Tudo quanto o Redentor trouxe para a humanidade teve seu início com o nascimento de Nossa Senhora. Quando se está unido a Ela, tudo se arranja, tudo se obtém, nada é insolúvel, irremediável ou sem esperança.
Sendo Nossa Senhora a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo quanto se diz do Natal, pode-se dizer da sua Natividade, guardadas as devidas proporções. E todas as alegrias, as impressões e as graças de que a noite de Natal é ocasião para nós, também o é a festa do nascimento da Mãe de Deus.
Com Maria veio ao mundo a salvação
Ao falarmos sobre o nascimento do Menino Jesus, podemos dizer que com Ele veio ao mundo a salvação. Ora, de algum modo, esta afirmação é também verdadeira quando se trata da Natividade de Maria Santíssima. Porque, se é verdade que Nosso Senhor Jesus Cristo é o Salvador, também o é que Nossa Senhora, com sua oração onipotente, pediu e apressou a vinda do Messias prometida há séculos.
Sob este aspecto se pode dizer que, vindo ao mundo Aquela cuja oração foi tão poderosa que determinou a antecipação da vinda de Nosso Senhor, de algum modo com Ela também veio a salvação.
Por outro lado, o Natal representou uma honra incomparável para a humanidade, pois Aquele que ligava a natureza humana à divina, o Verbo Encarnado, entrou no mundo. Do mesmo modo, guardadas as proporções, também foi conferida uma honra enorme para a humanidade com o nascimento de Nossa Senhora.
Tomem em consideração que, presumivelmente, segundo os cálculos tradicionais, mediaram quatro ou cinco mil anos entre o pecado de Adão e o nascimento de Nosso Senhor, embora ainda se possa conjeturar ter havido um espaço de tempo maior do que este; se consideramos que estamos em 1965 e, portanto, há mil anos estávamos na alta Idade Média, temos uma noção do que foram os cinco mil anos de pecados, de afastamento crescente de Deus e de uma ordem de coisas onde os Céus estavam trancados para os homens, onde a verdadeira Igreja não existia, havia apenas um pequeno rudimento dela com voz circunscrita a um mero povo, pouco numeroso como eram os hebreus.
A degradação da humanidade ao longo de todo esse tempo tinha dois sentidos: de um lado, os povos que caíram na barbárie e dos quais temos vestígios nos povos selvagens ainda existentes. De outro, as nações que se civilizaram e que, no auge de sua civilização, tornaram-se quase piores que os bárbaros. Com efeito, a humanidade estava tão decadente nesse tempo que o povo eleito não valia mais nada, o romano e o mundo grego estavam exaustos e havia um pressentimento geral de que algo devia acontecer porque, do contrário, a humanidade estaria perdida.
Dentro desse quadro, a ação criadora de Deus constituiu a criatura mais perfeita nascida em todos os séculos, concebida sem pecado original e à qual foi dado, desde o primeiro instante de seu ser, um cúmulo de graças que representavam dons e virtudes muito maiores, sem comparação, que todos os pecados cometidos e erros acumulados durante esses milhares de anos.
Compreendemos, assim, como a irrupção dessa criatura no mundo se parece com a noite de Natal, observadas as proporções, e quanta honra representa para a humanidade completamente desonrada o fato de que, desta espécie amaldiçoada e prevaricadora, de repente brotasse um lírio do qual deveria nascer Nosso Senhor Jesus Cristo. A Raiz de Jessé, da qual viria este lírio. Além de honra, esperança e, com esta, a alegria.
Marco propulsor da manifestação da misericórdia divina
O nascimento de Maria Santíssima foi o pretexto divino para o nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por esta forma, todas as graças vindas com o Homem-Deus tiveram, por assim dizer, uma espécie de começo de realização neste mundo, e o seu pórtico construído com o nascimento de Nossa Senhora. Ou seja, tudo quanto o Redentor trouxe para a humanidade começou a se derramar com a chegada d’Aquela que nos deveria trazer todas as esperanças, o perdão, a reconciliação, a Redenção.
Isso nos faz compreender a manifestação da misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo que se abre, afinal de contas, para o mundo inteiro, e como tudo isso tem no nascimento de Nossa Senhora uma espécie de marco propulsor, marco inicial de uma vida insondavelmente perfeita, pura e fiel, em suma, a maior glória que a humanidade teria em todos os tempos, abaixo da glória da Encarnação do Verbo.
Entende-se, então, por que os Doutores da Igreja comparam Nossa Senhora com a Lua em relação ao Sol. Ela representa a claridade suave da Lua, enquanto o Salvador representa a claridade avassaladora e onipotente do Sol.
Assim como há uma beleza enorme no nascer do Sol, em certas ocasiões o nascer da Lua tem também sua poesia, sua beleza, sua grandeza e seu encanto. Da mesma forma, o nascimento de Maria Santíssima é um nascer da Lua para os homens, diferente do nascer do Sol, mas é uma imagem belíssima, dulcíssima e de particular suavidade. É assim que nós devemos considerar o nascimento desta criatura incomparável, a Mãe de Deus e Nossa Senhora.
Pedir o contínuo crescimento na devoção a Ela
O que devemos implorar, afinal, na festa da Natividade de Maria Santíssima? Cada um deve perguntar-se qual seria a grande graça para pedir a Ela. Se alguém disser que não tem em vista uma graça especial ou inclusive se a tiver, eu recomendo associar a seguinte intenção: suplicar-Lhe que nos dê um profundo crescimento na devoção a Ela, efetivo, vibrante, rápido, dinâmico e sólido. E que nos seja dado tudo aquilo que o Espírito Santo e Ela desejam pôr em nossas almas para melhor compreender e mais amar Nossa Senhora.
Eu tenho certeza de que recebendo isso, aqueles que estão bem na vida espiritual progredirão ainda mais. Os que estiverem afetados por alguma tibieza dela se livrarão muito mais rápido. Ou caso exista algum que esteja na inimizade com Deus e não esteja nem sequer no caminho da tibieza, mas abaixo disto, com um aumento de devoção a Nossa Senhora pode, por um favor d’Ela, vencer todas as suas dificuldades e caminhar nas mais altas esferas da vida espiritual. Quando se está unido a Ela tudo se arranja, tudo se obtém; absolutamente nada é insolúvel, irremediável ou sem esperança.
Eu confio mais na salvação do pior pecador se ele tiver devoção a Nossa Senhora do que na salvação de um homem que não esteja em estado de pecado mortal, mas não tenha devoção a Ela ou lhe tenha antipatia. O primeiro tem todo o caminho da regeneração aberto diante de si.
Peçamos a graça de compreender isso de um modo vivo, eficaz e verdadeiro, na plenitude desejada por Ela.
(Extraído de conferência de 7/9/1965)