A partir de uma compreensão profunda da grandeza de seu fundador, o Sr. João Clá passou a fazer o apostolado do entusiasmo, constituindo-se num facho de luz do qual vivia o Grupo. Isso lhe valeu tornar-se objeto da incompreensão, da inveja e até do ódio por parte de alguns daqueles sobre os quais espargia sua benéfica influência.
Em relação ao fundador, o João tomou uma atitude que, de um modo público e notório, por essas ou aquelas razões nunca ninguém havia tomado: falar com um discernimento dos espíritos sentido em si e comunicá-lo aos outros. Ele agiu assim com um resultado muito bom, e o fogo dessa estrela teve o seguinte histórico.
Luta contra os medíocres
O grande mérito do João Clá foi o de fazer apostolado sobre a pessoa do fundador, sempre baseado na Doutrina Católica, apresentando a questão em termos canônicos, com profundidade, seriamente, e apontando os aspectos que em mim eram dignos de elogio, razão pela qual ele passou a ser combatido dentro do Grupo. Vendo-o agir, muitos ficaram furiosos, usando escusas para atacá-lo.

Ora, por que esse empenho e esse desejo de criticar o João e de investir contra ele? Em larga medida porque ele é um espírito absoluto. Ele toma, por exemplo, a pessoa de mamãe e a põe numa altura que, no conceito desses objetantes, ninguém tem, não pode ter nem é desejável que tenha, porque a vida não é assim. Há, segundo eles, um certo limite de mediania que não é lícito a ninguém nem a nada exceder, o qual, se ultrapassado, desagrada ainda que seja magnífico. É um sistema de pensamento, um vício de ser pequeno e de nunca encontrar nada de desmedido no caminho.
Eles não são somente contrários a que se tenha entusiasmo para com alguém; para eles não se pode ter entusiasmo por nada e a vida precisa ser cômoda. E como o apostolado do João é justamente o oposto, daí o ódio e a perseguição sistemática.
Os que lutaram no Grupo contra essa graça cometeram um erro de uma gravidade enorme. Receio que, com minha morte, esses destruam a obra do Sr. João Clá.
Queixas dos que dão importância às bagatelas
Aqueles que não veem e não querem reconhecer o que o João faz, muitas vezes se queixam do trabalho dele… Não recebo cartas anônimas, mas queixinhas; um ou outro me diz, até com respeito: “Dr. Plinio!… Fulano, de tal êremo, fez tal coisa”; “Um ‘enjolras’ passou perto de mim e não me cumprimentou!!! A mim!?” É um estampido, um Vesúvio que estourou! E daí para fora. Percebo muito bem que, se é para massacrar o João, minha autoridade vale enormemente, usam dela como se fosse feita de propósito para isso!

Um veio com a objeção de que no Grupo há gente que não tem gosto pelos estudos, mas parecia endereçado contra os “enjolras”. Eu pus os pingos nos “is” afetuosamente. Outra censura que fizeram: “O Sr. João Clá não se presta para o cargo, porque ele os faz marchar como sargentões, e a verdadeira marcha militar é diferente”. São bagatelas que, se eu disser que não têm importância, dá em inconformidade. Ora, não posso afirmar terem importância, porque não posso mentir.
Entusiasmo que causa protestos
Ainda hoje alguns se opõem aos “vivas!” e criticam a claque que se faz nas Reuniões de Recortes, sem a qual elas se tornariam necrotérios! Como seriam ouvidas se não fossem as exclamações? Elas sucedem a quarenta anos de silêncio, interrompido na maioria das vezes por quem se levantava para fazer objeções sobre pormenores. Se eu tivesse atendido ao desejo de alguns de acabar com as aclamações, as reuniões teriam ido água abaixo. E, ao término delas, o único comentário seria: “Está chovendo?”
Ora, é possível ter uma opinião atuante sem claque? Qual a organização no mundo que não tem a sua? Para o auditório me conhecer bem, há necessidade de que os ouvintes saibam aproveitar os recursos que eu tenho, ver na minha linguagem e no conjunto de meu modo de ser os adornos dos tempos de outrora e degustá-los. Para tal, é preciso organizar aplausos dos que entendem minhas palavras, de maneira a chamarem a atenção do auditório para os pontos-chave. O aplauso faz, para o que eu digo, o papel do pedal aumentando o som do piano: ele não deforma a nota, mas lhe aumenta a sonoridade.

Não perguntei ao João, mas é possível que vez ou outra ele faça algum sinal para aplaudirem, porque os “enjolras” nem sempre discerniriam qual o verdadeiro momento de aplaudir, e o João o discerne superiormente bem. É como acionar o pedal do piano em determinado trecho. Ou mais, é a magnífica ajuda do órgão e do canto em certa parte de uma cerimônia religiosa, para realçar a carga emotiva que deve acompanhar aquela situação. A pergunta é: se não é lícita uma liderança emotiva organizada, não é lícito valer-se do cântico e do órgão durante a liturgia?
Não se justifica que num auditório, reunido pela simpatia a uma obra em cujo frontispício estou eu, discursando temas que suscitaram aquela simpatia – porque é em torno desse pensamento, dessa orientação que eles se congregaram –, eles tivessem atitude de funeral! Isso é a vergonha do orador. Ora, eu poderia dar ordem ao João de não determinar nenhum aplauso naquele auditório? Para quê? Para chegar ao mesmo funeral? Seria mais perfeito que não fosse preciso; mas suprima os aplausos e se tem o ronco. Um dos dois ruídos se faz ouvir. E, por uma coincidência curiosa, os que mais roncam são os mais contrários ao entusiasmo.
E é necessário dizer com certa tristeza: as exclamações provocam protestos; entretanto, se elas fossem feitas a quem protesta, este não sentiria aversão, mas as acharia um canto de rouxinol… O que faz ver bem não ser o partido do zelo que levanta tais reações. Não são elas motivadas pelo amor a Deus.
Invejam e cobiçam o poder, mas não querem empregar os mesmos meios…
Assim como há candidatos à Presidência da República, percebi, e há muito, que existem também candidatos para a direção do São Bento. Sei de várias pessoas que imaginam poder substituir o João Clá e que, se soubessem que ele morreu, seriam capazes de dar uma festa…
Esses candidatos se caracterizam pela seguinte nota: eles têm sempre o temperamento contraindicado para fazer o jogo do João, porque acham que nada é tão fácil quanto exercer a autoridade. Um homem com mau temperamento se orgulha em mandar: “Faça isto, aquilo, aquilo outro”. E pensa: “Eu tenho talento para isso e transbordo de desejo de exercê-lo. Esse João me rouba o cargo, ocupando-o perpetuamente. O remédio para essa perpétuité1 insuportável é Dr. Plinio mandá-lo para bem longe dos ‘enjolras’ que ele dirige; para o Himalaia, por exemplo”.
Várias vezes comentei com o João que, infelizmente, invejosos da obra dele não faltam; há quem tenha desejo de desenvolver um apostolado à maneira dele, ter a mesma influência e os frutos que ele colhe. Eles analisam, então, como o João realiza o apostolado e o que faz para obter resultados, e procuram aprender com ele o “pulo do gato”.

No entanto, vendo-o falar do fundador, não estão dispostos a pagar este preço, empregar o meio que ele emprega. Preferem não ter o tão cobiçado poder, a acompanhá-lo nessa pista, na qual ninguém ousa apostar corrida com ele. Há alguns – são filhos a quem eu quero – que mesmo se souberem ser este o preço para o Grupo adquirir a verdadeira estatura, se recusariam a tomar a atitude devida com relação ao fundador. Compreende-se o porquê: eles sentem que atrairiam sobre si a cólera do demônio que se volta contra mim com tanta ferocidade. Eles não desejam isso, porque suporia uma ruptura com o mundo que eles não querem ter. Assim, almejam alcançar o fruto, como um homem tenta morder o próprio cotovelo: vai dando giros em torno de si, mas não o alcança…
Uma obra notável, cercada de críticos que só veem defeitos
Alguém dirá: “Mas quer Dr. Plinio, quer o Sr. João Clá, têm os seus defeitos, seus pontos objetáveis.”
Com o João dá-se o seguinte: ele tem uma personalidade admirável – que é preciso saber admirar! –, qualidades muito salientes, ângulos que, a olho nu, não se compreendem bem em um primeiro momento; e digamos que tenha também, como todos nós, alguns pequenos defeitos. Estes dão pretexto para certas pessoas, em vez de aplaudirem as qualidades, irem com uma lupa, muitas vezes deformada e mentirosa, procurar examinar pontinhos escuros na obra do João e de quando em quando darem uma alfinetada ou uma sapecada nela. Dizem para ele não fazer isto ou aquilo, e tecem comentários sobre ele de uma injustiça flagrante. Isto me é impossível ver com bons olhos.
“Si iniquitates observaveris, Domine, Domine, quis sustinebit? – Se levardes em conta nossas faltas, quem haverá de subsistir?” (Sl 129, 3) Não há obra que não tenha algum defeito… Mas eu não compreendo como uma pessoa possa não concordar que a do João tenha qualidades notáveis muitíssimo superiores aos defeitos, os quais não obstam a que Nossa Senhora comunique por meio do João as graças d’Ela aos borbotões. Basta olhar quinze minutos para o pátio do Præsto Sum, basta encontrar qualquer eremita, e ver: tem a marca do João, uma marca sempre muito boa. Ora, quando os frutos são excelentes, não se pode ir metendo o machado na árvore sem pensar.

No que diz respeito ao João Clá, vale o princípio: se não se pode aplaudir uma pessoa porque ela é objetável por algum lado, a quem aplaudir nesta Terra? Com exceção de Nossa Senhora e São José – não falo do Menino Jesus –, quem ao longo da vida não tem defeitos? Quorum primo sunt ego – dos quais o primeiro sou eu, na atual lista das coisas.
Uma comparação: o lance de Verônica
A esse propósito ocorreu-me uma comparação: imaginem o lance de Verônica na Paixão de Nosso Senhor. Ela teve um ato de coragem ao interromper o curso dos acontecimentos e enxugar a Divina Face. Ora, é provável que esta atitude inesperada tenha sido objeto de comentários, murmúrios ou de muito sussurradas manifestações de acordo. É possível que uma mulher qualquer que estivesse ali cochichasse ao ouvido de outra: “Eu não vou com ela, porque ela não me cumprimentou bem hoje cedo”.
O que dizer a quem faça esse comentário? “Você não ama a Nosso Senhor Jesus Cristo”. Vamos admitir que Verônica, de fato, devesse ter sido mais afável com essa senhora. Mas isso vem em linha de conta depois de ela ter enxugado a Face do Redentor? Não era melhor não ter língua, do que usá-la para uma observação como essa?
De igual modo, no que diz respeito ao meu João e a mim, nós procuramos servir a Causa da Santa Igreja e de Nossa Senhora o quanto podemos. Numa época em que juntos procuramos servi-Las, se há uma regra de mútuo convívio que deve pairar acima de todas as outras é esta: ele está servindo e dedicando a vida a Nosso Senhor, a Nossa Senhora e à Santa Igreja; o que ele fizer a mim, de um jeito ou de outro no decurso disso, não tem importância nenhuma! Sou um cisco, um pó, un petit vermisseau et misérable pécheur,2 como afirmou São Luís Grignion de Montfort.
Quando eu não tenho valor, o que é feito a mim não pode ter importância; no centro está a Causa, só ela é importante. Se julgamos ter importância junto à Causa em cena, não entendemos o que ela é, temos de recomeçar tudo: nascer, voltar ao berço, crescer e viver outra vida…
A luz da qual vive o Grupo
No torrencial do meu coração, eu sou inteiramente paterno com o meu João Clá, com cuja obra estou muitíssimo satisfeito, até transbordar. Eu o vejo como filho, sou um pai para ele e o protegerei até debaixo d’água, contra o meu peito, como quem diz: “Quem bate nele, bate em mim”. É evidente! O Sr. João Clá recebe a todo instante manifestações deste meu contentamento, meu apoio que, aliás, é público no Grupo, notório, ostensivo. Eu me dedico e faço o que posso e que tem cabimento fazer por ele, porque é um facho de luz do qual vive o Grupo.
E a isto dou um valor, um alcance que não é exclusivista; não se pode dizer, portanto, que só dou minha atenção ao João, pelo contrário! Estou atento em ser muito amável e correto com todos, com qualquer um. Mais ainda: ao mesmo tempo que eu dou, de fato, todo o apoio ao João e ao que ele faz, também é verdade que mantenho de pé uma série de outras coisas que, sem isso, não estariam de pé.
Penso com os meus botões: “O principal mérito do João é ter restaurado algo sem o qual o Grupo provavelmente não existiria, e que mantém uma atmosfera que lhe dá respiração!”
Os rapazinhos novos se acendem num amor, num entusiasmo pela Causa e recebem graças nas quais é impossível não reconhecer um prolongamento daquelas que os mais antigos receberam quando tinham mais ou menos a idade deles. E, nesse sentido, o São Bento e o Præsto Sum aparecem aos olhos de todos como uma espécie de promessa e, ao mesmo tempo, de censura.

Ao ver os “enjolras” brilharem em certos sentidos, tem-se a impressão de que são donos de um jardim fechado no qual só eles podem entrar. Mas é preciso tomar em consideração que este jardim foi aberto primeiro para os mais velhos, e continua aberto com o convite da Providência: “Entrai e servi-vos desse banquete espiritual, porque sois os primeiros para os quais ele foi feito.”
Comovedora bondade de Nossa Senhora
Vê-se a caridade de Nossa Senhora para com os antigos. No momento em que eles empurram as graças que receberam, Ela não extingue o fogo, mas o acende em outras mechas, e diz: “Meus filhos, vejam, relembrem-se, procurem; o caminho está aberto”.
Não houve nenhum sinal do Céu, a Providência não enviou a eles Anjos, mas os fez discernir algo na atitude daqueles que deveriam ser os segundos ou terceiros continuadores deles, na sucessão genealógica do Grupo.
Há um lado maravilhoso nesse procedimento de Nossa Senhora, porque ainda estão sendo chamados por meio de um convite o mais afetuoso possível: “Se você não Me quer, farei com que essa chama se reacenda em outras velas. Embora na sua haja apenas o estado de comburência, não o de combustão, persiste um pavio luminoso e quente, há ocasião, há tempo! Venha meu filho! Venha!…”
Os membros antigos do Grupo que caminhassem nessa direção, ou ao menos aplaudissem, poderiam realizar uma esperança sepultada na alma deles e que não tinham coragem nem de conceber. Acabariam compreendendo ser algo factível, e que caberia a eles receber com humildade e entusiasmo a lição daqueles a quem deviam ensinar. E, recebendo-a, participariam das graças já com vistas ao “Grand-Retour”. Como misericórdia para eles, deveriam estar dispostos a se oferecer como vítimas expiatórias, simplesmente para obter que tal obra continuasse!
O que tudo isso tem de bondade é comovedor. É de fazer chorar as pedras, se elas pudessem chorar. É a luz que apela para eles. Ela não quer deixar de arder nos pavios onde se refugiou – seria um absurdo! –, mas quer reacender aqueles de onde foi expulsa. Que coisa bonita!
Um galardão a ser reconhecido
Donde minha modesta missão de conservar os pavios que Nossa Senhora ama e procurar, de todas maneiras, reacender-lhes as nostalgias santas, as confianças inabaláveis; segurar aqui, lá e acolá, fazer voltar à carga e insistir, estimulando-os o quanto possível, até os incríveis da paciência, da bondade, da condescendência.
Alguém dirá: “Mas o paralelo está forçado! Reduzir-nos a pavios em comparação com os rapazes…” Não estou comparando pessoas, mas situações; o objeto principal de minha atenção é a chama, não os indivíduos.
“Chama” é um modo de referir-me à graça de Deus, em relação à qual somos pavios. É preciso não esquecer até onde Nossa Senhora levou a misericórdia d’Ela, a ponto de acender as novas velas com o intuito de reacender todos os pavios em estado de comburência, mas reconhecer este galardão: Ela quis que o canal disto de tal maneira fosse o veio aberto pelo João que, enquanto não houver uma conexão com esse veio, os pavios não acendem.
1) Do francês: perpetuidade.
2) Do francês: vermezinho e miserável pecador.