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À margem de uma grande ruína…

Contemplando o enorme desfile de associações que enchiam o Vale do Anhangabaú por ocasião do Congresso Eucarístico de 1942, no fundo do espírito de Dr. Plinio pairava uma interrogação dolorida: não chegaria tudo isso a uma enorme decadência?

Os movimentos católicos no Brasil tinham tal grandeza e um tal número de participantes, que não se podia ter ideia do que isto constituía na vida de uma cidade.

Respeitáveis, mas decadentes

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Considerem, por exemplo, o Congresso Nacional Eucarístico, em 1942. Um dos atos era o desfile das várias associações que enchiam, ordenada e metodicamente – segundo disposições preestabelecidas pela direção do Congresso –, os vastíssimos espaços do Vale do Anhangabaú. Era uma beleza ver chegar de vários lados da cidade, a pé, e tendo percorrido às vezes distâncias consideráveis, associações que entravam cantando os hinos de sua paróquia ou associação, alguma canção religiosa especial, e irem ocupando os seus lugares.

O conjunto que mais impressionou foi o das Filhas de Maria e das Congregações Marianas femininas. Quando as primeiras fileiras delas começaram a chegar ao Vale do Anhangabaú, as últimas, que estavam na Igreja de São Geraldo das Perdizes, não tinham sequer começado a se mover! Quer dizer, o número de Filhas de Maria era tão grande que toda essa movimentação ocupou um bom tempo do Congresso Eucarístico.

No entanto, eu pensava o seguinte: “Essas Filhas de Maria são moças respeitáveis e direitas, mas são certamente muito mais liberais do que foram as mães delas. Elas têm ideias mais liberais e se vestem de um modo mais liberal, sem ter nada em comum com as indecências de hoje.”

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D. Benedetto Aloisi Masella, Núncio Apostólico no Brasil, num dos eventos do Congresso Eucarístico

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Assim, da geração das mães para a delas, houve uma queda, irrefletida, na maior parte dos casos, pois as mães nem se deram conta claramente que delas para as filhas havia um tombo. E, por sua vez, as filhas certamente não teriam noção de que, de suas filhas para as netas, haveria outro tombo. E então, nas mãos dessa luminosa faixa de pessoas piedosas, devotas de Nossa Senhora, estava se realizando a decadência e depredação religiosa brasileira; o grande número delas não significava um freio eficaz para fazer com que a decadência não continuasse.

De um lado força, de outro, ruína

Eu não podia deixar de me perguntar:

“No fundo, o que isto tudo representava no coração dessas pessoas simpáticas e de uma vida pessoal, naquele tempo, vida digna indiscutivelmente? Do que é que valia tudo isto quando, de tudo isto nascia sempre algo pior e nunca melhor? Aquilo já não era a própria decadência? Não era ao longo dessas gerações de Filhas de Maria, de Congregadas e Congregados Marianos, de pessoas que apareciam habitualmente nas procissões – como, por exemplo, de Corpus Christi e outras – cantando hinos parecidos, em ponto menor, com os do Congresso Eucarístico?

De um lado estava a impressão de uma força enorme; de outro, a de uma ruína enorme.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em junho de 1995

Não sei se exprimo bem a interrogação dolorida que a visão dessa realidade despertava em meu coração, a mim, aparentemente um dos líderes desse enorme movimento. Evidente, despertava tristeza.

Sobre o palanque do Congresso havia uma mesa de honra para as autoridades; estava o Arcebispo Metropolitano de São Paulo, o Núncio Apostólico, legado a latere1 pelo Papa Pio XII para estar presente ao Congresso; grande número de Bispos e autoridades civis, entre as quais o Governador de Estado, que foi um dos mais ardorosos entusiastas do discurso que pronunciei.

Tudo isso estava muito bem, mas, para mim: pranto e dor! Eu via que dali se chegaria até onde se chegou…

(Extraído de conferência de 9/6/1995)

1) Do latim: legado ao lado (do Papa). Cardeal que representa pessoalmente o Papa em missão específica.

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