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O papel dos transcendentais na luta contra a Revolução – II

O pecado original trouxe como consequência a vida nesta Terra de exílio. Para alcançar o Céu, o homem deve ser um cavaleiro na luta pela verdade contra o erro, do bem contra o mal, do belo contra o feio; só assim ele fará a verdadeira Contra-Revolução.

Como o homem pode, pelo intelecto, conhecer a verdade? Como sua vontade é, depois, levada a desejar o bem? Como a sua sensibilidade se faz uma só com a beleza?

Vestígios que levam à verdade, ao bem e ao belo

O homem ama a beleza e tem horror àquilo que lhe é oposto. Por conseguinte, acaba percebendo existirem duas correntes de seres na Criação: as coisas belas, verdadeiras e boas; as más e feias, mentirosas e ilusórias. Há uma luta misteriosa entre umas e outras, e isto constitui um dos mais belos aspectos da natureza: o perpétuo entrechoque da verdade contra o erro, do bem contra o mal, do belo contra o feio. Por cima dessa batalha grandiosa está Deus, Criador do Universo.

Gabriel K.
Deus Pai – Catedral de Cusco, Peru

Qual é o sentido último de tudo isto? Ao abrimos o Gênesis, logo entendemos. Todas as coisas foram criadas por Deus para Lhe dar glória. Ele criou todo o universo com uma beleza perfeita; na Terra criou a vida: vegetal, animal, mineral e, finalmente, o homem para dirigir tudo.

Deus queria que o ser humano, conhecendo a verdade, o bem, o belo, e amando-os, O amasse. Para provar esse amor, Ele quis que, em determinado momento, o homem sofresse uma tentação que o seduziria com os atrativos do erro e não da verdade, do mal e não do bem, do feio e não do belo para, tendo a possibilidade de ser infiel, fosse fiel verdadeiramente; e conduzido pelo curso das coisas a uma situação vértice, limite no qual tudo ganhava ou tudo perdia, dissesse: “Erro, mal, feiura, eu vos repilo! Porque amo Aquele que é, Ele mesmo, por excelência e por natureza, não apenas verdadeiro, mas a Verdade, não apenas bom, mas a Bondade, não apenas belo, mas a Beleza. Eu amo a Deus que me criou!”

O pecado é o erro, a maldade e a feiura

Todos conhecemos a tentação. Sabemos que a serpente, através da qual falou o demônio, ofereceu a Eva uma tentação. A mulher ficou atraída por aquilo, irracionalmente, e do mesmo modo ela disse ao homem uma coisa falsa, má e feia. Com efeito, quis seduzir Adão a comer o fruto de uma árvore que, para obedecer a Deus, não poderiam comer, embora não entendessem bem a razão deste mandato. O único argumento era: Deus proibiu!

O demônio, porém, levantou a questão: “Se comerdes desta fruta, sereis como Deus.” Mentira! Adão e Eva conheciam Deus e sabiam ser errônea a esperança de igualar-se ao Criador, uma loucura! Sabiam, também, que era mau comer do fruto, porque Deus, tão infinitamente bom, tinha proibido. E se proibira, só poderia ser por uma razão boa. Alterar isto era errado. Portanto, depois de pecar, sentiram a fundo a feiura da ação praticada. Era uma revolta, uma reação de inveja, um ato indigno.

Gabriel K.

Eles sentiram a indignidade do que fizeram. Irracionalmente, pela sedução do demônio através da cobra, aquela fruta brilhava: “Olhe, aqui está a fruta! Você não a quer? Está perdendo seu tempo com raciocínios. Coma!” Em certo momento, não resistiram à tentação e comeram… Foi um ato irracional e, portanto, falso, mau e feio, embora possuísse uma aparência de verdade, bem e beleza.

Nefastas consequências do pecado original

Ai! Momento de desgraça! Eles julgavam comer uma coisa capitosa, pois o demônio tinha prometido. Eles imaginavam que, ao engoli­-la, ficariam como deuses. No entanto, deu-se exatamente o contrário. Em primeiro lugar, sentiram a possibilidade de adoecer e morrer. Além disso, perceberam que sua razão começava a cambalear e já não conseguiam explicar as bem as coisas. Por fim, notaram terem perdido o império sobre si próprios, sobre todos os animais e demais criaturas. Logo, dali por diante, deveriam fazer esforço para obter o necessário para viver.

Imaginemos que houvesse no Paraíso um lindo galho cheio de frutas. Adão tinha um poder maravilhoso pelo qual chamava o galho e este se abaixava para dar-lhe as frutas na altura exata em que lhe ficava cômodo colher. Ele fazia uma mínima pressão no cabo e a fruta linda e suculenta estava nas suas mãos. Não precisava assar, nem fritar, nem torrar. Comia e já era deliciosa. Se ele quisesse submeter aquilo à ação do fogo, ou qualquer coisa do gênero, ele acendia uma chama com o domínio que tinha sobre as criaturas, do modo mais simples possível. Ou, quiçá, num lugar onde houvesse fogo, mandava um pássaro pegar uma pontazinha de madeira incandescente; era o fósforo do Paraíso! Ele acendia o que quisesse. Como tudo isso era fácil e maravilhoso!

Ora, após o pecado, como acender o fogo? Era preciso fazer a fricção das pedras. Levava um bom tempo para conseguir aquecer um pouco de comida e, depois, tinha que sair correndo atrás de um pássaro. Este olhava para Adão de cima para baixo e não atendia ao seu chamado! Tudo deu uma cambalhota!

E se fosse só isto! Com a perda do domínio, inclusive sobre si mesmos, eles perceberam que passaram a desejar, impetuosamente, coisas más. A impureza começou a tempestade dentro deles; as más inclinações tomaram conta, um teve inveja do outro, sentiram raiva, mau humor. Adão nunca tinha visto Eva mal-humorada e vice-versa. Jamais tinham pensado em se separar. Será que em algum momento Eva não pensou: “Haverá um mato no qual eu me esconda desse homem?” Quem sabe lá…

Flávio Lourenço
Adão trabalhando fora do Paraíso Museu de Navarra, Espanha

Alpsdake (CC3.0)
Monte Fuji

Logo depois de cometido o pecado, Deus apareceu-lhes e deu-lhes a primeira roupa. Costu rou ou, quiçá, ordenou aos Anjos que o fizessem. O primeiro casal começou a sentir vergonha de si e precisaram se vestir.

Flávio Lourenço
Virgen Blanca – Igreja de São Pedro, Huesca, Espanha

Na entrada do Paraíso foi colocado um Arcanjo com uma espada. Ali era o lugar maravilhoso onde o homem conhecia a verdade, o bem da ordenação de todas as coisas. Via como tudo era belo, porque ali só havia o belo. Ele era o rei. Entretanto, foi expulso do Paraíso e, fora, encontrou o entrechoque dessas coisas. Com isso compreendeu estar numa Terra de exílio, sofrendo o castigo de seu pecado; entendeu também que esse mal, esse erro e tudo o mais que existe de feiura na Terra são realidades contra as quais ele deve lutar para ordená-las segundo os desígnios divinos. Assim, faz a vontade de Deus e se habilita para outros objetivos.

Luta sublime rumo à conquista do mais alto objetivo

Para que o homem se habilita? Para o Céu, onde ele contemplará a Deus face a face. Contemplando-O, o homem tem todos os gáudios imagináveis: o do peixinho, do passarinho e infinitamente mais! Deus Se inclina para ele, sorri e diz: “Tu és meu filho e lutaste naquela batalha. Eu te ajudei e tu venceste! Meu filho, serei, Eu mesmo, a tua recompensa eterna demasiadamente grande! No peixe ou no pássaro Eu queria que compreendesses existir outras formas de gáudio possível, mas a Terra não te podia concedê-las. Esse gáudio, meu filho, sou Eu: a Verdade, o Bem, a Beleza! Entra, meu filho, na alegria de teu Senhor e Pai!”

Mas para contemplar a Deus o homem deve ter se preparado, pois a vida terrena é um seminário do Céu. Se na Terra amamos o erro, não vamos ver a Deus face a face no Céu. Para isso há o Inferno, onde nunca mais haverá paz.

O homem deve odiar o mal, e isso não significa apenas negá-lo, mas, sobretudo, reduzir seus espaços na Terra. Deve ser um cavaleiro da verdade, capaz de denunciar o erro. Quando vê alguém sendo caluniado, toma posição a favor deste, ain da que sofra com isso, porque ama a verdade. Ele não se contenta apenas em aceitar com amor a doutrina que a Igreja lhe ensina; mas quando vê alguém sustentando o contrário, não sossega enquanto não tenha levado esse ao conhecimento da verdade.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1985

Se assisto a uma aurora ou contemplo um monte como o famoso Fujiyama, tão belo, delicado e harmonioso, encanto-me! Mas se, em seguida, vejo uma cacaria de casas, posso ficar encantado? Não! Porque, do contrário, indicaria que eu não amei nada e, como sou ruim, é-me indiferente que as coisas sejam harmônicas como o Fujiyama ou horrendas como uma cacaria de casas. Então, se não amei o belo, como posso comparecer diante de Deus!?

Na Terra, marcando o limite entre o verdadeiro e o errado, o bem e o mal, o belo e o feio, vou expulsando de minha alma – e, tanto quanto possível, da alma dos outros – aquilo que nos prepara para o Inferno, para introduzir somente o que nos dispõe para o Céu.

Batalhadores intransigentes a favor dos transcendentais

Então, qual é a conclusão? Quando tivermos feito esses limites, teremos sido os batalhadores intransigentes a favor dos transcendentais e, portanto, a favor da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, a mais alta expressão criada de ordem sobrenatural da Verdade, do Bem e da Beleza. Ela é a Mestra que ensina a verdade, o bem e inspira todos os sentimentos que levam o homem à beleza. Se, durante a vida inteira, eu tiver lutado por uma coisa contra a outra, terei feito Contra-Revolução.

Quando chegar a hora do meu julgamento e, pela misericórdia de Nossa Senhora, minha alma estiver em condições gratas a Deus – porque Ela, misericordiosamente, rezou por mim no Céu –, terei obtido as graças para cumprir o meu dever até o fim e, aí sim, levarei comigo muitas e muitas almas. E, por fim, quando entrarmos no Céu, ouviremos os Anjos cantarem: “O irmão que salva seu irmão salva a sua própria alma e brilha no Céu como um sol por toda a eternidade.” É o prêmio da Contra-Revolução honesta, vitoriosa, dedicada até ao martírio e triunfante no meio dos Anjos de Deus.

Lembro-me de mim, pequenininho, vendo as coisas que eu gostava ou não gostava. Tive repulsas diante de muitas coisas. Às vezes eram pessoas: “Este não, esta não.” Outras, pelo contrário, me extasiavam! Lembro, também, que quando rezava, vinha-me a noção de estar ali toda a verdade, todo o bem e toda a beleza. Terminada a oração, passava. E de vez em quando se repetia a mesma ideia. Isso se intensificou e firmou no momento em que comecei a ir à Missa na Igreja do Sagrado Coração de Jesus. Ali compus todo esse entrelaçamento.

Compreendi que, desde logo, deveria procurar junto à Igreja Católica a fonte pela qual eu me manteria firme nessa convicção. Nela tudo está perfeito e eternamente certo. Ela eu devo seguir para todo o sempre, contra tudo e contra todos. Se Nossa Senhora me ajudar, eu o conquistarei!

(Extraído de conferência de 19/1/1985)

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