jueves, noviembre 14, 2024

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O mais belo dos panoramas

Muitas vezes nos extasiamos diante de um belo panorama: rios, montanhas, mares. Entretanto, o elemento rei de um panorama é o próprio homem. Por isso os panoramas mais magníficos da História são aqueles nos quais sobressaem os grandes gestos e os grandes lances dos homens.

O que é um panorama? É um conjunto de coisas suficientemente grandes para serem habitadas pelo homem.

Conceito de panorama

O deserto dá um panorama, o mar, o céu; neles há um conjunto e sobra espaço para os homens habitarem.

Pelo contrário, uma coleção pequena de obras de arte maravilhosas não forma um panorama, porque ali o homem não pode habitar. Pode-se afirmar que a unidade do panorama é o espaço do homem, e a multiplicidade desses espaços compõe um panorama.

Um auditório, por exemplo, constitui um panorama. É estranho aplicar-lhe essa expressão quando está vazio, pois seria muito forçada, porque a palavra indica vastidões, extensão. No entanto, quando se vê um auditório tão alegremente cheio, onde se executam harmonias magníficas, unindo à música a declamação de coisas tão generosas com tão belo senso, tudo isso são elementos; mas muito mais autêntico é vê-lo repleto de gente. Que magnífico! Por quê? Porque a pluralidade de pessoas faz notar o espaço necessário para um homem.

O elemento rei

Chegamos a esta conclusão: o elemento rei de todo panorama não é o espaço, é o homem. Porque, se é verdade que o panorama tem como unidade o espaço que um homem deve ocupar, é ainda mais verdade que quando há muitos homens dignos, o conjunto deles forma um panorama.

Panorama de vida, de variedade, de glória quando esses homens estão a serviço de Nossa Senhora. Panorama de desolação, de tristeza e de abjeção quando forma essas imensas massas modernas completamente anônimas, escravizadas pela Revolução, no qual as almas perderam a alteridade umas em relação às outras, logo todo mundo é ninguém.

Imaginem cenas que podem se formar aos olhos dos homens, por exemplo, uma imensidade indefinida de asfalto liquefeito, um pouco borbulhante, de maneira a não se perceber estar líquido. E tão longe quanto a vista humana alcança, ela só encontra asfalto derretido. Isto não constitui um panorama, porque as unidades que o compõem são minúsculas, perdidas num magma, formando um todo só sem pluralidades, sem variedade, sem unidade verdadeira.

O panorama no qual Deus se compraz

Tal consideração me trouxe ao espírito a ideia de quantas podem ser as modalidades de panorama que o homem possa ter diante de si. Pensei: “Como seria bonito nós vermos uma cena na qual se desenrolasse uma procissão religiosa magnífica ou uma na qual pudéssemos ver a cidade onde essa procissão se realizasse. Por exemplo, as procissões de Corpus Christi com a nota augusta e única da antiga Viena imperial. Que beleza! Mas seriam os palácios o panorama? Não, antes de tudo seriam os homens que ali estivessem.

Gabriel K.
Cataratas do Niágara

E então passou-me pelo espírito os panoramas aos olhos de Deus. O primeiro é o do universo quando foi criado. Deus olhou e Se comprouve com ele. É uma vista panorâmica. O panorama eterno.

Depois de os homens terem sido julgados, após a História estar consumada, olharemos para a Terra vivificada, glorificada, purificada pelo enorme incêndio que a consumirá, a fim de destruir nela o mal e conferir novo brilho, novo reluzimento ao bem. Todos terão sido julgados: quem praticou o mal foi condenado; quem foi destinado à recompensa foi premiado.

E Deus olha a Terra tendo em torno de Si a vastidão dos eleitos, embaixo a imensidade dos condenados e a obra d’Ele que se fez na Criação. Isto é panorama!

Uma indagação diante de um contraste

Cheguei a me perguntar e, sem ter tempo de me responder, vou tentar expor minha indagação em voz alta, conforme a reflexão me vier ao espírito.

Perguntava-me qual dos dois panoramas seria mais bonito: se o primeiro, da Terra pura onde os homens não pisaram, onde as fontes saíam de dentro da terra, onde as aves começavam a voar, os animais a saltar, os ventos a soprar e toda a vida começava apenas a borbulhar; que beleza matinal, que inocência primeva e magnífica em todas as coisas postas ali! Tanto mais quanto, dominando todo o panorama, o Paraíso Terrestre, foco e centro de todas as belezas! Que pulcro, que maravilha!

Flávio Lourenço
Col d’Aubisque, Pirineus Franceses

Gabriel K.
Partida para a celebração de Corpus Christi na Catedral de Santo Estêvão em Viena

Rijksmuseum. (CC3.0)
Santíssimo Cristo das Misericórdias Paróquia da Santa Cruz, Espanha

Depois pensei no panorama do mundo julgado. Houve desastres, catástrofes, crimes atrozes, houve atos de virtude incomparáveis. E por cima do clamor de todos os crimes, do ruído de todas as desordens, um gemido augusto, majestoso, dulcíssimo: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27, 46) Consummatum est” (Jo 19, 30).

Não houve panorama mais belo do que este: o céu carregado de nuvens, os pecados subindo de todos os lados, a nação eleita prevaricando, quase todos os Apóstolos dispersos e longe, apenas fiéis junto à Virgo Fidelis as Santas Mulheres, chorando. A Terra inteira repelente. Mas, vencendo tudo isso, o Homem-Deus que morre, que redime e que salva tudo!

Que panorama incomparável! Então, não é verdade que depois de tudo isto ter acontecido, apesar dos pesares, a Terra ficou mais bela? É evidente.

Assim são os panoramas: eles existem em função dos grandes gestos e dos grandes lances mais do que em função dos rios, das montanhas, dos mares, dos acidentes materiais.

Em última análise, o verdadeiro panorama da História é a obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. O resto é quadro, é moldura, é brigaria sem sentido, é invenção artística sem rumo. É coisa que brilha ou que, pelo contrário, se esvai.

(Extraído de conferência de 31/7/1982)

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