A piedade verdadeira tem por objetivo dar glória a Deus e conduzir o homem à virtude. Para uma e outra finalidade, a devoção ao Coração Imaculado de Maria é um verdadeiro dom da Providência a este nosso pobre e dilacerado século.
Nossa Senhora é a Medianeira de todas as graças. Querer rezar sem a intercessão d’Ela é o mesmo que pretender voar sem asas. Se desejamos que nossos atos de amor, louvor, ação de graças e reparação cheguem ao trono de Deus, devemos depositá-los nas mãos de Maria.
Prescindir de Nossa Senhora para chegar a Jesus Cristo, sob o pretexto de que Ela constitui um anteparo entre nós e seu Divino Filho, é tão estulto quanto pretender analisar os astros sem telescópio por imaginar que o cristal das lentes constitui um anteparo entre eles e nós. Tal pessoa não faria astronomia, mas tolice. O mesmo se diga quanto ao papel de Maria em nossa santificação. Pretender ter vida de piedade sem o seu auxílio é como fazer astronomia a olho nu.
Não são poucos os católicos que, verificando a imensa desproporção existente entre a debilidade humana e a dureza da luta imposta pela preservação da virtude, se deixam arrastar a uma moral minimalista, cheia de transações com o espírito do século, alegando a fraqueza moral do homem contemporâneo e as mil dificuldades que a civilização moderna cria para a prática da virtude.
De uma coisa, entretanto, se esquecem: por mais fraco que seja o homem, a graça de Deus é invencível. “Tudo posso n’Aquele que me conforta” (Fl 4, 13), escreveu São Paulo. Com o auxílio de Deus, crianças, donzelas, anciãos enfrentavam no Coliseu os mais terríveis tormentos. Será possível que o católico de nossos dias não possa enfrentar os perigos da atual civilização?
Para dilatar as fronteiras da Santa Igreja por todo o universo, não se trata de afrouxar a invencível doutrina de Jesus Cristo. Saibamos viver a vida da graça com a plena correspondência de nosso livre arbítrio. Procuremos a graça nas fontes onde realmente ela jorra, e com o auxílio dela tornemo-nos fortes para todas as austeridades que o Espírito Santo de nós exige. Entre essas fontes está, sem dúvida, em lugar relevantíssimo, a devoção ao Coração Imaculado de Maria.
Na Sagrada Escritura encontramos esta frase: “Pus à tua frente uma porta aberta que ninguém poderá fechar, pois tens pouca força, mas guardaste a minha palavra e não renegaste o meu nome” (Ap 3, 8). Esta porta aberta para a fraqueza do homem contemporâneo é o Coração Imaculado de Maria. Com efeito, nada nos pode dar maior confiança, esperança mais fundada, estímulo mais certo do que a convicção de que em todas as nossas misérias e quedas não temos apenas a infinita Santidade de Deus a nos olhar com o rigor de Juiz, mas também o Coração cheio de ternura, compaixão e misericórdia de nossa Mãe Celeste. Onipotência Suplicante, Ela saberá conseguir para nós tudo quanto nossa fraqueza pede para a grande tarefa de nosso reerguimento moral. Com este Coração, todos os terrores se dissipam, os desânimos se esvaem, as incertezas se desanuviam. O Coração Imaculado de Maria é a Porta do Céu aberta de par em par aos homens de nosso tempo, tão extremamente fracos. E esta porta ninguém a poderá fechar; nem o demônio, nem o mundo, nem a carne.
Aparecendo em Fátima, Nossa Senhora disse aos pastorinhos que uma intensa devoção ao seu Coração Imaculado seria o meio de salvação do mundo. No dia em que tivermos legiões de pessoas verdadeiramente devotas do Coração Imaculado de Maria, o Coração de Jesus reinará sobre o mundo inteiro.
Com efeito, estas duas devoções não se podem separar. A devoção a Maria gera como fruto necessário o amor sem reservas a Jesus Cristo. Assim, no dia em que o mundo inteiro se voltar a Jesus por Maria, estará salvo. Para todas as almas apostólicas é, portanto, de primordial importância o culto ao Imaculado Coração de Maria.*
* Cf. O Legionário n. 625, 30/7/1944.