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Piedade e vigilância

Os primeiros teólogos que escreveram a respeito do Coração de Jesus e depois sobre o Coração Imaculado de Maria, de tal maneira identificavam essas devoções, que falavam do Coração de Jesus e de Maria usando a palavra “coração” no singular. Isto pela íntima união entre Nosso Senhor e Nossa Senhora.

Portanto, não é fora de propósito que na festa do Sagrado Coração de Jesus comentemos as palavras do Imaculado Coração de Maria a Soror Josefa Menendez1:

Minha filha, Eu quero dar-te uma lição de grande importância: o demônio é como um cão furioso, mas ele está acorrentado.

Isso quer dizer que ele não tem senão uma certa liberdade.

Ele não pode, portanto, apropriar-se e devorar sua presa, a menos que ela se aproxime dele. É para esse efeito que sua tática habitual consiste em transformar-se em cordeiro. A alma que não se dá conta desse assunto, aproxima-se pouco a pouco e não percebe a malícia da tentação, a não ser quando já está ao alcance da dentada. Quando o demônio parece estar longe de ti, não cesses de vigiar sobre ti mesma, minha filha. Seus passos são silenciosos e escondidos a fim de passar despercebido.

Essa linda apresentação de uma lógica impecável – Nossa Senhora é a Sede da Sabedoria – termina com um conselho individual para Josefa Menendez, o qual todos nós devemos utilizar, especialmente em dois pontos: na virtude da fé e na virtude da pureza.

Certa vez, li a frase de um santo, não me lembro qual, que dizia o seguinte: “Muitos varões santíssimos caíram nessa matéria por causa da excessiva segurança.” Quer dizer, devido à excessiva despreocupação com as tentações do demônio.

É preciso vigiar continuamente para que não caiamos em tentação. É um comentário das palavras de Nosso Senhor: “Vigiai e orai para não cairdes em tentação!” (cf. Mt 26, 41).

Mas há aí um princípio – do qual esse excelente conselho prático é deduzido – que vai muito mais longe: compreender que, com frequência, nosso adversário está oculto. A “heresia branca”2 julga que o adversário é só aquele que se apresenta como tal, e que achar o oposto é juízo temerário.

Ao contrário, sempre o demônio se oculta. Assim, compreendemos quanto é preciso ser desconfiado. A sagrada e sacrossanta desconfiança é a virtude da vigilância. Nosso Senhor diz: “Orai e vigiai”. O que é a vigilância senão desconfiança? Um homem que não desconfia de nada não vigia, pois julga não ter inimigos.

A vida espiritual, diz a “heresia branca”, faz-se só com piedade. Nosso Senhor desmente: “Rezai – ­piedade – e vigiai para não entrardes em tentação.” Quer dizer, sede piedosos e desconfiados.

Peçamos ao Sagrado Coração Eucarístico de Jesus, por meio do Imaculado Coração de Maria, as virtudes da piedade e da vigilância, dois pilares da alma do verdadeiro contrarrevolucionário.3

1) Josefa Menendez (*1890 – †1923), religiosa espanhola favorecida por muitas visões místicas.

2) Expressão metafórica criada por Dr. Plinio para designar a mentalidade sentimental que se manifesta na piedade, na cultura, na arte, etc. As pessoas por ela afetadas se tornam moles, medíocres, pouco propensas à fortaleza, assim como a tudo que signifique esplendor.

3) Cf. Conferência de 11/6/1964.

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