jueves, noviembre 21, 2024

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Superexcelência da missão do Discípulo amado

São João Evangelista é o Apóstolo da dedicação, da fidelidade, da pureza e do amor. Por ter sido fiel ao pé da Cruz, teve a honra de receber Nossa Senhora por Mãe. Essa graça lhe abriu caminho para muitas outras, como as grandes visões na Ilha de Patmos.

Flávio Lourenço
A mãe de São Tiago e de São João intercede junto a Jesus por seus filhos – Museu de Belas Artes, Grenoble, França

Neste mês a Igreja celebra a festa de São João Evangelista. D. Guéranger1, a seu respeito, diz o seguinte:

A caminho do martírio

Em sua ambição materna, Salomé havia apresentado seus dois filhos a Jesus pedindo para eles os primeiros lugares em seu Reino.

O Salvador falou, então, do cálice que deviam beber e predisse que um dia esses dois discípulos o beberiam, por sua vez. O mais velho, Tiago, o Maior, um dos Apóstolos, deu primeiro ao seu Mestre o sinal de seu amor.

João, o mais jovem, foi chamado também para mostrar, com sua vida, seu testemunho sobre a divindade de Jesus. Mas era preciso, para o martírio de um tal Apóstolo, um teatro digno dele. A Ásia Menor, evangelizada por seus cuidados, não era um lugar bastante ilustre para a glória de um tal combatente. Roma, somente Roma, onde Pedro estabelecera sua sede e derramara o seu sangue, onde Paulo curvara a sua cabeça sobre o gládio, merecia a honra de ver em seus muros o augusto ancião, o discípulo que Jesus amou, o único sobrevivente do Colégio Apostólico, que se dirigia ao martírio.

Flávio Lourenço
Martírio de São João Evangelista – São Lourenço de Morunys, Espanha

Submerso no azeite fervente, rejuvenesce milagrosamente

Quando foi levado para Roma, ele já era muito velho, por isso se diz que era um venerando ancião que ia para Roma para sofrer o martírio.

João compareceu em presença da justiça romana no ano de 95. Era acusado de ter propagado, numa vasta província do Império, o culto de um judeu crucificado sob Pôncio Pilatos. Ele deve perecer e a sentença conclui que um suplício vergonhoso e cruel desembaraçará a Ásia de um velho e supersticioso rebelde.

O pregador de Cristo deve aí ser mergulhado. Chegou o momento em que o filho de Salomé vai participar do cálice de seu Mestre. O coração de João alegra-se. Após lhe terem infligido uma cruel flagelação, os carrascos colocam o ancião no lugar do suplício.

Mas, ó prodígio! O azeite fervente perdeu o seu calor, nenhum sofrimento afeta os membros do Apóstolo. Quando ele é retirado dessa tortura, tinha recobrado todo o vigor que os anos lhe haviam arrebatado.

Imaginem que cena linda: um velho, com o semblante venerando e virginalmente puro como era o de São João, um ancião de barba e cabelos brancos, com um espírito muito contemplativo, com um ar ao mesmo tempo varonil e angelical, todo recurvado e alquebrado pelos anos, entrar num caldeirão de azeite. Em volta, as pessoas permanecem na expectativa: “Agora o velho se desintegrará ali dentro.”

De repente, o azeite para de ferver e cessa aquele barulho da trepidação das bolhas que se formam. O Apóstolo, embora com os cabelos brancos e com alguns traços da velhice, sai rejuvenescido de dentro do caldeirão. Ele recobrou todo vigor da juventude no esplendor da idade madura e da ancianidade. Desce da caldeira e vai andando com passo altaneiro e, como veremos daqui a pouco, depois foi para Patmos, onde teve as visões do Apocalipse.

Imaginem a atitude estarrecida de todo mundo diante desse fato. Nunca ninguém conseguiu voltar anos atrás no calendário; porém, isto consegue aquele ancião, conservando a venerabilidade na juventude.

Naturalmente os soldados o prendem. Ele vai com eles, em passo marcial, até o cárcere, deixando todo mundo estupefato atrás de si. Vitória espetacular, lapidar, completa!

Uma promessa cheia de mistérios

Ora, não podemos esquecer que, após a Ressureição, São Pedro perguntou a Jesus qual seria a sorte do discípulo amado, ao que Nosso Senhor declarou de forma misteriosa: “Que te importa se eu quero que ele fique até que eu venha?” E logo o Evangelho continua: “Correu por isso o boato entre os irmãos de que aquele discípulo não morreria” (Jo 21, 22 – 23).

A meu ver, o tema teria a sua explicação mais meticulosa e mais completa na seguinte perspectiva. Suponhamos que, por uma razão qualquer, já havia entre os discípulos uma suspeita de que São João Evangelista teria uma atuação muito longa para o futuro, donde a pergunta: Ele então não morrerá? E associaram as duas coisas.

Mas, Nosso Senhor distinguiu as duas questões. Ele disse a São Pedro o seguinte: “Eu quero que ele fique até que eu venha. Não quero dizer se ele vai morrer ou não. E o que você tem com essa pergunta?” Por este lado, parece que os Apóstolos tinham mais interesse em saber se São João morreria ou não, do que em saber se ele ficava longo tempo na terra, ou não. Para os Apóstolos, o problema devia ser muito maior, porque eles deviam ter medo de morrer e pensavam: “Esse vai ser um felizardo que não morre?” O que, na perspectiva deles, se compreende.

Portanto, São João, no seu Evangelho tomou a hipótese de ele ficar e se colocou mais ou menos à margem da discussão.

Único Apóstolo coroado com o martírio de desejo

Continua a ficha.

A crueldade do Pretório é vencida e João, mártir do desejo, conservou-se para a Igreja alguns anos ainda.

Samuel Hollanda
Moisés recebendo as tábuas da Lei – Catedral de Colônia

Aqui há uma coisa muito bonita. No caso de São João, há uma espécie de triunfo da confiança. Porque a graça do martírio e da resistência a ele é uma graça especial dada àqueles que são chamados. Poderia ser que não fosse dada a ele a graça de enfrentar aquela situação e fosse, portanto, em direção ao caldeirão de azeite quente, com um medo medonho, mas confiante em que não seria queimado.

São João Evangelista sabia que ainda tinha uma missão para cumprir. Era natural, de um lado, que quisesse morrer, mas, de outro, que não quisesse morrer. Ele tinha desejado ardentemente o martírio, tinha tido toda coragem para enfrentá-lo. Mas, sem ser martirizado, opera-se o milagre e sai de lá de dentro com a coroa do martírio de desejo para o cumprimento de sua missão.

Missão que supera as do Antigo Testamento

Um decreto imperial o exilou para a Ilha de Patmos, onde o Céu lhe deve manifestar o destino futuro do Cristianismo até o fim dos tempos.

Então, São João chega a Patmos, uma ilhota no meio do Mediterrâneo. Ali, sua vida atinge o verdadeiro apogeu; o Céu se abre e começam todas as visões do Apocalipse. É o último fim da união dessa alma extraordinária com Deus.

Entretanto, para o comum das pessoas, o Apocalipse, por exemplo, não figura na fisionomia moral nem na psico-iconografia de São João. Sabe-se que o Apocalipse existe, mas é um livro misterioso, tão complicado e tão tonitruante, tão fora das medidas de doçura comuns, que não vale a pena deter-se nele, pois é um livro feito mais para ser interpretado no momento em que os acontecimentos se verificarem do que com antecedência. E por isso é misterioso.

Talvez porque a hora da Providência não tenha chegado, a iconografia não costuma representar São João recebendo as visões na Ilha de Patmos. É mais fácil apresentar, por exemplo, Henoc ou Elias recebendo uma visão na Ilha de Patmos, de pé, numa atitude grandiosa. Seria uma coisa fabulosa!

Ora, não é essa a posição em que fica São João Evangelista. A meu ver, por uma certa inversão de valores que há em nossa cabeça, decorrente do modo como nos expõem o Novo Testamento, São João se apresenta menos extraordinário do que certas pessoas do Antigo Testamento.

Flávio Lourenço
Última Ceia – Museu de Unterlinden, Colmar, França

Moisés, por exemplo, recebendo as tábuas da Lei, parece-nos mais majestoso do que São João Evangelista reclinando a cabeça sobre o peito de Nosso Senhor, ou comungando, ou dizendo de si: “o discípulo a quem Jesus amava”. Entretanto, são coisas fantásticas! Como São João, ao pé da Cruz, recebendo Nossa Senhora como Mãe, é menos do que Moisés recebendo a Lei no alto do Sinai? É um disparate! Afinal, as coisas são grandes na medida em que se relacionam com Nosso Senhor.

São João era o discípulo amado, tinha repousado a cabeça sobre o peito de Nosso Senhor, na Quinta-feira Santa, e, portanto, teve o privilégio incomparável, depois de Nossa Senhora, de ser o primeiro devoto do Sagrado Coração de Jesus, ouvindo-Lhe as pulsações que, naquela hora, pulsavam de amor por todos os homens.

Depois, hélas, ele fez o horror que conhecemos: dormiu no Horto das Oliveiras, e também fugiu. Mas ele era o Apóstolo virgem e as almas virgens, mesmo nas suas situações mais tristes, encontram recursos e forças para cumprir o dever que, infelizmente, as almas não virgens não têm. Por outro lado, Deus protege e atrai a si as almas virgens. Com certeza, em atenção à virgindade de São João, Nossa Senhora obteve que ele fosse chamado.

No auge do amor, São João recebeu o auge da recompensa

Flávio Lourenço
Oração no Horto – Museu Diocesano, Freising, Alemanha

Pois bem, no alto do Calvário, o discípulo do amor estava representando um auge. Por isso teve a honra não só de estar no auge do amor ali naquele momento, mas também de representar todos os Apóstolos e evitar que a vergonha do Colégio Apostólico fosse completa.

E nesse auge do amor, São João recebeu o auge da recompensa. Porque não pode haver dom maior do que receber Nossa Senhora como presente. Quando Nosso Senhor disse: “Mulher, eis aí teu filho” e depois disse a ele: “Eis aí tua Mãe”, ele recebeu um presente inestimável.

Alguém pode imaginar qual é o valor disso? Infinitamente abaixo de Deus, mas insondável e incalculavelmente acima de todas as outras criaturas, está Maria Santíssima. Não há palavras para exprimir o que significa receber Nossa Senhora de presente. Ela é o canal de todas as graças, é a obra-prima de Deus.

Alguns comentadores dizem que São Pedro, se estivesse presente, teria recebido Nossa Senhora, pois Ela era um tal tesouro, que devia estar com o chefe da Igreja. Mas, isso não se deu.

Flávio Lourenço
Calvário – Convento do Santo Espírito, Toro, Espanha

Em todo caso, um fato é positivo: se Nossa Senhora foi dada por Mãe a João porque era o discípulo casto, era o discípulo a quem Nosso Senhor amava, mas também porque ele foi o único Apóstolo fiel que permaneceu no Calvário quando nenhum outro Apóstolo estava presente, é natural que, nesta hora em que tantos Apóstolos estão ausentes, Nossa Senhora seja dada de novo por Mãe àqueles que estão junto à Cruz.

E estar ao pé da Cruz significa ser fiel à verdadeira ortodoxia da Igreja Católica, significa ser escravo de Nossa Senhora nos dias de hoje, em que ninguém mais quer saber de escravidão, nem de dedicação, de fidelidade, de pureza, de amor, nem de nada disso; pelo contrário, preferem saber das coisas da Revolução.

Temos esse traço comum com São João Evangelista: Nossa Senhora nos foi dada de um modo muito particular, porque Ela obteve para nós a graça de sermos dos pouquíssimos que estão ao pé da Cruz.

Misteriosas relações de alma entre Mãe e filho

São João recebeu Nossa Senhora como Mãe e, ato contínuo, começou a agir com Ela como filho. Porque, diz o Evangelho, a partir daquela hora ele recebeu Maria em sua casa; e não apenas em sua casa, mas na sua família. Nossa Senhora começou a agir como um membro da família dele. Aí começaram as relações misteriosas de alma que tal adoção criou, as quais eu creio estarem imensamente ligadas com a Sagrada Escravidão de São Luís Grignion de Montfort.

O Apóstolo virgem teve uma relação de alma excelente, insondável, misteriosa, pela qual se vinculou a Nossa Senhora de um modo que nós nem podemos calcular. Por isso, é mais do que lícito imaginar o seguinte: em todos os transes de sua vida, ele conservou essa união intimíssima com Ela.

De maneira que, no momento em que São João foi mergulhado na caldeira de azeite, por exemplo, ele manteve os olhos e o pensamento postos em Nossa Senhora. Quem sabe, também, se no momento em que o azeite deixou de trepidar, Nossa Senhora apareceu no Céu sorrindo para ele. Em todo caso, como o rejuvenescimento foi uma graça, é certo que lhe veio pelas mãos de Maria. E isso abria caminho para uma graça muito maior: completar a sua vida de contemplativo recebendo as grandes visões na Ilha de Patmos.

Nós podemos imaginá-lo indo pelo Mediterrâneo, numa pequena nau, acompanhado pelos soldados que o cercavam; descer nessa ilha, começar a rezar a Nossa Senhora e, pela intercessão d’Ela, receber aquelas revelações maravilhosas.

Como entre essas visões existem revelações sobre os últimos tempos e sobre a história da Igreja, é bem provável que os dias contemporâneos tenham sido postos aos olhos de São João. Não é de todo impossível pensar que ele tenha tido também a visão daqueles que Nossa Senhora haveria de suscitar para lutar pela glória d’Ela nas tristezas contemporâneas.

São João morreu de amor

Por último temos uma outra ficha2 a respeito da morte de São João Evangelista:

Flávio Lourenço
São João redige o Apocalipse – Igreja de São Paulo, Valladolid, Espanha

João rezava com os braços estendidos, de pé, junto à sepultura. Lançou seu manto dentro dela, desceu, deitou-se e rezou novamente.

Uma grande luz desceu sobre ele. Ainda falou com seus discípulos. Esses estavam junto à sepultura, choravam e rezavam. Vi então algo maravilhoso: enquanto João estava deitado e morria placidamente, vi como um resplendor sobre ele, uma figura luminosa e com ele mesmo saindo de seu corpo como de um envoltório, desaparecendo na mesma luz e resplendor.

Vi também que o corpo de João não está na Terra. Veio entre o leste e o oeste um espaço luminoso semelhante a um sol, e o vejo ali como se intercedesse a favor dos demais, como se recebesse algo de cima e os desse aos de baixo. Vejo este lugar como pertencente à Terra, porém é todo elevado sobre ela. De nenhum modo se pode chegar até lá.

Santo Antonino narra esses mesmos fatos da forma como narra Catarina Emmerich.

A tradição confirma o que foi visto pela vidente na morte do Santo.

Santo Agostinho, São Gregório de Tours, Santo Hilário, São Gregório Nazianzeno, Santo Alberto Magno, São Tomás de Vilanova e outros são de parecer que João morreu efetivamente, mas que seu corpo foi tirado da terra e que agora vive, como Henoc e Elias, para voltar no fim dos tempos a fim de pregar às nações.

Essa foi a lindíssima morte de São João. Não morreu por doença, nem mesmo por velhice, embora tivesse chegado a uma extrema velhice, mas por uma, como que, deliberação de morrer.

Ou seja, ele tinha conhecimento de qual era o momento em que morreria e sabia que devia morrer num ápice de amor. Não de um amor sentimental e tolo, mas como nós entendemos o amor ao absoluto. O Apóstolo virgem morreu num apogeu de amor ao absoluto, de amor a Deus, que é a personificação de todas as coisas belas, grandes e nobres; ou por outra, da beleza, grandeza e nobreza existentes nas coisas que Ele criou. Então, nesse ato de amor a Deus, ele ia morrer.

Flávio Lourenço
Pregação de São João Evangelista na véspera de sua morte – Igreja de São Lourenço de Morunys, Espanha

Com certeza São João Evangelista morreu de amor, como Santa Tere sa de Jesus. Foi tão grande a plenitude do amor que o corpo não suportou mais a pressão desse amor e a alma se destacou dele. De maneira que ele foi para a sepultura como um homem são. Chegou lá, colocou o seu manto dentro da sepultura, depois ele mesmo entrou e deitou-se ali, e começou a morrer. Já pertencendo mais ao mundo dos mortos do que dos vivos, ele começou a rezar. Seus discípulos, em torno da sepultura, choram e rezam. Choram porque vão perder o mestre, mas, de outro lado, rezam por causa da grandeza incomparável da cena a que estão assistindo. Então, uma luz desce do céu e cobre São João Evangelista. Essa luz é, evidentemente, uma graça do Céu, é uma ação especial de Deus, que o envolve todo e ele morre dentro dessa luz, banhado por essa ação de Deus.

Em algum lugar, São João exerce seu ofício de medianeiro

Seu corpo é visto pelos discípulos – Catarina Emmerich o vê – destacando-se, como se ele mesmo saísse de dentro de um invólucro. Mas depois, numa região que lembra muito a doutrina da mediação, ele fica pairando no ar e todas as graças são dadas a ele para serem distribuídas, e todos os pedidos lhe são encaminhados para levá-los a Deus, naturalmente com Nossa Senhora como intermediária.

São João ressuscitado, com seu corpo glorioso, fica nesse lugar onde seu corpo vai juntar-se também, à maneira de Henoc e de Elias, que também estão num ponto desconhecido, mas da Terra. E nesse alto lugar, o discípulo amado exerce seu ofício de medianeiro. Ele então paira sobre toda a humanidade e sobre ele paira Nossa Senhora.

Flávio Lourenço
A alma do Apóstolo Virgem sobe ao Céu – Igreja de São Lourenço de Morunys, Espanha

Também não é impossível a hipótese levantada por Anna Catarina Emmerich de que esse lugar seja o mesmo de Henoc e de Elias e eles tenham, portanto, a alegria e a honra incomparável de conversar com São João, de ter com ele um convívio, um contato no qual, com certeza, o Evangelista conta a Elias, que foi, por assim dizer, o fundador, o grande precursor da devoção a Nossa Senhora, ele conta a Elias todas as maravilhas de suas relações com Nossa Senhora. Assim prepara o Profeta para o resto da missão terrena que ainda deve exercer.

A figura de Henoc é muito misteriosa, pouco se sabe a respeito dela, mas naturalmente, se é verdade a hipótese que eu levanto, também São João prepara Henoc para sua volta.

E assim, quando nós recebermos Henoc e Elias, receberemos dois profetas que privaram milhares de anos com São João Evangelista e que trazem as mais sublimes doutrinas, os conhecimentos mais extraordinários.

Agora, eu pergunto: não será que Henoc e Elias têm a missão de revelar coisas que São João Evangelista lhes contou? Não será que muita coisa oficiosa – nunca pertencendo à Revelação oficial, é evidente – poderá ser comunicada nessa ocasião e encherá de júbilo os fiéis dos últimos tempos, e dará à Igreja um conteúdo de doutrina, uma perfeição de conhecimentos incomparável?

Flávio Lourenço
Visão de São João na Ilha de Patmos – Museu Diocesano, Santarém, Portugal

É algo que nós podemos e devemos admitir, e a nossa piedade deve se comprazer. Não quero dizer que devemos admitir como coisa certa, mas como possível, pois é uma dessas hipóteses piedosas que fazem bem à alma e a verdadeira piedade recomenda cultivá-las.

Pedidos ao Apóstolo amado

Assim, nesta festa de São João Evangelista, cabe-nos fazer a ele um pedido, ou melhor, ele é tão grande que vários pedidos poderíamos fazer.

Um primeiro pedido é a graça da devoção a Nossa Senhora. Que ele nos dê uma participação de sua devoção a Ela; dê uma devoção cheia de conhecimentos arcanos, transcendentais, que poucos conhecem, mas que as almas piedosas podem conhecer com o auxílio da graça de Deus.

Em segundo lugar peçamos que ele, como modelo de pureza, alcance para nós aquela pureza transcendental que ele também teve.

Em terceiro lugar peçamos aquele dom de intimidade com Nossa Senhora e com Nosso Senhor como ele teve e que caracterizou sua vida de piedade por uma nota, ao mesmo tempo de suprema veneração, de proximidade e de aconchego, fazendo com que essa relação fosse sumamente reconfortante. É, portanto, uma piedade toda ela imbuída da virtude da confiança.

Que Nossa Senhora nos dê, por intercessão de São João Evangelista, esta confiança cega n’Ela, de tal maneira que se uma graça nos é necessária, saibamos que, pedindo por meio d’Ela, nós obteremos, ainda que seja o apaziguamento do azeite ardente das tribulações, das contrariedades e das provações das quais toda alma se reergue com o apoio de Nossa Senhora.

E, por fim, imploremos esse admirável amor do absoluto, que fazia dele o Apóstolo amado. Ele amava Nosso Senhor porque era O Absoluto, e O Absoluto o amava porque se sentia amado por ele.

Essas são as graças que nós devemos pedir a São João Evangelista. Que ele seja nosso altíssimo mediador perante Maria Santíssima e que nos obtenha d’Ela todos esses favores e todos os outros que Ela, na sua imensa misericórdia, queira nos outorgar: a nós todos que estamos aqui, a todos os membros do movimento; a todos aqueles que dentro do movimento estão particularmente tentados ou provados, sofrendo dificuldades especiais; e àquelas almas com vocação, que perambulam pelo mundo até virem pertencer a nós e que passam por tantas tentações e tantas dificuldades.

Para todos esses, que Nossa Senhora obtenha, conceda, no dia de São João Evangelista, dons prenunciativos dessas enormes graças das quais acabo de falar.

(Extraído de conferências de 5/5/1966, 27/12/1966, 9/4/1971, 22/3/1989)

1) Não dispomos dos dados desta ficha.

2) Idem.

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