As plumas que encimam um chapéu são como incenso a se evolar da cabeça, representando a sensação causada por um homem quando ele deixa um ambiente e continua a marcá-lo. Em seu apurado senso analítico, Dr. Plinio comenta a “teoria das plumas”.
No famoso quadro do Grande Condé1 na Batalha de Rocroi, aparecem vários cavaleiros, alguns com chapéus ornados de plumas brancas, outros de cores variadas, e até um enigmático guerreiro com elmo medieval adornado de plumas figura na cena.
Consideremos o que significam as plumas em um chapéu e qual o simbolismo da cor branca de algumas delas.
Imponderáveis e simbolismos envoltos em plumas…
As plumas postas em cima de um chapéu significam, em primeiro lugar, uma espécie de incenso que se evola da cabeça, formando um elemento que o homem deixa atrás de si como o melhor, o mais delicado, o mais nobre perfume de seu próprio pensamento. É algo à maneira da juba do leão, no entanto, ainda mais delicado, porque não forma moldura em torno do rosto.
Quando Nosso Senhor Jesus Cristo, o Homem por excelência, Se retirava de um local, deixava ali e sobre os circunstantes uma virtude, como a dizer: “Baixo-Me sobre vós e deixo-vos algo vindo do alto.”
Com efeito, a pluma representa aquilo que se sente de um homem quando ele sai de um ambiente e continua a marcá-lo, deixando ali, à maneira de plumas voando pelo ar, o melhor do seu próprio imponderável.
Refiro-me não às penas dos chapéus da Belle Époque, postas na frente, mas àquela plumagem voltada para trás, a qual sobe e ligeiramente pende para baixo. É completamente diferente do penduricalho com plumas usado pelos marajás. Quase poderíamos afirmar que cada povo tem as plumas que merece, e alguns não as têm, porque não as merecem.
Essa teoria das plumas é particularmente sensível na menos graciosa delas: a do guerreiro medieval que se vê no ângulo esquerdo do quadro. O próprio pintor talvez não soubesse que era essa a ideia, mas é a que está presente.
Delicado, combativo e elegante, um chapéu por excelência!
Por que a pluma branca é mais adequada que as outras? Porque ela possui a síntese das cores, a qual, por sua vez, exprime uma envergadura de alma maior do que a limitação de imponderáveis de uma cor determinada.
Por que a plumagem do chapéu do Condé é mais nobre que a do cavaleiro detrás? Porque é menos densa e assemelha-se mais com os imponderáveis que representa.
O chapéu dele é muito bem feito, é o melhor porta-plumas que se possa imaginar. Ele foi feito para as plumas, não pesa na cabeça, protege e serve de complemento natural à fisionomia; é o chapéu feito para aquele rosto. O bicórneo do Napoleão não é nada em comparação com isto; é um lixo, sujo, horrível.
Há um contraste interessante: o semblante do Condé é ligeiramente oblongo e termina num queixinho pontudo; o nariz saliente também é delgado. Para um rosto assim, se pusessem nele o chapéu do espanhol que está à sua direita na cena, dava uma panela. Seja lá de que nação for, se se puserem as plumas e o chapéu de qualquer deles na cabeça do Condé, até os do nobre que vai atrás dele, o desmerecerão.
Vê-se que o artista calculou para o Condé um chapéu leve, que não dificultasse a cavalgada, que não teria o perigo de cair ao chão, não ficaria enterrado até as orelhas e do qual ficasse bonito sair a cabeleira, a qual, assim vista, é quase a pluma natural do homem.
É o chapéu por excelência, no meu modo de entender. O que ele tem de fantástico é que, sendo leve, delicado e elegante, é um chapéu de guerreiro feito para a carga de cavalaria, um adorno para lanceiro.
Outro aspecto extraordinário é que ele não parece sujeito à lei da gravidade. Tem-se a impressão de que se o Condé sair de baixo, ele continuaria no ar; é a digna pista de voo das plumas! É como se o Condé estivesse suspenso na sua própria aerologia pelo chapéu, o qual, por sua vez, navega à maneira de um cisne.
Isso dá uma ideia enorme da espiritualidade da alma!
Pureza, heroísmo, nobreza: três ângulos de uma única figura
Eu quero chegar agora ao ponto: qual é o inefável que está colocado na cena?
O Condé está apresentado em um tal estado de coragem, de combatividade, que nos dá a ideia de uma pureza exímia. Isso às vezes acontecia em guerreiros quando se encontravam nos episódios ápices de suas vidas: por uma disposição da graça, eles eram elevados por um tempo a um estado superior, mesmo quando esse estado não correspondia à conduta pessoal deles; eram bruscamente elevados a outro patamar.
Há, na cena, um indiscutível componente de pureza e nobreza, não uma nobreza comum, mas a principesca: é uma junção da coragem do puro com a do príncipe, tudo concebido no diapasão católico.
Estes três absolutos conjugados formam uma síntese: o principado do homem puro, a pureza do homem que é príncipe, a coragem e o heroísmo do príncipe puro, como três ângulos de um triângulo, formando uma figura.v
(Extraído de conferência de 19/7/1977)
1) Luís II de Bourbon, 4º Príncipe de Condé (*1621 – †1686), conhecido como “O Grande Condé”, que venceu a Batalha de Rocroi.