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Fonte de todo êxito e tranquilidade

Nada confere verdadeiro equilíbrio e verdadeira paz como a perspectiva do dever cumprido, da dor sofrida, do infortúnio aceito, o qual vem ao encontro de todas as almas para fazer delas o lugar santo de Deus.

A tese fundamental do católico, do contrarrevolucionário e especificamente do homem da Idade Média é que a posição natural da vida do homem não é a de quem se diverte nem de quem ganha dinheiro. Essas são as posições artificiais.

Impostação fundamental e fecunda

Eu não condeno quem procure ganhar dinheiro; mas que se viva para esse objetivo ou se faça dos produtores de dinheiro os feitios de espírito culminantes da humanidade, eu considero simplesmente uma blasfêmia!

Sobretudo o aspecto fundamental é que, para o homem formado na boa posição medieval, a seriedade está, antes de tudo, em ver as coisas objetivamente como são, sem tirar nem pôr – portanto, com o que elas têm de grande, de augusto, de triste e, ao mesmo tempo, de estimulante – e fazer dessa realidade variada, complexa, o campo de sua contemplação. De maneira que todas as energias da alma se exercitem e se movimentem em face disso. Não fazer um mundo só de corre-corre à procura do trabalho, nem só de lazer, mas um mundo em que ambos ocupem um lugar pequeno, pois o importante é realizar um ideal, seguir a Nosso Senhor Jesus Cristo, santificar-se, batalhar pela virtude, pela Civilização Cristã, pelo Reino de Deus. Essa é a impostação fundamental na qual a alma encontra seu equilíbrio, a plena fecundidade de suas capacidades intelectuais e artísticas.

“Venci, fiz o que devia fazer!”

O problema de como considerar o sofrimento se pôs para mim nestes termos, quando eu era pequeno: por cima da alternativa sofrer ou não sofrer está a de dar certo ou não. Quem tem o espírito bem constituído prefere sofrer e dar certo a gozar e não dar certo. Em última análise, a frustração, o perceber que fracassou e não levou a vida que deveria ter levado é o pior sofrimento.

O que é dar certo? É ter vivido a vida como ela é, diante da verdade inteira. Se obteve êxito ou não, tem menos importância; se o que lhe competia fazer ela fez, isso é o que lhe dá tranquilidade.

O pressuposto de uma ideia moral está presente, mas não é propriamente a ideia moral, que é o seguinte: “Eu empenhei toda a minha vida dando tudo o que tinha. Se eu estava à altura do meu cargo e joguei aquilo que devia jogar, de todas as formas, na ordem objetiva dos fatos, fui um vencedor, porque o meio que eu possuía para isso era eu mesmo. Logo, eu venci, pois fiz o que devia fazer!”

Arquivo Revista
Dr. Plinio em novembro de 1983

Com efeito, há uma ordem real das coisas que se move, na qual estou e devo operar. Se operei tudo quanto podia, eu venci. Para quem sabe aquilatar as coisas, ter sofrido ou não é menos importante do que ter feito o que devia. Contudo, ao ponderar essa situação, pergunta-se: “Qual a importância de se ter sofrido?”

Da aceitação da dor brota a admiração

É importante ter sofrido, não é importante não ter sofrido. Porque se não custasse, não teria mérito. Na medida em que custou um sofrimento inevitável, que eu tenha feito o possível para evitar sem excesso de pânico, sem ter me prevenido contra ele como um louco, mas tomando todos os cuidados, e se mesmo assim ele veio para cima de mim, eu vou para cima dele! Se ele não veio, Deo gratias! Se ele veio e lutei contra ele, Deo gratias!

Isto é viver. Ter vivido assim até o fim corresponde a dizer: “Eu vivi!”

Se, por exemplo, eu morresse amanhã, morreria na tristeza dilacerante pela situação da Igreja, mas não seria a tristeza de quem olha para trás e diz: “Eu não fiz o que devia”.

Então, se a pessoa limpou todo o seu subconsciente da ideia de sofrer muito ou sofrer pouco para substituir pela ideia “Eu fui e fiz o que devia”, ela se torna dotada das condições próprias para ter todas as admirações.

Quem vive só para evitar a dor é incapaz de admirar. A admiração vem apenas daquele que se colocou a si mesmo nessa posição e, vendo um outro que faz o mesmo ou mais, fica admirado! E este não fica triste por ter feito menos do que o outro, desde que ele tenha feito o que deveria. E aí a alma se abre para a longa caminhada contrarrevolucionária.

Não tem ideia da vida nem do que é o homem quem julga poder passar por esta vida sem infortúnios. Pelo contrário, deve-se sentir uma espécie de alívio quando se percebe que sofreu, porque isso forma a história de um homem. O passado de uma pessoa é o que ela rezou, lutou e penou. Quando o indivíduo não deu esse contributo, os jornais podem publicar o que quiserem, o público pode até aplaudir, mas aplaude sem convicção, aquilo depois se apaga.

Para a alma que não está preparada para o infortúnio, o trabalho é uma atividade mais ou menos esportiva e a oração é uma prática sentimental. É como algumas narrações da vida dos Santos que apresentam aspectos muito bonitos, mas não contam os revezes pelos quais eles passaram. Ora, eles não teriam sido santos se não tivessem passado pelo infortúnio.

Portanto, devemos preparar nossas almas para o infortúnio, para o revés, para a provação; e enquanto não tivermos isso, nós nos iludimos e o apostolado que fazemos não dá resultado.

Vencendo o inimigo no lugar santo de nossa alma

Precisamos ter uma compreensão da necessidade do sofrimento, a preparação para a dor, entendendo que ela está no nosso caminho necessariamente e que, em última análise, nós valemos o que valemos nessa hora, não tem por onde escapar. Achar que em certo momento se dará um jeito… Há ocasiões em que se é colocado diante do infortúnio, ele pula em cima de nós e temos de aguentá-lo.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em dezembro de 1991

Tenho visto cenas assim na minha vida, mas às torrentes! Quem, conhecendo-me antes do desastre, imaginaria que eu haveria de terminar meus dias numa cadeira de rodas? Se há uma coisa não feita para mim é uma cadeira de rodas…

Nossa Senhora tinha me ajudado e minha alma estava pronta para sofrer. Não sei se um filho meu sofresse de repente um desastre assim, como tomaria essa tragédia… Eu receio pouco que ele se revoltasse, mas poderia dar nesta forma de revolta que consiste em dizer: “Eu não jogo mais este jogo, agora estou aposentado”. Com que facilidade podia dar nisso, sem falar em psicoses, neuroses, depressões, manias e nem sei quanta coisa!

Então pensemos nisto: a alma de cada um de nós pode ser um “lugar santo”. E desde que haja algumas almas, e até mesmo uma só que esteja inteiramente posta de acordo com essa perspectiva, de fato o adversário está perdendo a guerra, pois ali a Revolução não consegue nada.

Essa ideia de estar se salvando a si próprio, tendo salvo a própria integridade e mantido alto o estandarte enquanto a guerra continua, isso para mim é o centro de tudo. E o consolo que faria com que morrêssemos na tristeza, mas não agitados, seria o seguinte: “O ‘lugar santo’ em mim viveu até o fim! Nossa Senhora providenciará e aparecerá um outro. Mas isso não se apaga da Terra!”

(Extraído de conferências de 17/11/1983 e 4/2/1986)

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