jueves, noviembre 21, 2024

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O esplendor do pequeno

Há um pulchrum verdadeiro, digno na ordem do ser, que precisa ser compreendido: é o que tem a beleza e as excelências de tudo quanto é pequeno. Descobrir e contemplar o pequeno maravilhoso é um dos melhores meios de prevenção contrarrevolucionária.

Faz parte da excelência divina criar o maior e o menor. Isto é necessário na Criação, porque se Deus criasse um único ser ou seres iguais, as perfeições d’Ele não estariam representadas de modo adequado.

Charles J. Sharp (CC3.0);Julio Alcantara;J.P. Braido;Nilson B.;

Excelências em ponto pequeno

Sendo assim, o Criador Se espelha no menor de um modo diferente do que no maior. É inegável. Há um enriquecimento da obra d’Ele na qual se estabelece, com seres desiguais, uma ponte entre estas duas extremidades: o máximo e o mínimo. Isso dá uma ideia da excelência, da santidade, do poder de Deus.

Há vários lados por onde se pode perceber no pequeno ser ele, a vários títulos, uma clave para a apresentação do belo. O pequeno representa aos olhos de Deus uma perfeição própria e insubstituível dentro da ordem do universo.

Deus fez na natureza determinadas espécies em modelo grande e em pequeno. Por exemplo, a onça, a jaguatirica e o gato. Ele teve a intenção de que alguma excelência da espécie felina aparecesse melhor em modelo pequeno.

Há o galo e o garnisé. Pode-se imaginar um galo clássico do gênero do Chanteclair; entretanto, o garnisé possui tudo dele, mas em ponto pequeno. Seria muito falso dizer que isto é assim nesta terra de exílio, porque no Paraíso todos os galos são do mesmo tamanho. Seria um pesadelo!

Nas flores há também um mundo de edições mignon, que têm um modo de deixar ver uma excelência da espécie que o tamanho grande não deixaria ver.

J.P. Braido / Gabriel K. / J.P. Ramos

Auges manifestos nos pequenos

Poderíamos nos perguntar que forma de excelência aparece melhor no menor. Ao contrário do que pensa o comum dos mortais, o sumo por vezes se manifesta mais no pequeno do que no grande. Sobretudo certas formas de auge, porque nas perfeições de Deus isso não é assim e elas todas podem se manifestar em ponto infinito. Os extremos harmônicos, para refletirem adequadamente as perfeições de Deus, precisariam espelhar-se, porque eles são tão contrapostos que não cabem numa criatura ou numa espécie.

De modo que é preciso representar as perfeições divinas em variedades diferentes da mesma espécie. E certo tipo de excelências de Deus se exprimem melhor no pequeno do que no grande, porque, postas fora de Deus, elas são tão grandes que perturbariam a ordem se não se exprimissem também no pequeno.

Jean-Pol GRANDMONT (CC3.0)
Shani Evenstein (שני אבנשטיין) (CC3.0)

Uma grande borboleta azul, uma cidade calçada de rubis

Consideremos uma borboleta azul e prata. Aquele colorido da borboleta é esplêndido; ao menos a mim exerceu sempre um verdadeiro fascínio. Mas, se virmos aquela cor sobre uma superfície muito grande, ela perde a beleza. É porque é uma forma tão magnífica de grandeza que ela fica meio incompatível com a condição de criatura e fica meio almanjarra se ela não é representada no muito pequeno.

Imaginem uma cidade calçada de rubis. Eu, que sou entusiasta deles, ficaria enjoado daquela abundância de pedras maravilhosas, pois não está na ordem do criado levar a maravilha além de um certo ponto.

A excelência de Deus exposta na pedra preciosa ou na asa de uma borboleta ou no beija-flor e outras coisas do gênero, é uma excelência tão excelente que, ligada a qualidade superquintessenciada à quantidade, temos algo que vai além da medida da ordem do criado.

O pequeno maravilhoso é uma maravilha tão grande que não poderia ser senão pequena, dentro de determinadas ordem e valor de medidas.

Pierre-Yves Beaudouin (CC3.0)
Lionel Allorge (CC3.0)Jean-Claude Chambellan Duplessis (CC3.0)Samuel H. Kress Foundation (CC3.0)

Dois modos de viver e de pensar

Esta é a grande conclusão contrarrevolucionária.

Tese revolucionária: só visando o máximo o homem se realiza; apontando o pequeno ele não se realiza nunca.

Tese contrarrevolucionária é: para o homem chegar ao extremo limite de si mesmo, não é necessário visar o máximo, porque ele pode ser uma maravilha sendo pequeno; e uma grande civilização é grande não porque tem apenas muitos homens que fazem o máximo, mas é também porque tem muitos homens que fazem de modo exímio o pequeno.

O máximo da ordem seria a coexistência do auge do grande e do esplêndido do pequeno.

Assim se chega à seguinte conclusão: é um erro querer empurrar todo mundo para ser máximo. Há homens que são de uma condição pequena e nascem para serem máximos, isto está muito bem. Mas a grande torrente de pessoas nasce para ser o máximo no âmbito de sua ordem.

Um pouco à maneira de Deus

Dou um exemplo discreto. A marcenaria atingiu nos três últimos “Luíses” de França excelências do outro mundo não atingidas anteriormente. Isso considerando também do lado prático, porque é sabido que nos móveis daquele tempo as gavetas não se empenavam nunca, e isso é um esplendor do pequeno.

A estabilidade daqueles móveis é tal que não racham, não se decompõem, não abrem fresta, vão até o fim. Modestas excelências, que eu não poderia chamar de artísticas, mas artesanais, uma grandeza da marcenaria daquele tempo. É uma pequena qualidade, mas que representa um papel insubstituível, magnífico, na ordem real da marcenaria.

Entretanto, o homem capaz de fazer a gaveta que não empena, de acordo com os padrões de hoje, quereria ser artista e estudar numa escola de marcenaria para trabalhar em uma fábrica de móveis de luxo. Naquele tempo não: ele, o avô e o bisavô fazem gavetas que não empenam.

Isso leva a um outro ponto que é o seguinte: às vezes, a coisa é feita mais para o homem, não perante Deus. Porque há formas de pequeno a respeito das quais o homem sorri comprazido, dominador e protetor, e são feitas para o homem se sentir um pouco à maneira de Deus em relação àquelas coisas e sentir aí a sua própria dignidade.

Prevenção contrarrevolucionária

Poderíamos fazer – sem o aspecto pejorativo da palavra – uma “micrologia” que seria exatamente o micro visto do lado não micro.

Há um pulchrum verdadeiro, digno na ordem do ser, que precisa ser compreendido. Fazer a propaganda do pequeno belo, enquanto pequeno para os pequenos, é, a meu ver, um dos melhores meios de prevenção contrarrevolucionária.

De fato, para efeito de luta, acho indispensável. Eu gostaria que nós tivéssemos algumas pessoas capazes de estudar e descrever a excelência e a honorificência ligada ao esplendor do pequeno. Em outros termos, o que há nisto de grandeza, e espalhar isso por todo o mundo, parecendo não ter uma intenção de luta, mas quando a propaganda revolucionária entrasse, a pólvora já estaria molhada…

(Extraído de conferências de 13 e 14/4/1978)

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