Nossa Senhora quer que nos deixemos fascinar pela Contra-Revolução considerada como um todo e que detestemos tudo quanto se oponha a ela. A própria Santíssima Virgem nos acompanhará pela via de todas as intransigências e de todas as seriedades, pois para isso Ela nos convida.
Quando, por uma ação da graça, alguém contempla em Nosso Senhor, em Nossa Senhora, aquilo que deve contemplar, a pessoa se deslumbra. Na medida em que isso se dá, entra um pedido da graça para reconhecer com toda a seriedade, ver de frente o que se opõe ao objeto do deslumbramento e não pactuar com o oposto.
Reciprocidade entre deslumbramento e fidelidade
Ter fome e sede de discernir essas oposições, de maneira a perceber, por um pequeno sintoma, o mal existente atrás do que se opõe ao deslumbramento, isso é ter fome e sede de justiça.
Há, portanto, uma ação recíproca: deslumbramento-fidelidade, fidelidade-deslumbramento. Quem forma esse estado de alma vigilante e combativo correspondeu ao fascínio, mas também se conserva fascinado. Quem não o tem não se deixa fascinar, pois é próprio do homem que renunciou a ser fascinado pelo bem encontrar sempre a possibilidade de se acomodar porque, como ele não tem em vista o valor daquilo, tende a sacrificá-lo por outras coisas. As composições, os arranjos e os jeitos entram por causa disso.
Poder-se-ia perguntar: o que acontece primeiro, o deslumbramento ou a fidelidade? É o deslumbramento. Algo deslumbra e a pessoa caminha naquela direção. Mas, logo no primeiro passo, a graça pede: “Queres ser intransigente? Queres romper com o que é contra mim?”
Para dar uma metáfora que ajuda a exprimir meu pensamento, considerem um indivíduo que faça explorações astronômicas, mas com o telescópio sujo. O que ele verá? Uma mancha de gordura. Porém, ele a tomará por um planeta, por uma galáxia. Só com o telescópio admiravelmente limpo ele poderá contemplar o céu. Assim, a alma da pessoa íntegra é parecida com um telescópio límpido.
Alguém dirá: “Isso supõe, já no primeiro passo, uma grande retidão de alma.” É verdade, mas a grande retidão veio por causa do deslumbramento originário. Sem este não há retidão. Tendo havido o deslumbramento, a alma se entrega. Isso é o fascínio.
Coragem de vincar a diferença para se fascinar com o bem
É necessária coragem para ser assim, pegar os próprios mitos revolucionários e arrancá-los da alma. Esta costuma ser uma fonte de tensão e dificuldades de alguns comigo, porque estou sempre pedindo a favor de Nossa Senhora essa posição de intransigência, de luneta limpa.
Eu noto que isso produz um sobressalto e, no fundo, um fechamento: “O que esse homem quer de mim? Que eu fique diferente de todo o mundo?!” A resposta é: de todo o mundo revolucionário.
O que marcava Noé em relação ao mundo destruído pelo dilúvio é como ele soube ser diferente. Se queremos ficar de fora do dilúvio, como não ser diferentes?! E isso nós devemos vincar, sulcar, marcar até com ferro em brasa em nós. Assim teremos nos entusiasmado e sido sensíveis ao fascínio do bem.
Complexidade da “política da graça” nas almas
Como se dá esse fascínio?
O bem fascina sob formas diferentes, porque há mil modalidades de bem nas almas. Há almas que contêm uma certa forma de bem muito característica nelas, mas em todo resto são apenas boas.
Existem, entretanto, almas mais ou menos como – se assim se pudesse imaginar – uma torre cortada em diagonal, de maneira que em parte caiu e em parte tem um toco que se prolonga até o alto. Tem a altura primitiva? Sim, mas de um lado é uma ruína trágica, de outro, não aconteceu nada.
Há almas assim. Não foram fiéis à graça a não ser num ponto ou noutro, e nesses elas corresponderam mesmo. Porém, nos outros relaxaram. O resultado é: em algo elas fascinam e em algo, pelo contrário, decepcionam.
Eu ousaria chamar isso de “a política da graça”. Ela é extremamen te complexa e não sabemos quantas coisas podem se passar numa alma e nem como se passam.
Li em algum historiador – não lembro quem – o caso de uma mulher que antes da Revolução Francesa não levava uma boa vida do ponto de vista moral. Essa senhora, no turbilhão revolucionário, discerniu a pessoa de Maria Antonieta, admirou-a, tomou-se de uma dedicação desinteressada, arriscou a vida e fez proezas de toda ordem pela Rainha.
Com isso, ela completou alguma coisa no píncaro da torre trincada que apontava para Deus. Não recordo se ela terminou na guilhotina ou não, mas é lindo ver como ela teve mais dedicação do que muitas duquesas cuja primeira providência, quando a Revolução Francesa arrebentou, foi passar correndo a fronteira e ficar do lado de lá das tropas alemãs, assegurando a própria sobrevivência.
O que se passou com aquela mulher? Houve um momento de deslumbramento, ela se deixou fascinar pelo bem.
O que Nossa Senhora quer de nós? Que nos deixemos fascinar pela Contra-Revolução considerada como um todo, e cujo contrapeso é detestarmos tudo quanto não esteja de acordo com ela. Se não fizermos isso, estaremos fraudando a nossa vocação. Se Maria Santíssima nos chamou é porque o caminho é viável e Ela nos acompanhará pela via de todas as intransigências, de todas as seriedades, pois para isso Ela nos convida.
(Extraído de conferência de 7/3/1982)