A morte tem dois aspectos, um é biológico. Durante toda a vida, luta o homem para que o seu corpo não se deteriore: banhos, perfumes, unguentos, remédios, artifícios da higiene e da medicina, tudo é empregado para dar ao corpo uma aparência de vida perene e incorruptível. Vem a morte e patenteia a realidade mais recôndita e caraterística deste corpo: transforma-o em lixo. Por este aspecto, a morte é sórdida, repelente.
Ela tem outro aspecto, que a torna o fato mais notável e, em certo sentido, mais augusto de toda a vida, pois arranca o homem da vulgaridade quotidiana e o coloca face a face com o tremendo mistério de sua eternidade, patenteando que a vida de todo ser humano é uma epopeia, frustrada ou realizada.
Assim, a morte se alça acima do que ela tem de sórdido e repelente. Mais do que isso, a sua própria sordidez contribui para torná-la mais grandiosa, na sua trágica magnificência. Quem não percebe que aquilo que mais pode dignificar e enobrecer o homem, o heroísmo, tem íntimas afinidades com a morte?
Por esta razão ela tem sido cercada de solenidades sombrias e de pompas cheias de gravidade. A Igreja, de um modo todo especial, pois foi ela quem revelou à humanidade o sentido mais profundo da vida e da morte, deu às comemorações fúnebres o mais justo e apropriado esplendor, não só pelo sufrágio das almas, como pelas lições que apresenta à meditação dos fiéis.
(Extraído, com adaptações, do Legionário n. 544, 10/1/1943)