam a noção do próprio chamado. Não amando mais a Deus, a Nossa Senhora, verga-se para baixo.

Até mesmo as menores nações do mundo têm um papel encantador e extraordinário dentro do equilíbrio dos planos divinos.

Por exemplo, Liechtenstein, Mônaco, Andorra, um pouquinho Luxemburgo, são tão pequenas!

Até algum tempo atrás, Andorra – um pequeno principado encravado nos Montes Pirineus entre a Espanha e a França – tinha dois chefes de Estado, fato único no mundo, chamados príncipes. Uma República de príncipes! Um era vitalício e o outro eletivo. Creio que esse costume deve ter morrido, pois é muito bonito para ter sobrevivido.

Nenhum deles era escolhido pelos próprios andorrenses. Andorra é muito pequena, e é provável ter a colocação dela nos Pirineus alguma importância estratégica nas relações entre a França e a Espanha. Relações nem sempre muito envernizadas…Temperamentos nacionais brilhantes, mas tendendo ao pontudo. Segundo a expressão “dois bicudos não se beijam”, presumivelmente, se Andorra fosse dependente de uma província ou município da Espanha, desequilibrava a situação para a França…

Então, quem são os dois chefes de Estado de Andorra? O Presidente da República Francesa, eleito pelo povo francês, não pelo povo de Andorra; e o Bispo de Urgel, na Espanha, vitalício, nomeado pelo Papa. Esses governam juntos Andorra. E nunca se ouve falar de greve, de descontentamento, de bagunça em Andorra…

APPER (CC3.0)
Vista de San Marino. No detalhe, Garibaldi durante uma estadia em San Marino

Divulgação (CC3.0)

Para quem estuda Direito, percebe ser Andorra uma espécie de brinquedinho encantador de Direito Público Constitucional, onde se vê os mil modos de uma nação formada pelos seus costumes e não por juristas.

Não vou dar a descrição de todas essas pequenas nações. Interessei-me algum tanto por cada uma delas. Elas representam no conjunto o que as flores muito pequenas são na Botânica: como o amor-perfeito e o miosótis, por exemplo. O mundo sem o miosótis – uma florzinha minúscula, bem desenhadinha, muito engraçadinha e de um azul encantador – ficaria menos bonito.

San Marino e o Reino da Itália

Outra nação: San Marino, uma República. O Presidente é eleito pelo próprio povo. Esse país possui sua economia própria, porém tem muito menos autonomia do que Andorra, um minúsculo pêndulo entre a Espanha e a França. San Marino não, está encravado na Itália e cercado por ela de todos os lados.

Para mim, o interessante em San Marino é um bonito mistério histórico que o envolve.

Garibaldi fez a unificação da Itália, afirmando, por exemplo, que Roma não podia ser a cidade do Papa por que a unidade italiana exigia ser incorporada ao Reino. Aliás, ele já havia anexado à Itália, pela violência, todos os Estados pitorescos que a compunham. Segundo ele, Roma não poderia ser independente, e por isso se deveria tomá-la do Papa. Daí o fato de o Sumo Pontífice, como protesto, encerrar-se no Vaticano e ali passar de 1870 a 1922, meio século, por se considerar prisioneiro voluntário. Não saía para o território italiano nem mesmo em visita ao Castel Gandolfo. E quando algum chefe de Estado visitava a Itália, não era recebido em audiência pelo Papa, porque ele estava de relações rompidas com o Reino da Itália. Porém, quando o Pontífice recebia um chefe de Estado, ele fazia questão de que depois este não visitasse o Rei da Itália.

Então aparece a ponta do mistério de San Marino: Por que ninguém procurou anexar San Marino nessa época? Roma foi incorporada e arrancada ao Papa por violência, e San Marino podia ficar independente? É uma contradição. Que ótimo argumento para quem defendia as terras do Papado!

Harald Hoyer (CC3.0)
Miosótis

Nunca ouvi esse argumento sendo alegado. Nunca conheci um italiano, homens de muita cultura, que me respondesse essa pergunta: por que restou San Marino? Não há um fato importante da história de San Marino, não há nada de pitoresco nem panoramas famosos. Por que San Marino existe? É um mistério.

O mistério das pequenas nações

Então, há um grande e belo problema histórico a respeito de uma pequena nação. Mais uma prova do papel dos pequenos no equilíbrio e na harmonia entre os grandes.

Levanto uma mera hipótese sobre a razão pela qual San Marino foi mantido como Estado independente.

A República de San Marino tem tido inclusive presidentes comunistas. Entretanto, vendem-se ali títulos de nobreza até hoje. Eles não suprimem esses títulos porque, com isso, entra dinheiro no cofre da republiqueta. Assim, encontra-se na Itália um sujeito chamado, por exemplo, Conde Espada. Não se sabe se pertence à família Espada Pontezzianni ou se é um Conde Espada nomeado por San Marino.

A nobreza verdadeira rejeita, mas ao cabo de cinco gerações de “Conde Espada”, o que se pode fazer? É um achincalhe!

Se me perguntassem: “Mas se o senhor pudesse acabar com isso, acabaria?”

Cláudio M.
Afonso de Albuquerque – Goa, Índia

Ora, se eu pudesse, telefonaria para lá agora e diria: “Está proibido, não se vende mais nenhum título!” Depois saía um decreto caçando e tornando sem efeito os títulos que tivessem uma geração só.

Mas esse mistério não seria tão interessante e atraente se San Marino não fosse tão pequenininho. Isso pro va como os pequenos, às vezes, são chamados para coisas muito grandes.

Ora, se até em Andorra e San Marino há tantos aspectos interessantes a se considerar, e se essa função histórica desses paizinhos na estética política do universo é tão marcante, não posso ser censurado por olhar segundo essa mesma ótica o meu próprio país. Portanto, ao tratar do Brasil, não pensem que sou levado por uma espécie de patriotismo cego, unilateral, imbecil. Vejo-o na ótica voltada para o Céu, segundo a qual devemos analisar quaisquer outros países.

Brasil, nascido de uma nação pequena, mas de grandes homens

O Brasil é um país grande nascido de uma nação fisicamente pequena que, naquele tempo, representava um papel imenso, produzindo homens gigantes em série. Basta ler a história de Afonso de Albuquerque e outros daqueles navegantes para comprovar isso.

Segundo a versão oficial, Portugal descobriu o Brasil como que por acaso. Certos ventos e correntes marítimas desviaram os navios da rota da Índia, intencionada pelos navegadores portugueses para pegar especiarias, riquezas, etc.

Sendo uma pequena nação, Portugal tinha possibilidade de mandar para o Brasil um contingente populacional pequeno. Mandou para cá certo número de habitantes e esses se esforçaram de tal maneira que o crescimento da população brasileira foi verdadeiramente espantoso.

Instituto Moreira Salles (CC3.0)
Largo da Sé, São Paulo, na década de 1880

É conhecida a epopeia desses súbditos do Rei de Portugal que, ainda no século XVI, para conhecer o Brasil inteiro, e procurar o ouro e as esmeraldas que a legenda dizia existir por aqui, foram até o Oceano Pacífico, a pé. Partiram de um vilarejo pequeno e feio, chamado São Paulo, e percorreram vastidões até então só atravessadas pelos índios. E os índios atrás de besouros para comer. Os portugueses não: com programa, com intenção, e espalhando a Fé por onde passavam.

Quando o Brasil se tornou independente, aconteceram dois fatos. Primeiro, os portos brasileiros foram abertos a todas as nações da Terra e ao comércio exterior. Segundo, como nação independente podia receber imigração, pois até então era só de Portugal. Não era propriamente imigração, mas movimento dentro dos reinos de um mesmo Rei. O Brasil tinha uma população pequena e se abriu para todos os povos da Terra. Vieram estrangeiros em quantidade, inclusive, e com muita alegria para nós, mais portugueses. E a população cresceu muito durante o tempo do Império e da Primeira República.

Doçura e suavidade brasileira com os imigrantes

Foi permitido a todos os imigrantes se estabelecerem aqui onde quisessem. E, portanto, formassem blocos de imigração muito densos. O exemplo mais característico seja, talvez, de Santa Catarina, na qual a influência alemã é tão preponderante que até algum tempo atrás a maior parte da população de certas cidades falava alemão.

Entraram alemães em quantidade também no Rio Grande do Sul e constituíram blocos. Em Pernambuco, pelo contrário, constituíram veios grandes da população e não apenas blocos. Porém, eles sempre organizados e fazendo planos, quiseram as partes mais frias do país, para se adaptarem mais ao clima de onde eles vinham. E o Brasil foi deixando.

A entrada de italianos no Brasil não tem conta nem limite… Estabeleceram-se sobretudo no Estado de São Paulo. São Paulo é uma cidade ítalo-brasileira. Nos anúncios em qualquer lugar do Brasil tem um, dois, três, cinco nomes de italiano entre os ricaços da cidade.

Diegocadorin (CC3.0)
Blumenau, Santa Catarina

JLes (CC3.0)
Entrada da cidade de Pomerode, Santa Catarina

Também há a imigração de um povo numericamente pequeno, mas que encheu a América: os sírios. Eu não sei como cabia na Síria todo mundo que saiu de lá. Talvez seja um mistério da História. O fato é que as colônias sírias no Brasil, sobretudo em São Paulo, são muito abundantes, mas há também colônias sírias importantes na Argentina e no Chile.

Entraram também espanhóis em quantidade.

E, não poderia me esquecer, a colônia nipônica. Enquanto as outras colônias fazem festa, cantam, dançam – talvez a colônia italiana mais do que qualquer outra… – os nossos irmãos nipônicos são discretos por natureza.

Nunca tive ideia de ser tão grande a colônia japonesa quando eu, muitos anos atrás, estava ao lado da Igreja São Gonçalo, e, de repente, comecei a ver o trânsito congestionado, e chegando japonês de todos os lados rumo à Praça João Mendes. Não vinham apenas da Rua Conde do Pinhal, que tem comunicação fácil com o largo João Mendes, mas de todos os lugares, e aos bandos. É algo pitoresco, todos segurando pelas mãos, às vezes, o pai, a mãe. Devia ser para a família não se desconjuntar naquela multidão.

Felizmente encontrei um brasileiro naquele mare magnum. Perguntei a ele:

— O que está acontecendo?

Ele respondeu:

— O senhor não sabe? O Príncipe herdeiro do Japão está em São Paulo e vem hoje aqui para uma cerimônia na Praça João Mendes.

Aí entendi o afluxo de japoneses em São Paulo, fenomenal!

Um outro país talvez ficaria assustado, reagiria, mandaria fazer programas para conter a imigração, impediria esses povos de continuar com suas características próprias. O Brasil não o fez. Deixou-os à vontade. A suavidade, a bondade brasileira, o modo pelo qual os brasileiros se abriam, abria os outros, que se habituaram ao nosso modo, não tanto de viver, mas de sentir.

Há um certo feitio do espírito brasileiro que, tratando com pessoas de qualquer origem, acomoda-se de bom grado, com amabilidade, mas sem perder sua autenticidade e nem deixar de ser brasileiro em tudo. E por esta doçura e suavidade modela os outros. Estes acabam tendo uma espécie de impregnação brasileira por onde, na confluência enorme de raças e lugares, a nota brasileira é suavemente preponderante.

O jeitinho brasileiro

A essa suavidade correspondem duas características: a amplitude de vistas e o jeitinho.

Pela amplitude de vistas, instintivamente nosso povo intui qual é o encaixe que a qualquer imigrante é dado ter neste país, e o trata assim:

“Vem cá, temos um recanto para você, faça a sua vida aqui. Seu filho pode ser Presidente da República; seu neto, o homem mais rico do Brasil; seus bisnetos, quiçá, serão uns des conhecidos: Pai rico, filho nobre, neto pobre! Não faz mal, você faça a sua vida aqui. Eu continuo a ser o Brasil! Dou um jeitinho em você, e você se encaixa em mim com a naturalidade com que uma pedra preciosa é encrustada numa joia na qual já existem muitas pedras. Em pouco tempo ninguém está pensando na esmeralda, na safira, no rubi, encastoados nos bordos da pedra, porque aparece o brilhante central. Este chama-se Brasil!”

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1986

É um dos mil modos do jeitinho… E, se começar a se orgulhar de ter jeitinho, perde o jeito. Não devemos pensar muito no jeitinho, porque pode-se ficar vaidoso. O verdadeiro do jeitinho é não pensar nele e deixar ele ajeitar as coisas.

Essa é uma tendência da nação levada muitas vezes ao exagero, pois acaba por “deixar como está para ver como é que fica…”

Não há brasileiros sem características próprias à sua região

Uma palavra sobre o Brasil de hoje. Esta nação chegou a um extremo onde parece que não se pode deixar como está para ver como é que fica. A situação está muito séria. Nós dormimos demais sobre esse princípio sedutor, mas enganoso, e no momento nós estamos numa dessas encruzilhadas que, ou abrimos os olhos, ou cai o Brasil.

Nosso país é vastíssimo para sermos apenas um brasileiro. Ou somos da Paraíba, Piauí, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, ou não se é verdadeiramente brasileiro, porque cada um precisa ter a sua inserção em algum lugar. Não pode haver uma espécie de homem pardo da ONU dentro do Brasil; um brasileiro qualquer, isso não existe.

Mamãe, por exemplo, era uma paulista característica: no estilo, na mentalidade, nos modos, no aspecto, enfim, em tudo.

Arquivo Revista
Dona Lucilia durante uma visita à sede do Legionário

Qual era a posição dela perante o Brasil? Ela era muito patriótica. E, a meu ver, se deixou influenciar muito pela literatura da independência. Ou seja, elevando o Brasil ao máximo, o que naquela ocasião era prematuro alegar. Ainda tinha muito chão para andar, para poder pensar isso a respeito do Brasil. Sobre esse assunto eu tinha, às vezes, afetuosos desacordos com os familiares. Ela, a maior parte do tempo, sorria afetuosamente, mas acabava concordando comigo em muita coisa.

Contudo, ela possuía o espírito muito europeizado e compreendia bem toda a contribuição que a Europa deveria dar à cultura brasileira. Sendo assim, ela trouxe para São Paulo uma Fräulein de primeiríssima categoria para formar os filhos com a disciplina alemã. Mas eles deviam saber falar francês, pois precisavam ter também a nota francesa na sua educação.

Entretanto, isso nunca impediu que ela amasse muito Portugal e contasse uma longa história de como a família do pai dela abandonou a cidade do Porto por ocasião das invasões de Napoleão.

Portanto, ela era brasileira, bem luso-brasileira, afrancesada, ela mesma, mas sabendo reconhecer o valor da disciplina germânica. É a tal abertura brasileira, procurando dar um jeitinho em tudo.

(Extraído de conferências de 13/10/1984 e 5/9/1986)

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