Em nosso continente, o Brasil ocupa um espaço geográfico enorme, precisamente porque, no povoamento da América do Sul, o bloco de origem portuguesa manteve-se coeso, ao contrário das nações hispânicas.
Nisto mesmo encontramos uma importante característica do brasileiro: povo muito afetivo, carinhoso, tendente à paz, à coesão, à união. Agrada-nos ser um com quem quer ser um conosco. Não gostamos de divisão. E apesar de nosso país ser imenso, todas as tentativas separatistas aqui não tiveram êxito. Em função dessa realidade, a unidade brasileira resulta majestosa e colossal!
A esse fator acrescenta-se a grandeza dos panoramas. O que o Brasil tem de magnífico em paisagens marítimas, por exemplo, é indizível. Por outro lado, vemos o colosso fluvial que é o Amazonas! Quilômetros depois de esse rio ter entrado no mar, a água permanece doce. O oceano empurra o mundo inteiro e o Amazonas empurra o oceano… Mas o faz brasileiramente, de modo pacífico, quase fraternal.
Panoramas magníficos, extensões imensas, matas enormes… O Brasil é colossal em todos os sentidos. Como é a inteligência dos seus filhos? Vendo as obras-primas produzidas por outros povos, como os europeus, por vezes nos sentimos diminuídos. De fato, por sua aplicação e esforço, eles fazem render a muito boa inteligência que possuem. Contudo, nós, brasileiros, fomos dotados de uma inteligência mais rápida e intuitiva, um jeitinho para pensar, pelo qual, antes de virem o raciocínio e a demonstração, já vamos direto ao fim. Quando nos dizem:
— Demonstre!
— Não sei, nem tenho vontade – respondemos.
Porque os outros brasileiros também já viram e não necessitam de demonstração…
A nossa posição em relação a quem, pela imigração, vem estabelecer-se aqui é esta: não sai atrito nem briga, a fusão é completa. Os imigrantes entram e se fundem com o nosso povo, tomam nosso modo de ser, aclimatam-se por inteiro.
Entretanto, o elemento mais precioso é a união religiosa, ameaçada apenas mais recentemente devido à grave crise dentro da Igreja que, para pesar nosso, desacredita muito a Religião Católica aos olhos do povo.
Chamados a uma tal unidade de Fé, de grandeza, de desígnios da Providência para servirmos de pedestal à Igreja Católica no mundo, temos, entretanto, um mal a vencer. O brasileiro é preguiçoso, tendente a cair nas duas piores modalidades de preguiça: a de pensar e a de ser virtuoso.
A primeira, já mencionamos. Ela nos leva a não nos dedicarmos ao estudo profundo, à leitura de muitos e bons livros, à formação de uma escola de pensamento metódico.
Porém, a preguiça de ser virtuoso é tremenda! Para praticar a virtude, é preciso se esforçar, não há remédio. Ninguém vai ao Céu sem passar pela via marcada com sangue pelos passos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos ensinou que o caminho do Céu é a Cruz.
Em nosso século, mais do que em qualquer outro anterior, o mundo está organizado de maneira a arrastar a humanidade para o pecado. E sem uma grande energia, um vigoroso domínio sobre si, obtido por meio da graça alcançada mediante a oração, caímos nos piores vícios.
A luta para perseverar na virtude supõe, portanto, seriedade e autodomínio, com o controle dos pensamentos, olhares, conversas, leituras, em suma: que o homem seja senhor de si, jugulando seus maus pendores, como quem mantém presa uma fera dentro de uma jaula.
Ora, de tudo isso nós temos preguiça… E talvez este seja o nosso pecado fundamental. Livre-se o brasileiro dessa preguiça e seremos um dos maiores povos da Terra! Porque, do contrário, não se consegue fazer nada de sério, nada de bom, nada de grande. Sobretudo, não se tem a Fé Católica, Apostólica, Romana seriamente praticada. Ora, a base de toda civilização é a Fé Católica aceita e professada.
Se, além dos grandes dotes de inteligência, imenso território, grandioso cenário, insondáveis possibilidades de riquezas, o Brasil for por inteiro católico, será, sem dúvida, um grandíssimo povo.*
* Cf. Conferência de 18/4/1988.