jueves, noviembre 21, 2024

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Um padroeiro para os imperfeitos

Francisco Marto é um modelo da esperança para todos aqueles que não se sentem bastante fiéis. É um padroeiro para os imperfeitos, para os que poderiam se desesperar por estarem tristes consigo.

A aparição de Nossa Senhora de Fátima foi muitas vezes comentada entre nós. Mas, dentro dos riquíssimos pormenores deste assunto, não poderíamos encontrar mais algum fato que servisse para nossa edificação espiritual?

Há um fato muito interessante e que pode nos servir.

Os graus de interlocução

Numa interlocução com alguém, podemos considerar três graus. O grau mais perfeito é quando vemos o interlocutor, ouvimos e falamos com ele. Há um segundo grau, menos perfeito, em que vemos e ouvimos o interlocutor, mas não falamos. E há um terceiro grau, menos perfeito ainda, quando só vemos, não ouvimos nem falamos. Estes são os três graus decrescentes de uma interlocução.

Ora, a Santíssima Virgem, em Fátima, teve esses três graus de interlocução. Porque Lúcia A viu, ouviu-A e falou com Ela, tendo a plenitude do contato com Nossa Senhora. Jacinta A viu e A ouviu, mas não falou com Ela, apenas presenciou. Francisco não ouvia nem falava, apenas via.

Nossa Senhora estava descontente com algumas imperfeições dele. Por causa disso, sem lhe cancelar o inestimável dom de participar das visões, barrou-lhe dois pontos: ele não pôde ouvi-La nem falar com Ela.

Durante essas visões, Francisco se converteu. Não quer dizer que ele fosse um pervertido, mas era relaxado e estava em condições menos perfeitas. Entretanto, Nossa Senhora teve pena dele, converteu-o; ele se tornou um menino exemplar, pediu muito perdão por todas as imperfeições que teve e morreu como um santo.

Um ensinamento de vida espiritual

Não me recordo dos pormenores da conversão dele, mas me lembro que, quando a li, fiquei impressionado e em meu espírito veio a seguinte ideia – eu ainda era muito moço naquele tempo: “Será mesmo possível uma pessoa mudar tan to quanto ele? Há conversões, afervoramentos assim?” Estou falando intencionalmente em conversão de afervoramento. Francisco era uma pessoa pouco fervorosa por alguns aspectos e se tornou depois muito fervoroso.

Um esquema da vida espiritual de Francisco: primeiro, grande chamado; segundo, correspondência medíocre; terceiro, imensa misericórdia, não foi barrado; quarto: entretanto, não deixou de perder algo; quinto: Nossa Senhora depois lhe deu tudo, porque ele se uniu a Ela no Céu como se tivesse sido fiel durante todo o tempo. Estas são as cinco notas dominantes da vida de Francisco.

Há uma outra nota colateral a essas e que é o melhor sorriso de Nossa Senhora, porque isso tudo indica a sua misericórdia: aos que Ela chama, e que não sejam, talvez, bastante fervorosos, Ela pede uma plena entrega. E, apesar de ser a Mãe da misericórdia, Ela não é nem um pouco mole.

Punido, mas não excluído

Pode-se imaginar tudo quanto Francisco perdeu em não ouvir Nossa Senhora, em não poder falar com Ela? Ouvir o seu timbre de voz… O que é receber na alma as mil graças através do timbre de voz da Mãe de Deus?

Para dar uma pálida ideia, imaginem qual a infelicidade de um homem que nunca ouviu música sacra, apenas profanas. Como seria de horizontes limitados! É muito melhor ter ouvido somente música eclesiástica e nunca todas as profanas, a ter ficado privado na sua alma do conhecimento desse valor maravilhoso que é a Igreja cantando. Pois bem, se o canto da Igreja tem tanta expressão e faz tão bem à alma, o que pode fazer para a alma o timbre de voz de Nossa Senhora? Ele traz consigo a modulação de todas as virtudes imagináveis, num grau muito maior do que se pode ou se possa imaginar!

Vê-se, portanto, a enorme perda que Francisco teve. É natural, é legítimo sermos mais sensíveis à ideia da privação de ver Nossa Senhora. Porque ver é mais cognoscitivo do que ouvir, debaixo de certo ponto de vista. Mas, por tudo quanto se perde não vendo, pode-se calcular algum tanto do que se perde não ouvindo. Ele foi punido, mas com quanta maternal bondade! Ele podia ser excluído e, entretanto, lhe foi dada aquela maravilha: ver! E recebeu as graças enormes decorrentes do ver. Mais ainda: no ver, ele se converteu; no se converter, ele amou plenamente e alcançou a graça das graças de uma plena fidelidade e da morte perfeita. Ele obteve a graça da santidade.

Como Francisco, também serei perdoado!

Nisso, que foi como uma lágrima de Nossa Senhora, brilhou um sorriso. Francisco foi o padrão, o modelo, o exemplo da esperança de todos aqueles que, chamados, não se sentem bastante fiéis; têm preocupação quanto à fidelidade que tenham tido e têm medo do dia no qual a Providência baterá à porta de suas almas, e eles também não verem ou não estarem presentes.

Nossa Senhora constitui assim, para os imperfeitos, um padroeiro cuja oração é a esperança daqueles que poderiam se desesperar por estarem tristes consigo. Aquele que foi chamado e foi infiel, em parte foi punido, em parte, entretanto, foi aceito, convertido e chamado ao Céu, tornando-se um ânimo para os que estivessem nas mesmas condições dele na Terra.

Assim, se alguns se encontram na situação de Francisco têm todas as razões para bater no peito, e no dia de Nossa Senhora de Fátima, pedir- Lhe, por meio desse vidente, que ponha na nossa alma uma esperança viva: como ele, também eu poderei ser perdoado!

Maria Santíssima deu-me a glória, a mercê de ser devoto d’Ela e de conhecer a Causa contrarrevolucionária. Eu vi, mas – hélas! – ouvi menos do que deveria? Será que a voz da graça eu ouvi com alguma surdez?

Que Nossa Senhora me cure dessa surdez, para aproveitar inteiramente a presença e o calor daquilo que me foi dado ver; para ser, eu também, perdoado por completo; para ser fiel nos dias dos castigos preditos por Ela em Fátima, como Francisco o foi no momento da morte. Para ser um santo como ele e rezar no Céu por todos aqueles que, à maneira minha e à maneira dele, se arrastam e cambaleiam pelos caminhos da fidelidade, até o momento de a Mãe de misericórdia ter pena de nós.

(Extraído de conferência de 13/5/1970)

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