Se tivermos fé de que uma só palavra de Nosso Senhor pode nos curar ou ser o ponto de partida da cura, compreenderemos ter nossa vida espiritual possibilidades de progresso e de desencalhe inimagináveis.
A devoção ao Coração Eucarístico de Jesus deve ser entendida como o Coração de Jesus enquanto dirigindo-Se às almas na Sagrada Eucaristia, ou a Sagrada Eucaristia considerada como prodígio da misericórdia do Coração de Jesus.
As curas narradas pelo Evangelho eram autênticas e tinham valor simbólico
Sugiro fazermos algumas considerações práticas que possam ajudar a nossa Comunhão na Festa do Sagrado Coração de Jesus.
Devemos nos lembrar do princípio, sempre importante nessas situações, de que a festa litúrgica traz consigo graças especiais relacionadas com a data. Portanto, na Festa do Sagrado Coração de Jesus receberemos graças que derivam do Coração Eucarístico de Jesus. Ao mesmo tempo, como se trata de uma festa eucarística, essas graças devem ser particularmente abundantes por ocasião da Comunhão. E nós, que possuímos a felicidade inapreciável de nos aproximarmos da Sagrada Mesa todos os dias, teremos um título especial de fervor para comungarmos.
Quando nos preparamos para receber a Sagrada Eucaristia, devemos ter em mente que o Deus que vamos receber em nossas almas é um Deus de misericórdia infinita, no maior rigor da palavra “infinita”. Ou seja, de uma condescendência imensa, pronto sempre a ajudar a reerguer o pecador, quer se trate do que tenha a suprema desventura de estar em estado de pecado mortal, quer do que se encontra em estado de pecado venial ou atolado em algumas das tais dificuldades ou ingratidões que o pecador tem às vezes, mesmo quando está em estado de graça, e que retarda o seu progresso por muitos anos.
E devemos nos lembrar de que todas essas situações dos pecadores em vários graus têm algo de parecido com as circunstâncias das pessoas curadas por Nosso Senhor. Aquelas curas nar radas pelo Evangelho foram fatos autênticos, que possuíam valor simbólico. Elas indicavam doenças da alma e mostravam o poder de Jesus para curá-las. E que o Redentor pode, por uma só palavra, operar de um momento para outro a cura completa de uma alma ou, pelo menos, dizer no seu interior uma palavra que seja o ponto de partida para sua cura total.
Havia os paralíticos e há os que estão paralisados nas vias da vida espiritual e não se movem; os mudos e os que não abrem a boca para falar a Deus de suas próprias necessidades, nem ao seu diretor ou a quem pode ajudar suas almas; os surdos e aqueles que não ouvem a palavra de Deus nem os bons conselhos dados pelos verdadeiros amigos. Assim também nós estamos num desses casos.
A mais alta forma de amor
Devemos, então, dizer ao Coração infinitamente misericordioso de Jesus na Sagrada Eucaristia aquelas palavras que o padre declara quando aponta a Hóstia para os fiéis: “Sed tantum dic verbum et sanabitur anima mea.”1
Nós não temos ideia do que é a fecundidade de uma palavra de Nosso Senhor no interior das almas. Às vezes nos esforçamos durante muitos anos para abandonar um defeito ou adquirir uma virtude, e fracassamos sempre. Mas, se nos lembrássemos de que Nossa Senhora pode nos obter de Nosso Senhor Jesus Cristo, de um momento para outro, uma só palavra, a qual pode nos curar inteiros ou ao menos ser o ponto de partida de nossa cura, então compreenderíamos que a vida espiritual tem possibilidades de progresso e de desencalhe que, em nossa tibieza da rotina, nem sequer imaginamos toda sua extensão e importância.
Precisamos nos aproximar de Nosso Senhor sempre por meio de Nossa Senhora, a Medianeira de todas as graças, e pensar: Ele nos patenteia seu Coração – ou seja, o símbolo de sua misericórdia dentro da obra-prima de amor que é a Sagrada Eucaristia – e toma a iniciativa de instituir uma festa para que todos os fiéis venham a Ele. Nós, com humildade, obediência, contrição, vamos nos apresentar a Nosso Senhor rogando o perdão pelos nossos pecados e a virtude, pela qual nos unimos a Ele. É o pedido mais grato que Lhe possamos fazer, o qual contém a mais alta forma de amor: querermos parecer-nos com Ele.
E rogamos nesse dia que Ele diga uma só palavra e nossa alma será salva, curada. Essa palavra pode tanto vir agora quanto daqui a algum tempo. Pedir continuamente que ela venha é uma das melhores coisas da vida espiritual. Quanto mais ela tardar tanto mais virá fecunda e, até certo ponto, irresistível. É na espera dessa palavra que devemos viver nossa vida espiritual.
Então, por intermédio de Nossa Senhora devemos dizer: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em meu coração, mas Vos recebo com confiança. Dizei uma só palavra e minha alma será salva!” É um dia, portanto, de alegria, de confiança e de muita esperança.
Talvez alguém receba a graça de repetir muitas vezes durante o dia e em todos os dias de sua existência esta expressão: “Sed tantum dic verbum et sanabitur animam mea.” Quando chegar a hora da morte, receberemos a última palavra que dará à nossa alma o último passo necessário para atingir toda a sua santificação. E morreremos em paz, com a morte do justo, depois de termos vivido na luta da vida dos justos.
(Extraído de conferência de 10/6/1964)
1) Do latim: Mas dizei uma só palavra e minha alma será salva.