No universo por nós conhecido e com o qual temos um contato contínuo – portanto, não incluindo os Anjos, os quais não fazem parte do nosso universo visível – o que existe de mais elevado é a alma humana.
A experiência mostra que quando temos amigos em quem podemos confiar inteiramente, aos quais estamos vinculados por uma afinidade de alma completa, quer pela identidade de doutrinas e de convicções, quer por uma harmonia das semelhanças e dissemelhanças psicológicas que tornam o convívio agradável, interessante e variado, sobretudo afinidade no serviço a princípios mais altos, ficam postas as condições ideais para termos um convívio de alma muito grande, no qual encontramos o que mais aprazível pode haver para a natureza humana.
Por certo, pode-se dizer que um convívio assim é muito raro. Mas, quando ele se realiza, realmente é o maior deleite possível nesta Terra.
O modo pelo qual se imagina o Céu é correntemente muito influenciado por imagens de Santos no estilo sulpiciano, com isto de curioso: parecem apresentar almas sem características psicológicas próprias. Assim, seja Santa Dorotéia, Santa Hildegarda ou Santa Teresa, são representadas com a mesma ausência de personalidade.
Isso nos leva a perguntar qual é o relacionamento dessas pessoas no Céu, e tem-se a impressão de uma sensaboria completa, pois vários dos requisitos de um convívio humano perfeito não existem, o que contribui para apresentar do Paraíso uma imagem pouco atraente.
Podemos imaginar o convívio de almas afins no Paraíso, talvez entre pessoas de séculos diferentes, mas modeladas pela providência de Deus muito mais para formar um grupo no Céu do que em função de sua existência na Terra.
Essas pessoas, convivendo entre si, possuem uma felicidade na ordem do criado a mais completa possível. Mas ainda mais perfeita por estarem gozando da visão beatífica e comentarem o que estão contemplando de Deus, o Divino Panorama, que Se faz ver de maneiras infinitamente variadas por almas afins, as quais sentem do mesmo modo. Com isso, elas gozam de uma felicidade inimaginável. Assim, o ideal da felicidade da Terra se realiza no Céu de um modo fantástico, maravilhoso!
Na Idade Média o que houve foi algo muito inferior ao Céu empíreo, mas nesta ordem. As almas tinham essa consonância profunda, essa virtude, a Fé as unia verdadeiramente, elas se amavam, não só por cima dos limites que as dividiam no campo social, mas até por causa desses limites: cada fronteira social era um título para o amor, e não para o ódio.
Tudo isso ganha muito mais relevo se considerado à luz do que São Luís Grignion de Montfort diz a respeito do Reino de Maria, onde as almas santas, comparadas às dos séculos anteriores, serão como cedros do Líbano em comparação com arbustos. Portanto, o convívio, a densidade e a realidade da Cristandade vão ser muito maiores do que foram na Idade Média, pois haverá uma presença da graça nas almas especialmente própria a constituir uma sociedade mais parecida possível com o Céu empíreo.
Para isto estamos trabalhando: em oposição à Revolução “sataniforme” ou “inferiforme” – moldada segundo satanás ou os infernos –, instaurar uma Cristandade “cœliforme”. Isso abrange os nossos ideais e os realiza por inteiro. Para lá caminha o élan de nossas almas!*
* Cf. Conferência de 21/5/1989.