sábado, octubre 5, 2024

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Natal, um imenso perdão para os homens

Por ocasião do Natal, Nosso Senhor faz tábula rasa do passado e aparece aos homens como um Menino frágil, não propenso ao castigo, mas tendente ao sorriso, ao perdão, à misericórdia, convidando-nos a nos enternecer a propósito d’Ele.

Augusto Ovelha

Devemos dizer uma palavra a respeito do período do Advento e para isso foi separado um comentário contido no Missal Quotidiano e Vesperal.

Motivos pelos quais o Natal deve ser precedido pela penitência

A alegria de possuir em breve a Nosso Senhor Jesus Cristo é uma das notas dominantes do Advento. No começo contida, logo dá-se-lhe livre curso, chegando à exaltação no Natal. A ideia da purificação das almas, que está intimamente ligada à da volta de Cristo, encontra-se nessa época em cada página do Breviário e do Missal. Os hinos, a escolha dos Salmos, a pregação dos Profetas, a do Precursor, as orações dos quatro domingos, o versículo tantas vezes repetido: “Rectas facite semitas ejus”, tornai retos os seus caminhos, falam da necessidade de preparar nossas almas para a vinda do Salvador.

Na Idade Média, prescreveu-se o jejum durante o Advento, chamado a Quaresma do Natal. Velavam-se as imagens como no tempo da Paixão. Ainda hoje são usados paramentos roxos, símbolos da Penitência1.

Houve uma tal decadência do mundo a partir da Idade Média, que a Igreja, para se tornar habitável pelos homens entre os quais as verdades tinham diminuído, foi obrigada a condescender com muitas fraquezas humanas que não são diretamente pecados, com os quais ela não pode pactuar de nenhum modo. Mas, realmente, se há uma plenitude de razão para que a Semana Santa seja precedida de quarenta dias de penitência, há também altíssimas razões, uma conveniência extraordinária, para que o Natal seja precedido de penitência.

Flávio Lourenço
Apostolado de São João Batista – Museu Nacional de Arte da Catalunha, Barcelona

A fim de induzir o povo de Israel à penitência, o Senhor mandou o maior dos profetas, São João Batista, para endireitar os caminhos de Nosso Senhor – não eram caminhos materiais, mas das almas –, para preparar, retificar as almas das pessoas que constituíam o povo de Israel, a fim de ouvirem a palavra do Deus Encarnado. E ele pregou o jejum e a penitência como condição para o Messias ser bem recebido. Portanto, é de grande vantagem, conveniência e propriedade preceder ao Natal uma longa penitência. Hoje ela é afrouxada pela fraqueza dos homens, mas, na Idade Média, o Advento era uma verdadeira Quaresma.

A Igreja, porém, sempre afirma o princípio, mesmo quando condescende com alguma coisa por necessidade pastoral. Ela conservou, então, os paramentos roxos e toda uma liturgia com textos penitenciais, preparando-nos exatamente para essa penitência.

Desejo ardente, permanente e contínuo de Nosso Senhor em salvar

Qual é a penitência que devemos fazer e considerar por ocasião do Natal? Qual é a graça que devemos pedir nessa ocasião?

Nosso Senhor Jesus Cristo, na noite de Natal, nasceu com o intuito de tornar-Se conhecido pelos homens e de levá-los a Deus; de disseminar a virtude na Terra, fundando a Igreja Católica, o seu instrumento para a propagação da virtude e para o combate contra o mal.

Em consequência dessa verdade, devemos nos preparar para a festa de Natal certos do ardente, permanente e contínuo desejo de Nosso Senhor de reconduzir todos os homens à vida eterna, de salvar a humanidade, de renovar as condições espirituais do mundo, a fim de facilitar o caminho do Céu. É por isso que celebramos a festa do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Ocasião de uma grande anistia

As almas que acompanham o Natal com piedade têm meios para perceber isso. Ao mesmo tempo, há uma espécie de sensação, em todo o mundo, de renovação, de esperança, de grande perdão e isso, ao meu ver, sem o sobrenatural isso não existiria.

É impossível não sentir, na noite de Natal, como o Céu se torna mais próximo da Terra. Há como que uma anistia, como que um imenso perdão para os homens. Nosso Senhor faz como que tábula rasa do passado e aparece aos homens pecadores como menino pequeno, frágil. Portanto, não propenso ao castigo, pelo contrário, tendente ao sorriso, ao perdão, à misericórdia, convidando-nos a nos enternecer a propósito d’Ele, a termos compaixão d’Ele e prometendo assim a sua compaixão para conosco.

O Natal vem com a sensação de que todo um passado errado tem oportunidade de se pôr em dia, uma vida torta tem ocasião de se endireitar e há graças de suavidade, de doçura, de bondade para todas as almas que se aproximam do Presépio nessa ocasião.

Portanto, para nos preparar, devemos colocar isso diante dos nossos olhos: por pior que seja a situação do mundo, por mais triste que seja a situação da Igreja, nós, ao menos na nossa vida espiritual individual, temos essa possibilidade de receber, nessa ocasião, um grande perdão, uma grande anistia e a renovação de todas as condições de nossa vida espiritual, a abertura de uma era nova, desde que participemos do Natal santamente e com boas disposições. E, então, desde hoje, disponhamos nossa alma para isso.

Como se preparar para o Natal

O modo de nos prepararmos consiste, antes de tudo, em recorrer a Nossa Senhora. Porque Ela, por vontade de Deus, é Medianeira de todas as graças. As nossas orações chegam a Nosso Senhor Jesus Cristo por meio d’Ela, como também os atendimentos “baixam” de Nosso Senhor Jesus Cristo para nós por meio d’Ela.

Flávio Lourenço
Visitação – Museu Diocesano de Santa Afra, Augsburgo, Alemanha

Portanto, a primeira coisa a fazer é voltar os olhos a Nossa Senhora pedindo que prepare nossa alma pela confiança, fazendo-nos prelibar essa suavidade extraordinária do Natal; fazendo-nos compreender que um passado ruim, de infidelidade, de incorrespondências, pode ser recuperado por um grande perdão da noite de Natal e, para isso, virão graças extraordinárias, não merecidas, que vão retificar a nossa vida. Nossa Senhora é quem nos prepara para receber e corresponder a essas graças. É com esse espírito que nos voltamos a Ela.

O Evangelho narra que São João Batista estremeceu de gáudio quando ouviu a voz de Nossa Senhora. Foi Ela quem preparou para Cristo aquele que era chamado a preparar todos os homens para Cristo. A partir disso se compreende como uma palavra de Nossa Senhora é capaz de santificar.

Peçamos a Ela que fale no interior de nossas almas e nos prepare para o Santo Natal segundo essas disposições, colocando-nos numa atmosfera de penitência, de recolhimento, de contrição de nossos pecados, para a compreensão da misericórdia e do perdão que precisamos, e que vamos receber pelo favor d’Ela.

A nossa primeira meditação sobre a noite de Natal seria essa.

(Extraído de conferência 16/12/1969)

1) Não dispomos dos dados desta ficha.

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