Com a Sede Arquiepiscopal vacante em São Paulo, tive alguns meses de tranquilidade até ser nomeado para ocupar o lugar deixado por D. José Gaspar o então Arcebispo de São Luís do Maranhão, D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.
Novas tragédias se avizinham
Essa eleição chegou ao meu conhecimento em circunstâncias muito especiais. Eu tinha feito uma conferência no Congresso Eucarístico, em Barra Mansa, e de lá fui para o Rio de Janeiro, onde fora convidado para falar numa reunião da Confederação das Congregações Marianas.
Tratava-se de um apoio que me dava o meu amigo jesuíta Pe. Dainese, então Diretor das Congregações Marianas. Essa reunião teve lugar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, o mais solene e amplo teatro do Brasil. Estava repleto de congregados marianos, com a presença do Núncio Apostólico1, Gal. Bina Machado2, representando o Getúlio Vargas, e representantes de outras autoridades. No dia seguinte, eu deveria subir ao seminário jesuíta de Nova Friburgo para fazer uma conferência aos seminaristas. Todas essas eram medidas para me prestigiar e dar um contragolpe à ofensiva que estava sendo perpetrada contra mim.
À noite falei no Teatro Municipal e na manhã seguinte, quando me preparava para ir a Nova Friburgo, recebi um telefonema interurbano de um dos membros do nosso grupo de São Paulo que, muito agitado, dizia:
— Soube o que aconteceu?
— Não, o que houve?
— Temos um novo Arcebispo.
— Quem é?
— D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta.
Eu percebi tudo o que viria. Aliás, meu amigo também, por isso estava agitadíssimo.
D. Carlos era muito amigo de D. José Gaspar e de outras pessoas de São Paulo empenhadas na minha difamação. Quando ele foi eleito, compreendi logo qual a tragédia da situação que se avizinhava. Eu não tinha a esse respeito a menor dúvida. Confesso que tive um aborrecimento simétrico àquele que eu experimentei com a nomeação de D. José Gaspar, e ainda maior. Fiquei tão aborrecido que, ao chegar a Nova Friburgo, notei que estava com febre alta.
No caminho, fui conversando no trem com um sacerdote jesuíta sobre vários assuntos, mas o tempo inteiro eu estava pensando nas consequências dessa nomeação, porque eu percebia que viria um impacto furioso por cima de nós.
Em Nova Friburgo, apesar da febre tão alta, tive que fazer a conferência para os rapazes. Saiu a conferência e tudo em muito boa paz, e eu fui dormir, muito incomodado, com medo de delirar durante a noite por causa da febre.
Trilho por onde corre o trem do mal
Para completar essa rajada de infortúnios, eu tinha levado para ler durante a viagem um livro sobre um personagem que detesto: Napoleão Bonaparte. Por excelência o detestável! O impostor, o rei falsificado. Tratava-se de suas memórias, que ele ditou depois de ter sido derrotado e exilado para a Ilha de Santa Helena.
Abri o livro na parte em que explicava a razão pela qual ele tinha reaberto na França os seminários que a Revolução Francesa fechara. De fato, uma das primeiras providências de Napoleão ao tomar conta do poder foi reabrir os seminários que, como toda a vida religiosa na França, tinham sido encerrados pela Revolução Francesa. Eis a explicação dada por Napoleão:
“Havia na França muitos seminários clandestinos funcionando com padres heroicos, que formavam alunos igualmente heroicos. Esses alunos, terminado o curso, seriam formados no heroísmo por bispos também heróis, que entrariam na França clandestinamente para ordenar padres.
Eu só tinha diante de mim dois caminhos: ou fechava esses seminários clandestinos, mas seria uma coisa intérmina, pois cerraria um e abririam outro e não conseguiria fechar todos; ou, se não os fechasse, nesse sistema de clandestinidade a França teria, no dia de amanhã, um clero heroico para dirigi-la do ponto de vista religioso. O que eu devia fazer, acima de tudo, era evitar o clero heroico. Era preciso ter um clero comodista. Com este a revolução se arranja, com o clero heroico não.
Então eu reabri os seminários bem certo de que, em pouco tempo, seriam diretores comodistas com professores comodistas formando alunos comodistas. Desse clero a revolução não teria nada a temer.”
Era bem o quadro que eu tinha diante de mim.
A Revolução promove o comodismo e a moleza entre os bons. Napoleão percebeu esse mecanismo delicado e como ele ganharia mais pondo moles entre os bons e permitindo que se formassem padres moles o quanto quisessem, do que tentando impedir a ordenação de um punhado de padres heroicos. Tese que ia criando firmeza no meu espírito: os moles entre os bons são o trilho por onde corre o trem do mal.
Em meio às minhas reflexões, a leitura não poderia ter vindo mais a propósito. Porém, amargurou-me ainda mais ao ver que eu deveria enfrentar uma situação, por assim dizer, planejada pelos maus para tornar inútil a reação da Igreja.
Carta Pastoral, cessação das polêmicas
Estando ainda no Rio, passei um telegrama a D. Carlos Carmelo, felicitando-o. Ele me mandou uma resposta amabilíssima, que publiquei no Legionário, dirigida a mim como Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica, saudando “o ilustre líder católico” e com outros elogios assim.
Antes de tomar posse, D. Carlos Carmelo publicou uma Carta Pastoral de saudação à Arquidiocese de São Paulo. Do princípio ao fim, essa Carta Pastoral pode ser qualificada de um libelo contra nós. A ideia essencial desenvolvida por D. Carmelo é que os católicos não devem estar divididos. As polêmicas procedem do demônio e são sempre más. A verdade sem a caridade não adianta nada; a caridade deve primar sobre a verdade. Por isso, ele condenava, censurava, verberava, reprovava, discrepava das polêmicas havidas até então entre católicos e dava ordem formal de cessar todas as polêmicas, até o momento em que o episcopado decidisse os temas controvertidos.
Declarava, assim, que as questões levantadas a respeito da Ação Católica seriam julgadas pelo episcopado nacional numa reunião a ser realizada dentro de um ano.
Percebi não haver meios de me defender no momento. Calei-me e disse: “Vamos esperar essa reunião e ali vou levantar o assunto.”
Escrevi, então, um artigo no Legionário intitulado “Armistício”, comentando e elogiando a Carta Pastoral de saudação, do qual seguem alguns trechos.3
Voz maternal e divina, voz da Igreja
“A solução prometida pelo Exmo. Revmo. Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta para os debates ocorridos de algum tempo para cá acerca da Ação Católica não pode deixar de agradar a quantos desses debates tenham participado com espírito alevantado e o exclusivo desejo de servir a Igreja. E isto, qualquer que seja, aliás, a posição ideológica que perante tão graves e complexos problemas tenham assumido os que por eles se interessam.
Com efeito, todo debate, ou se trava com o nobre objetivo de persuadir, esclarecer, fazer o bem, ou significa, como disse acertadamente o novo Arcebispo, mera explosão de particularismos e vaidades pessoais, ânsia de mando ou inveja de regalias ou preeminências.
Ora, a grande felicidade que os espíritos retos encontram em ser católicos consiste em que, estando com a autoridade infalível da Igreja, não podem errar.
A autoridade da Igreja foi instituída em vista da debilidade do espírito humano que, por vezes, ainda quando posto em face da verdade certa e demonstrada, não vê, ou teima em não ver, a luz meridiana que lhe entra olhos adentro. E, por isso, ainda que as controvérsias doutrinárias fossem sustentadas com os homens por Anjos vindos do Céu, geraria desgostos, ressentimentos, rebeldias que a lógica mais cristalina não lograria vencer.
Infelizmente, os Anjos poucas vezes aparecem aos homens para participar de suas contendas. Por isso, as disputas entre homens tomam, em geral, um calor, uma intensidade, uma combatividade que, entre nós, a natural viveza do espírito latino e a verve brasileira ainda acentuam mais.
Ora, o que os homens não conseguem, e os próprios Anjos não conseguiriam dos homens, consegue-o dos verdadeiros católicos a autoridade da Igreja. Com efeito, para o verdadeiro católico, a voz da Igreja é a voz de Cristo na Terra. Ela desce do alto do Céu, não para vencer seus filhos, mas para os ensinar e, nos acentos com que ela define para nós a verdade, há sempre algo da melodia angélica que ouviram extasiados os pastores de Belém. É com o mais puro e exclusivo desejo da ‘glória de Deus no mais alto dos Céus e da paz na Terra para os homens de boa vontade’ que ela exerce seu Magistério e dissipa as discrepâncias entre seus filhos.
Na promessa do Natal, estava contida a promessa do Magistério infalível da Igreja, sem o qual a dialética humana seria impotente para promover a glória de Deus e a paz verdadeira, até mesmo entre os homens de boa vontade. É que nenhuma voz tem na Terra a maternal eficácia de iluminar e sanar que tem a voz da Igreja. As vozes privadas tornam-se, pois, supérfluas, perdem sua importância quando, na sua majestade, a Igreja ergue sua voz divina, assim como se apagam as luzes e se extinguem as candeias ao triunfal romper da aurora.
O Legionário entra em armistício
O Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta nos traz a promessa desta aurora. Chegou, por fim, o momento em que a Igreja, em sua sabedoria, entendeu oportuno decidir. Sua palavra será uma palavra de ordem, uma palavra de paz, porque, sempre fiel a Cristo e a Cefas, será uma palavra de verdade.
Com efeito, promete-nos S. Exa. o julgamento da Comissão Episcopal para os ‘momentosos assuntos’ referentes à Ação Católica. Essa promessa é áurea. Todo ato de Magistério da Igreja é uma joia. O que se nos promete é um escrínio de joias, já que é sobre mais de um ‘momentoso assunto’ que a Comissão Episcopal vai decidir. Todo ato de Magistério da Igreja é semente; é preciso que o terreno se prepare pela oração, pela penitência e pela caridade para receber essa semente.
E, por isso, S. Exa., ‘secundum indulgentiam, non secundum imperium’4, pede um armistício. Para este armistício o Legionário entra, não só a fim de atender ao augusto pedido, mas de grand coeur5, como quem realiza uma velha aspiração.
Ora, a Pastoral do Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta nos fala num armistício ‘não em caráter definitivo, mas em caráter de emergência’, que durará única e exclusivamente ‘enquanto momentosos assuntos não forem julgados pela Comissão Episcopal da Ação Católica’. Que melhor, senão esta espera que não é a estagnação na ambiguidade, mas o luminoso e seguro prenúncio da verdade?
Todo armistício é congraçamento, desmobilização, suspensão de qualquer altercação doutrinária, esquecimento voluntário de queixas pessoais, introito de vida nova.
Para este armistício, o Legionário entra, afirmando aos que se sintam magoados com alguma palavra sua, que nunca foi esta sua intenção. E que dá por esquecidas as mágoas que no calor da refrega se lhe tenham causado.
Cessou o passado, e toda a nossa atitude consiste em trabalhar na seara do apostolado, olhos postos na autoridade da Comissão Episcopal, da qual esperamos a água viva da verdade, com a sedenta e abrasada sofreguidão do cervo ‘ad fontes aquarum’6.
Esta verdade, os católicos genuínos, qualquer que seja sua presente posição doutrinária, estão prontos a aceitar, ainda que discrepe de todo em todo de seus pontos de vista individuais, que sacrificarão sem mercê nem piedade para estarem em tudo e por tudo com a Igreja.”
Recolhendo as tropas para deixar o campo de batalha
Alguns meses mais tarde, D. Carlos Carmelo destituía o Côn. Mayer dos cargos que ocupava e o designava para vigário na paróquia, então longínqua, do Belenzinho. Também o Pe. Sigaud foi enviado por seus superiores à Espanha como missionário.
Os adversários pretendiam, assim, ter liquidado completamente o nosso grupo.
Para nós não havia planos, porque a batalha estava ganha por eles. Eu não tinha outra coisa a fazer a não ser retirar-me do campo de batalha, recolher minhas tropas – cinco ou seis pessoas – e reorganizar um foco de resistência que recomeçasse a guerra.
Tivemos que abandonar o Legionário e montar outra sede onde nos reunirmos para assegurar pelo menos a sobrevivência do Grupo que, se não tivesse onde se reunir, acabaria deixando de existir.
Alugamos o andar térreo de uma casinha na Rua Martim Francisco – para cinco ou seis pessoas não era necessária a casa inteira, nem tínhamos dinheiro para isso – que ficava perto da sede do Legionário.
Lembro-me ainda da noite trágica em que estávamos deixando as dependências do jornal e retirávamos os nossos pertences. Quando o automóvel já estava carregado com nossos objetos, eu disse:
— Nós precisamos levar também umas duas ou três coleções do Legionário.
Doeu-me a atitude de um dos poucos que tinham ficado fiéis a mim. Ele olhou com pouco caso e respondeu:
— Levar embora uma coisa dessas? Isso aqui pode deixar… É um jornaleco que nunca mais interessará a ninguém.
Ele, um dos redatores do Legionário!
— Você não sabe de que importância histórica será, no futuro, termos essas coleções.
Ele não compreendeu minha resposta, mas era muito cordato e ajudou-me a carregar os números do jornal e acabar de encher o automóvel.
Instalamo-nos na nova sede, arranjamos um pouco de dinheiro para mobiliá-la razoavelmente e fizemos dela uma espécie de catacumba onde respirar e viver. Ali montamos nossa primeira capelinha, na qual havia uma imagem de Nossa Senhora Auxiliadora.
Começamos, então, o trabalho para justificar o livro Em Defesa da Ação Católica, tirando fotografias de documentos suspeitos para serem enviadas a Roma. Mandávamos relatórios para a Santa Sé por meio do Pe. Dainese, Pe. Mariaux e outros condutos.
Pudemos constatar, mais do que nunca, toda a trama herética existente dentro da Igreja para introduzir uma religião falsa no âmago da verdadeira. Naturalmente, isso nos dava muito ânimo para a resistência.
Na pequena catacumba da Rua Martim Francisco…
Estava terminada uma parte da história e ia começar outra. A que terminava era, humanamente falando, uma derrota colossal.
No Movimento Católico eu tinha sido tudo; passava a não ser nada. Era o líder de um movimento com congregados marianos no Brasil inteiro e passava a ser chefe de um grupinho de cinco ou seis amigos.
Eu considerava, depois de instalados na Rua Martim Francisco, a situação miserável em que nos encontrávamos: mal vistos, isolados, bloqueados, com aquela sede bem arrumada, mas pequena, uma verdadeira catacumba. Porém, como toda catacumba, era um abrigo antiaéreo.
Houve, infelizmente, fraquezas e defecções, dissabores de toda ordem que não vale a pena nem contar. Alguns que deveriam ter vindo conosco e não vie ram; outros querendo se anexar a nós, os quais estávamos vendo que eram traidores e não os aceitamos.
Todas as noites comparecíamos à sede, depois íamos dormir. Durante anos, cinco ou seis pessoas que se reuniam para conversar, no fundo, os mesmos assuntos. O mundo era muito mais calmo, havia menos acontecimentos a se comentar, tudo muito mais monótono, menos dramático. Não tínhamos mais o que nos dizer uns para os outros. Compreende-se que começassem a surgir desentendimentos e, portanto, essa ninharia que restava ainda se fracionasse e diminuísse. Não obstante, perseverávamos.
Certa noite, não tendo mais o que fazer para distraí-los, corri os olhos pelas paredes da sala onde estávamos e notei que, por causa da poluição, tinham ficado com a pintura feia. Então eu disse: “Precisaríamos pintar as paredes dessas salas, mas não temos dinheiro para pagar pintor. Seria necessário comprar tinta e vocês mesmos pintarem.” Eles aceitaram a sugestão, alegres porque era uma distração. Esse era o grau de isolamento a que tínhamos chegado.
Um sofrimento de escalpelar
Eles sabiam que eu não tinha jeito para pintura. Resolvi, então, ficar no meu escritório no centro da cidade à espera de um telefonema deles. Quando terminassem a pintura, eu iria lá para conversarmos um pouco. Foi quando apareceram dois desses seis, dizendo-me: “Plinio, nós queremos que você faça um exame de consciência. Você é um homem sobre quem baixava outrora uma bênção. Tudo quanto você fazia dava um resultado brilhante. Hoje, pesa uma maldição. Tudo quanto você faz, fracassa. Não dá resultado. Um desses fracassos é o nosso grupo. E a culpa tem que estar em você.”
Era meu espanto, meu terror a hipótese de que eu fosse culpado por alguma coisa. Aquela noite passei em claro examinando minha consciência.
Não fazem ideia do que representa um apostolado que a Providência parece ter abandonado. Depois de graças e graças que chegam ao auge, tem-se a sensação de um inverno em que todas as folhas vão caindo. Ter-se-ia a impressão de que Deus se voltou contra nós com todas as suas armas para nos esmagar.
Não teria havido algum defeito moral nosso, alguma falha na nossa vida espiritual que teria sido a causa desse abandono? Quem poderia saber? O pior de tudo é esta incerteza. Porque não basta dizer: “Deus tem os seus caminhos, durma em paz.” Sim, mas isso quando aparece um Anjo e nos diz: “Você não tem culpa.” Mas onde está esse Anjo? Eis a questão. Confesso que o sofrimento dessa ocasião foi de escalpelar!
À espera da hora de Nossa Senhora
Começamos a aceitar a desgraça como ela nos tinha vindo e, conformando-nos com aquilo que a Providência tinha permitido, passamos a nos reequipar para levar, nas “catacumbas”, a vida mais suportável possível.
O nosso plano nesse momento era simplesmente existir e esperar que Nossa Senhora fizesse vir ao nosso encontro alguma coisa; quer dizer, coligar aqueles que tinham saído da nau conquistada pelo adversário para fazermos uma canoa e começarmos a navegar com ela. Nossa Senhora quis nos deixar numa situação em que parecêssemos perdidos, para provar a nossa confiança.
Acho que essa foi a fase mais bonita de nossas vidas. Nossa Senhora permitiu que baixasse sobre nós o inverno mais rigoroso, caíram todas as folhas de nossas árvores e nós começamos a fazer jardinagem em pleno inverno. De repente, inexplicavelmente, da semente seca brotou uma árvore que começou a dar flores e frutos, deitando raízes nos cinco continentes. Foi um tempo de provação tremenda, mas também de perseverança. Isso é o mais belo.
Filial expectativa, heroica submissão
Em circunstâncias normais, o verdadeiro seria que, apresentado como foi, o livro fosse examinado e eu chamado a dar as provas daquilo que afirmei. Essa minha obra tem dois aspectos: o primeiro é uma denúncia de uma conjuntura, o segundo é a análise doutrinária dela. Então, poderiam me chamar e perguntar: “Que provas o senhor tem de que isso é assim?” Depois poderiam me dizer: “Suposto que seja essa a situação, sua análise está errada em tais pontos.”
Porém, se a situação era aquela e a análise estava certa – e ninguém ousou contestar que o fosse – era preciso bater palmas a quem indicou de tal maneira o adversário infiltrado nas próprias fileiras da casa paterna. Era um dever, portanto, não apenas aplaudir e difundir o livro, mas fulminar aqueles a quem ele fulminava.
Entretanto, quase dois anos de silêncio, levando a vidinha obscura naquele pequeno andar térreo de um prédio insignificante da Rua Martim Francisco.
Por fim, os jornais começaram a noticiar que o episcopado nacional se reuniria no ano seguinte.
Escrevi, então, uma carta a D. Carlos Carmelo na qual, entre outras coisas, eu dizia:
“Pelos jornais, chegou ao meu conhecimento a reunião da Comissão Episcopal da Ação Católica. Tal fato já fora prenunciado na Pastoral de Saudação de V. Exa., publicada há cerca de um ano. Nessa Pastoral, V. Exa. pedia uma completa cessação das polêmicas existentes então sobre temas da Ação Católica, até que os assuntos controvertidos fossem decididos pela Comissão.
Ora, meu livro Em Defesa da Ação Católica tratou de todos ou quase todos os temas sobre os quais V. Exa. pediu que se fizesse silêncio, e estava intimamente relacionado com as discussões então existentes. Parece-me, pois, fora de dúvida que as proposições por mim adiantadas em meu livro serão objeto do pronunciamento da Comissão.
Nas mãos de V. Exa. Revma., como meu Arcebispo, venho depositar meus protestos de filial acatamento e resoluta obediência.
Escrevi meu livro fundando-o todo em textos do Magistério infalível e documentos pontifícios. Estou disposto a derramar até meu sangue, se preciso for, para defender essas verdades. Mas, se errei no interpretar o pensamento do Romano Pontífice, estou no firme propósito de aceitar por falso e pernicioso tudo o que a meu juízo privado e falível tenha parecido verdadeiro e bom. E, com a graça de Deus, me retratarei publicamente e sem reservas, praticando este ato de humildade com a ufania com que os filhos do mundo recebem as glórias da Terra.
Suplico a V. Exa. Revma. e àquela Reverenda Comissão que, com toda a firmeza e precisão, se pronunciem sobre os assuntos que debati em matéria de Ação Católica. Se interpretei mal as diretrizes pontifícias em matéria de Ação Católica, estou pronto a desabonar quanto sustentei.
Dói-me dizê-lo a V. Exa., mas durante este ano estivemos amarrados ao pelourinho. O armistício foi observado de modo unilateral. Contendores houve que, não respeitando sequer nossa disciplina, continuaram na liça.
É fonte de paz, na Igreja, o Magistério. Diante dele me ajoelho reverente e obediente, esperando dele aquilo que há um ano V. Exa. nos pro meteu: o ensinamento certo, ortodoxo, que nos indique clara inteligência dos textos sagrados e dos ensinamentos infalíveis do Romano Pontífice.
Durante o ano inteiro, renunciei ao direito natural e imprescritível da defesa. Esta situação aparentemente insuportável se me tornava suportável pela perspectiva do pronunciamento que está sendo anunciado. Tal é a filial expectativa com que o aguardo.”
“Se disse mal, no que foi? Se não, por que me injuriam?”
Alguns meses mais tarde enviei outra missiva a D. Motta:
“Eminência,
A elevação de Vossa Eminência ao Colégio Cardinalício aumentou ainda mais a íntima compenetração dos destinos de Vossa Eminência com os da Santa Igreja, que vai servir agora sob a sagrada púrpura, simbólica do sacrifício e do martírio.
Pensando nisto, seria quase inevitável que me viesse ao espírito a chamada ‘questão liturgicista’, intimamente entrelaçada com graves erros acerca da natureza e modo de agir da Ação Católica.
Vossa Eminência sabe o que penso sobre a gravidade de risco a que esses problemas expõem a Igreja no Brasil. O mal deixou raízes mais fundas e põe em risco a fidelidade do próprio Brasil à Igreja de Roma.
Estou certo de que toda a confusão referente ao ‘liturgicismo’ e aos erros da Ação Católica se dissiparia se se fizesse luz sobre a questão do meu livro. De norte a sul do País exclamaram uns que estou com a boa doutrina, sussurraram outros que errei. Como errei? No quê? Ninguém o diz. Nunca obtive, para minha edificação e correção, um esclarecimento concreto sobre o assunto.
O que é certo é que ninguém pode negar que existem os erros que mencionei. Meu livro é bem anterior à Encíclica Mystici Corporis7 e, entretanto, já impugnava os mesmos erros contra os quais agiu a paternal solicitude do Sumo Pontífice. Como explicar esta atitude ‘profética’ que tomei? Adivinhei os erros?
O único ponto que pode ser posto em dúvida é se a doutrina que sustentei sobre a Ação Católica é certa ou errada. Se for certa, diga-se isto para a defesa da verdade, preservação das almas e exaltação da Igreja. Se for errada, declare-se isto do mesmo modo. O que não posso compreender é o silêncio. O silêncio, em que os fautores do erro tanto se obstinam e com o qual só eles podem lucrar.
Pondo-me genuflexo diante da pessoa augusta do Sumo Pontífice, faço minha a pergunta do Salvador: Se disse mal, no que foi? E se não disse, por que me injuriam? (cf. Jo 18, 23)
Não se deixará de perguntar a Vossa Eminência quem é este fautor de discórdia, de indisciplina, de erros que escreveu um livro intitulado Em Defesa da Ação Católica. Diga Vossa Eminência que este fautor de discórdia, pro bono pacis8, está amarrado há mais de um ano à coluna da difamação, sem protesto, sem revolta, sem indignação, sem que jamais alguém possa dizer que eu proferi uma só palavra contra a Autoridade que houve por bem agir assim: sicut ovis qui ad occisionem ductus est, non aperuit os suum.9”
Carta ao episcopado brasileiro
Na véspera da reunião do episcopado nacional enviei a todos os bispos do Brasil uma carta circular declarando meu pedido de que a reunião não deixasse de julgar meu livro, sem medo de usar contra mim toda espécie de severidade se eu tivesse alguma culpa. Entre outras coisas, eu dizia em minha missiva:
“As controvérsias que já anteriormente à publicação de meu livro transpareceram de um ou outro modo na própria imprensa católica correspondiam, infelizmente, a problemas muito reais. Os mesmos problemas foram, em parte, focalizados pouco depois da publicação de meu livro pela Encíclica Mystici Corporis Christi, que condenou alguns dos erros que combati.
Em sua Pastoral de Saudação aos diocesanos, Sua Eminência D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta pediu que cessassem as discussões e polêmicas, embora sem as proibir formalmente.
Mas o seu pedido, para o Legionário, foi uma ordem. E, a partir daquele momento, deixamos, com respeitoso acatamento, de fazer qualquer referência aos assuntos que antes tão vivamente nos empolgavam.
Nossa atitude em nada foi correspondida, infelizmente, pela conduta dos que sustentavam tese oposta. Calamo-nos. O que de nós não conseguira a mais insistente e geral campanha, conseguiu-o de pronto a obediência.
A grande esperança que sempre nos estimulou a perseverar nesta atitude foi a notícia dada em sua Pastoral de Saudação por Sua Eminência, o Sr. D. Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta: as doutrinas controvertidas seriam um dia julgadas. E a Comissão Episcopal da Ação Católica distinguiria, em breve, entre as várias opiniões correntes sobre a Ação Católica, o joio do trigo.
A presente reunião se reveste de uma grandeza impressionante. O momento em que é feita, a categoria e qualidade dos que a ela são convocados, tudo enfim desperta a respeitosa expectativa para ela, atrai o respeito e a atenção do País inteiro.
Sentindo, embora, minha consciência tranquila e minhas convicções intactas, repito com todas as veras da alma que, se porventura qualquer das proposições contidas [em meu livro] estiver contra a doutrina católica, estou disposto a receber de bom grado e aceitar com toda a docilidade a correção que a infalível Igreja de Deus determinar.
Não peço que a minhas teses seja dado ganho de causa. Peço, apenas, que seja feita justiça e declarada a verdade, para bem das almas e grandeza da Ação Católica. Se forem meus os ombros sobre os quais deva recair o fardo da condenação, ei-los: estão prontos para isto.
Uma só coisa desejo, e esta eu a peço pelo Sangue infinitamente Precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo: que quanto antes se faça luz, se condene a treva, se dissipe a confusão, se estraçalhe o erro, todos os erros, cada erro, ainda que, pela humana fragilidade, a confusão, o erro só de mim procedam.”
Apelo de intervenção a um bispo amigo
Os bispos se hospedavam em diversos conventos do Rio de Janeiro e era preciso espalhar essa carta com urgência, entregando-a em mãos, de maneira a terem tempo de ler antes de irem à reunião. Isso foi feito, com muita habilidade e solércia, por um membro do nosso grupo.
Além disso, procurei um bispo alagoano, homem combativo e inteligente, Bispo de Bragança Paulista, D. José Maurício da Rocha, que mantinha boas relações comigo e apoiara meu livro com coragem, e lhe disse:
— D. José Maurício, eu queria que Vossa Excelência fosse portador de uma carta minha aos participantes da reunião. Aqui está, e peço a Vossa Excelência o favor de, quando se tratar desse tema, dar conhecimento dela ao plenário.
Ele que era um homem do sim-sim, não-não, e tinha muita facilidade de expressão, leu a carta e me respondeu:
— É uma carta muito nobre. Eu lhe garanto que farei a leitura na reunião.
Escrevi também uma carta análoga a todos os bispos que haviam aprovado meu livro, dizendo, em outros termos: “Vossa Excelência aprovou, chegou a hora!”
Eu estava atentíssimo para saber o que se resolveria na reunião. Eu não tinha liberdade com D. Maurício para telefonar a ele e perguntar o que se tinha passado. Era preciso ver nos jornais, porque, se tratassem de me condenar, todos os periódicos dariam. No dia seguinte à reunião, vou aos jornais e, sobre o meu caso, nada…
“Moleza, até onde subistes!”
Alguns dias depois chegou a São Paulo o Bispo de Bragança Paulista. Fui visitá-lo e ele me contou como havia corrido a reunião. Narrou que, a certa altura, ele se levantou e disse:
“Eu tenho uma comunicação do Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a fazer. Ele nos dá uma boa notícia: a de sua total submissão e fidelidade à Igreja. Vamos agora julgá-lo e analisar seu livro para ver se tem verdades ou erros.”
Em seguida leu a carta. Vários bispos aplaudiram. Entretanto, o Cardeal Mot ta ficou lívido e não disse uma palavra. D. Cabral, Arcebispo de Belo Horizonte, grande adversário do livro, do qual mandara queimar um exemplar numa reunião da Ação Católica, começou a chorar, dizendo: “Eu peço para não julgarem esse livro, por favor, porque se o julgarem, julgarão a mim. Os senhores acham equitativo julgarem a mim?”
Fizeram a votação e resolveram colocar uma pedra em cima do assunto. Ora, isso queria dizer que, se julgassem, era o outro quem perderia; do contrário, teriam vindo por cima de mim. Resultado: silêncio geral.
Se eles sabiam que eu estava com a razão, por que não foram até Pio XII, retratando-se caso o Papa dissesse que eles não tinham razão? Não, nada. Abafaram o caso e comigo no pelourinho. Mais uma vez eu pensei: “Quanto mal fazem os bons quando não são inteiramente bons!” Era a experiência que eu assim adquiria. Moleza, do que não és capaz?! Moleza, até onde subiste!
Assim, as devastações da moleza, para não falar das devastações da traição, iam até mais não poder. Tudo na atual crise da Igreja se fez na moleza, na indiferença, na indolência, na entrega dos pontos. Então aprendi esta forma de maldade entre os bons: a traição e a moleza.
A Santa Sé procura reabilitar o Grupo
Alguns meses depois, recebemos a notícia de que o Pe. Sigaud fora nomeado Bispo de Jacarezinho, no Paraná. Grande alegria, porque era a vitória, uma confirmação da Santa Sé pela boa orientação de nosso livro.
Ele voltou para o Brasil, houve a cerimônia de Ordenação episcopal, festas, publicamos nos jornais, etc. Todos ficaram entendendo que a Santa Sé estava querendo nos reabilitar.
No ano seguinte, chegando à nossa sede da Rua Martim Francisco, encontrei do lado de fora um dos membros do nosso grupo radiante de alegria.
— Plinio, Plinio. Habemus Episcopus!
— Como assim?
— O Côn. Mayer acaba de ser nomeado Bispo de Campos, no Estado do Rio.
Esse fato tinha um antecedente. Dias antes, o Côn. Mayer estivera em meu escritório e me perguntara:
— A ser nomeado bispo, você acha que valeria a pena eu aceitar qualquer diocese longe de São Paulo?
Pensei: “Pobre coitado, está parafusado como vigário no Belenzinho e pensando que vai ser nomeado bispo. Isso é um sonho numa noite de verão.”
Mas, para ser amável com ele, pensei um pouco e respondi:
— Côn. Mayer, acho que o máximo de distância que conviria aceitar seria, por exemplo, até Campos.
Notem que a sede daquela diocese não estava vacante.
Ele foi embora, acompanhei-o até a porta, muito amavelmente, com pena dele.
De fato, ele tinha sido convidado precisamente para Bispo Coadjutor da Diocese de Campos dos Goytacazes.
Dirigimo-nos imediatamente para o Belenzinho. Grande festa, muito mais audaciosa do que a de D. Sigaud.
Por fim, chega a aprovação do livro
No outro ano chegou-nos, por fim, uma manifestação clara de que a Santa Sé estava de acordo conosco.
Tinham me chegado rumores de que em Roma estavam muito sentidos comigo porque a Santa Sé me enviara uma carta aprovando o meu livro e eu não tinha respondido.
— Mas como? – perguntei surpreso – Carta aprovando meu livro? Eu não recebi nada!
— Sim, uma carta oficial da Santa Sé. Foi mandada por meio do Mons. Enzo Guzzo10, secretário do Cardeal Motta.
Achei a coisa singularíssima. Dias depois encontrei Mons. Guzzo na fila de ônibus.
— Monsenhor, bom dia, como vai passando?
— Bem. E o senhor como está?
— Monsenhor, é verdade que o senhor foi portador de uma carta da Santa Sé para mim?
— Ah, é verdade.
— Mas o senhor sabe que eu não recebi essa carta?
— Ah, pode ser… Eu pus no correio.
— Mas, como o senhor entrega ao correio uma carta da Santa Sé para mim? O senhor não poderia me telefonar? O senhor sabe que dez minutos depois eu estaria no Palácio Pio XII para pegar a carta. Mas o senhor manda pelo correio?!
— É o modo normal de mandar cartas e eu usei esse modo.
— Está bem, obrigado.
— Ah, não tem de quê.
Mandei um aviso, pelo mesmo conduto, que eu não tinha recebido a missiva. Algum tempo depois me telefonou um sacerdote carmelita, amigo meu, dizendo: “Dr. Plinio, estou com uma carta que a Santa Sé mandou para o senhor.”
A Santa Sé, sabendo que eu era terceiro carmelita, mandou a carta por meio do Geral da Ordem do Carmo em Roma para o Provincial carmelita em São Paulo, o qual me fez chegar por esse meu amigo.
Poucos minutos depois, eu estava no convento carmelita para pegar a carta e a publiquei nos jornais. Nela estava escrito:
“Palácio do Vaticano, 26 de fevereiro de 1949
Preclaro Senhor,
Levado por tua dedicação e piedade filial ofereceste ao Santo Padre o livro Em defesa da Ação Católica, em cujo trabalho revelaste aprimorado cuidado e aturada diligência.
Sua Santidade regozija-se contigo porque explanaste e defendeste com penetração e clareza a Ação Católica, da qual possuis um conhecimento completo e à qual tens em grande apreço, de tal modo que se tornou claro para todos quão importante é estudar e promover tal forma auxiliar do apostolado hierárquico.
O Augusto Pontífice de todo coração faz votos que deste teu trabalho resultem ricos e sazonados frutos e colhas não pequenas nem poucas consolações. E como penhor de que assim seja, te concede a bênção apostólica.”11
“Magnificat” a Nossa Senhora
Quando olho para todo esse passado, sou obrigado a reconhecer que isso tudo são dons superabundantes de Nossa Senhora. Se não fosse o fato de Ela nos ter dado esse senso contrarrevolucionário que fez com que no primeiro momento pudéssemos perceber o inimigo e a extensão da trama por ele levantada, nós não poderíamos ter lançado o livro Em Defesa da Ação Católica que de tal maneira frustrou os planos armados pelo adversário.
Apesar de precipitados de uma situação brilhante, ainda deixávamos muitas consciências alertadas, muitas pessoas que continuavam a lutar de nosso lado. Caíamos, mas arrastávamos o inimigo em nossa queda também.
Eu costumo comparar a nossa posição à de uma luta de gladiadores romanos cuja pintura vi em certa ocasião. Um dos combatentes apoiava seu pé sobre o pescoço do vencido, deitado no chão. Porém, este último erguia seu tridente e o mantinha sob o pescoço do vencedor. Um é vencido; o outro, vencedor, mas os dois pescoços estão atingidos. Não é uma situação tão fácil de definir.
Assim, dentro de nossas desgraças, tínhamos feito, até certo ponto, o papel de Sansão. A coluna estava derrubada e o nosso cadáver atravessado na estrada impedia o inimigo de continuar. O sacrifício tinha sido útil.
No retrospecto desses anos, minha alma não pode deixar de cantar o Magnificat para agradecer a Nossa Senhora tudo isso, que não é senão uma contínua efusão de bondade d’Ela.
1) Benedetto Aloisi Masella (*1879 – †1970).
2) João Bina Machado (*1908 – †2000).
3) Subtítulos nossos.
4) Do latim: De acordo com a indulgência, não como ordem (cf. 1Cor 7, 6).
5) Do francês: com generosidade.
6) Do latim: Às nascentes de água.
7) De 29 de junho de 1943.
8) Do latim: para bem da paz.
9) Do latim: Como ovelha foi levado ao matadouro; ele não abriu a boca (cf. At 8, 32).
10) Enzo de Campos Guzzo.
11) CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Nasce a TFP. In: Folha de São Paulo. São Paulo. Ano XLVIII. N.14.496 (22 fev., 1969); p.4.